Bahia

A VIDA EM MOVIMENTO: UMBUZADA DE MOACIR EM SERRINHA FECHA APÓS 61 ANOS

Moacir Guimarães, 81 anos de idade, está adoentado e fechou a Nana. Natural de Ichu, chegou em Serrinha jovem e é serrinhense de coração e tituto da Câmara
Tasso Franco ,  Salvador | 10/04/2023 às 11:12
Há uma placa no local com os dizeres: aluga-se este ponto
Foto: BJÁ

   No Manifesto Comunista, de Karl Marx e Friedrich Engels, há a expressão: "Tudo o que era sólido se desmancha no ar, tudo o que era sagrado é profanado, e as pessoas são finalmente forçadas a encarar com serenidade sua posição social e suas relações recíprocas". Trata-se, pois, de um conceito relacionado a uma época (século XIX) e que Marshall Berman escreveu uma obra com esse título "Tudo que é sólido desmancha no ar", numa análise crítica sobre a literatura. E muita gente usa essa frase - como estou usando agora - para citar uma mudança de comportamento e de vida.

   Em Serrinha, neste 2023, fechou a lanchonete Nana de Moacir Guimarães na Avenida Manoel Novaes, o comerciantes que durante 61 anos forneceu aos seus clientes uma umbuzada, de forma ininterrupta, todos os dias e meses do ano, de domingo à domingo, um sacerdócio.

   ​Moacir Guimarães, 81 anos de idade, natural de Ichu, só em 2014 recebeu o título de cidadão serrinhense conferido pela Câmara de Vereadores. 
Moacir está adoentado e nunca se zangou por isso, pois, se considera um 'serrinha' desde quando, jovem, foi morar com a familia na Serra e daí nunca saiu.

   Sua umbuzada era famosa em toda a cidade e já foi motivo de reportagem em canais de TV, está no livro "A Colonização portuguesa numa cidade do sertão da Bahia", de Tasso Franco, como figura popular e comentou em 2014, quando estive por lá, que, somente no ano de 2005, por um mero descuido, a umbuzada deixou de ser servida por 22 dias.

   No mais, pode ser na época do verão - própria dos umbus - ou na temporada de inverno; na seca ou no molhado; no Carnaval ou no Natal, todos os dias servia a umbuzada que custava R$3,00 o copo com 350 ml, em 2014. É claro que, pra acompanhar a umbuzada, Moacir tem todas aquelas guloseimas que existem numa lanchonete - pastéis, empanadas, bolos, etc - e aí vai vivendo a vida com sua familia, de domingo a domingo, sem se queixar de nada.

  Moacir é apaixonado por futebol e faz os mais disputados bolões esportivos da cidade. Nas paredes de sua lanchonete havia um mural com muitas fotos de jovens belissimas. Ele diz: "São minhas netas". Hoje, há uma placa de aluga-se o ponto. É a vida em movimento.