Bahia

A VIOLÊNCIA NA BAHIA: LIDER QUILOMBOLA ASSASSINADA A TIROS EM TERREIRO

Liderança foi morta por dois homens na noite de quinta-feira; Ministros dos Direitos Humanos e Igualdade Racial pedem apuração e governador pede firmeza nas investigações. Filho dela também foi assassinado há 6 anos.
Tasso Franco , Salvador | 18/08/2023 às 07:27
Bernadete Pacífico morta a tiros
Foto: CONAQ

A liderança quilombola Bernadete Pacífico, de 72 anos, assassinada a tiros na noite de quinta-feira (17), na Região Metropolitana de Salvador, também era ialorixá, líder religiosa, da comunidade Pitanga dos Palmares, e coordenadora da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq).

Em julho deste ano, Bernadete participou, ao lado de outras lideranças quilombolas da Bahia, de um encontro com a presidente do Supremo Tribunal Federal, Rosa Weber, na comunidade Quingoma, em Lauro de Freitas, também na Região Metropolitana de Salvador. Na ocasião, ela denunciou ameaças e violências contra a comunidade quilombola. 

Mãe Bernadete, como era conhecida, foi secretária de Políticas de Promoção da Igualdade Racial na cidade de Simões Filho, onde fica o terreiro, durante a gestão do prefeito Eduardo Alencar (PSD) (2009-2016).

"É um crime de mando. Minha família está sendo perseguida", assim define Wellington, filho de Mãe Bernadete, assassinada em Simões Filho, na Região Metropolitana de Salvador. O crime aconteceu na noite dessa quinta-feira (17), no local onde a líder quilombola morava.

No momento do crime, ela estava acompanhada dos netos. Os criminosos entraram no imóvel onde funcionava uma associação. Segundo testemunhas, bandidos armados invadiram o terreiro, amarraram pessoas e executaram a tiros a líder quilombola. Os autores dos disparos usavam capacetes quando invadiram a casa de Mãe Bernadete e cometeram o crime. 12 tiros teriam sido disparados contra a líder quilombola.

Em entrevista à TV Bahia, Wellington cobrou investigação pela morte da mãe e também do irmão, Flávio Gabriel Pacífico dos Santos, mais conhecido como Binho do Quilombo, executado em 19 de setembro de 2017. "É um crime de mando. Eu não vou sujar minhas mãos de sangue. Eu vou deixar um recado para o ministro Flávio Dino e o governador Jerônimo Rodrigues, que estava com ela até a semana passada: está fácil de resolver esse crime. Eu peço por favor que se faça justiça. Que não aconteça o que aconteceu com meu irmão. É a chance de elucidar os dois casos", disse.

Ele disse ainda que o local é monitorado por câmeras, que podem ajudar a elucidar o crime. "Se a justiça quiser resolver, ela resolve. Eu sei que sou o próximo alvo. Mas eu não tenho medo não, eu só nasci uma vez e vou morrer. Vou continuar lutando pelos meus direitos porque quilombola é resistência", disse.

Wellington demonstrou indignação com a execução da mãe. "Você matou uma idosa, descarregou uma pistola no rosto de uma idosa. Você é ruim, um escroto e quem mandou matar é pior ainda. Quem mandou matar é um covarde", desabafou.
Investigação

Equipes das polícias Militar, Civil e Técnica estão em diligências para investigar o assassinato da ialoxirá e líder quilombola Mãe Bernadete. A informação foi divulgada pela Secretaria da Segurança Pública (SSP), nesta sexta-feira (18).

Na nota, a SSP informa que "após tomarem conhecimento do fato, iniciaram de imediato as diligências e a perícia no local para identificar os autores do crime". A secretaria pede que pessoas que tenham pistas sobre os autores informem à polícia, em sigilio, através do telefone 181.