Cultura

O BEIJO DA MORTE no Muro de Berlim é o grafite mais famoso do mundo

Às margens do Rio Spree se situa a East Gallery a maior do mundo com pinturas sobre a II Guerra Mundial e a Liberdade
Tasso Franco , da redação em Salvador | 15/10/2015 às 11:57
Leonid Brejnev e Erich Honecker os dois lideres do regime comunista
Foto: BJÁ
   Berlim é uma cidade encantadora nos dias atuais. Nada, no entanto, apaga a tragédia que foi a II Guerra Mundial, o bombardeio da cidade em 1945 e a divisão do pós-guerra pelos países aliados (EUA/Inglaterra/França) e a Rússia. 

  O emblema dessa divisão da Europa, o remapeamento entre Ocidente e Oriente (a Cortina de Ferro) foi o Muro de Berlim, uma construção feita pelos soviéticos a partir de 13 de agosto de 1961, no auge da 'Guerra Fria' e que dividiu a cidade e o país, literalmente.

   O muro cortava a cidade ao meio e tinha 166 km erguido no território da República Democrática Alemã (RDA), comunista, cuja sede era Berlim. No outro lado estava a Republica Federal da Alemanha (RFA) com sede em Bonn. 

   O muro nasceu após o Tratado de Varsóvia e foi instalado para evitar a fuga de jovens para o Ocidente estimada, só na década de 1950, em 330 mil. O fracasso do regime comunista, extremamente estatizante, fazia com que essas pessoas procurassem alternativas de empregos e melhoria da qualidade de vida na RFA.

   Depois do muro e nas tentativas de atravessá-lo a Stasi, a Policia Secreta da RDA, controlava os "checkpoints" - locais onde só podia atravessar autoridades, militares e algumas familias ocidentais - e também as dezenas de torres de vigia (estima-se 90.000 policiais nessa operação) e esses agentes estavam autorizados a matar jovens e outros que tentassem atravessar do Leste para o Oeste. Centenas de jovens foram mortos.

   O muro caiu em 9 de novembro de 1989 depois da politica de abertura de Mikhail Gorbachev (a Perestroika) e de uma série de protestos que foram acontecendo nas Repúblicas Socialistas Soviéticas - Polônia (a histórica determinação do Sindicato Solidariedade), Hungria, Checoslováquia, etc, exigindo suas independências. A reunificação das duas Alemanhas deu-se em 1990 e a primeira sessão da Assembleia Nacional deu-se no Reichstag, em 1999.

   Hoje, o Muro faz parte da história e há centenas de marcações no chão com pequenas placas metálicas, em diversas áreas da cidade, mostrando onde passava o muro. Na parte Oriental da cidade existe também 1.300 metros do muro de pé e que se transformaram na maior galeria ao ar livre do mundo, ao longo do Rio Spree - East Side Gallery, com obras de artistas de várias partes do planeta.
 
   É um dos locais mais visitados pelos turistas em Berlim. Todo mundo quer fazer uma foto ao lado do muro, dos dois lados - Leste e Oeste. Há outras rotas guiadas para se conhecer o que foi o muro, especialmente na rua Niederkirchner Strasse. E há, nas lojas de souvenirs, pedaços do muro sendo vendidos aos turistas, mas, na realidade são apenas uma lembrança porque irreais.

   O BEIJO FRATERNO OU BEIJO DA MORTE

   A pintura intitulada "O Beijo da Morte" é o grafite mais marcante e mais conhecido do Muro, pintado pelo soviético Dmitri Vrubel, inspirado em uma fotografia que existe, registrando um acontecimento em Berlin Oriental em 1979.

   A foto tirada por Regis Bossu foi quando Brezhnev, Secretário Geral do Partido Comunista Soviético, visitava a Alemanha Oriental para celebrar o aniversário da nação Comunista.

   Quando Brezhnev terminou seu discurso, o então Presidente da Alemanha Oriental Honecker, abriu seus braços para uma saudação com um beijo, comportamento habitual entre colegas comunistas, mas desta vez Honecker e Brezhnev foram além, e com todo o entusiasmo, deram um beijo mais “cálido”.

   Segundo Le Mag, Vubrel tinha 29 anos quando pintou a obra que se tornaria um símbolo da queda da cortina de ferro.

   “Fomos até ao muro, havia uma pequena cabana com tintas. Estava lá uma rapariga escocesa que me propôs um contrato. Ainda havia guardas da RDA no muro. Não me deixaram atravessar a fronteira. Mas mais tarde quando comecei a desenhar, deram-me água para as tintas”, contou Dmitry Vrubel.

   Vrubel nem sequer leu o contrato e pintou a obra em sete dias. Só mais tarde se apercebeu que tinha cedido os direitos à galeria.

   “Um dia pela manhã, eu ainda estava na cama e o meu amigo Alexander Bradovsky chegou e mostrou-me dois jornais. O Berliner Zeitung e o Neues Deutschland, o jornal dos comunistas alemães. O título era “Beijo Fraterno”. Foi assim que eles deram o nome à pintura” recordou o artista.

   Os jornais interpretaram o desenho à luz dos acontecimentos políticos mas não era essa a intenção do autor. O verdadeiro nome da obra é “Deus, ajuda-me a sobreviver a este amor mortal”.

   Mas, ao longo dos anos, o grafite ficou conhecido até nos dias atuais, como o "Beijo da Morte", o que selava o fim do regime comunista nessa parte da Europa. (TF)