OS VINHOS DE JURA e outros vinhos pelo Brasil

Valdir Barbosa
09/03/2016 às 12:10
  Na derradeira sexta, 4, prepostos da Polícia Federal se preparavam para conduzir Luis Inácio, por ordem judicial, a fim de ser ouvido acerca de tantos descalabros que lhe são imputados, quando, depois de certo tempo sem visitar a Suíça Baiana, salto na Rodoviária de Vitória da Conquista. Um frio tímido me recepciona ao descer do táxi, frente à recepção da pousada, onde me abriguei pela vez primeira, quase quarenta anos atrás, no topo da Serra do Periperi.

   Acomodado no mesmo aposento de sempre assisto as matérias tratando do assunto que seria a tônica daquele 4 de março, ainda reverberando, entre discussões que pretendem considerar a propriedade ou não da medida coativa. Aprendi a respeitar todas as opiniões sobre quaisquer fatos, dos mais comezinhos àqueles de extrema gravidade, por isto, me permito opinar, mesmo sem pretender ser dono de verdades.

   Primeiro, é de lembrar que o ex-presidente se recusou a comparecer para prestar esclarecimentos, mediante evasivas recursais, em dois outros instantes, após ter sido intimado pelo Ministério Público paulista, aboletado na empáfia do pretenso poder ainda reinante, de quem se sente intocável.

   O Instituto da condução coercitiva é figura reconhecida no diploma pátrio, portanto, nada impediria que o Magistrado Moro provocado pelos órgãos investigativos tivesse deferido, como deferiu, a medida solicitada contra Lula, afinal era implícita, na observância das posturas anteriores, a intenção de buscar sempre que chamado à responsabilidade, condutas evasivas, numa clara demonstração de achincalhe frente a justiça, daquele que tem trono até na África. 

   Aliás, os fatos em ebulição, indícios veementes de praticas delituosas por ele praticadas poderiam, inclusive, fazer decretada sua prisão temporária.

   Pouco importa se são diferentes os palcos apuratórios, ao usar recursos deixando de cumprir intimações, para comparecer as audiências capazes de dar a qualquer suspeito, oportunidades de demonstrar sua inocência e até mesmo calar, caso queira, não cabem argumentos criticando postura mais enérgica da justiça. São meras firulas, na clara deliberação de obnubilar méritos, desta forma imagino.

   Mas, não é para falar sobre este assunto que me debruço sobre o teclado, afinal, instituições ligadas a administração da justiça do país estão cumprindo seu papel, certamente os culpados serão alcançados e os inocentes absolvidos, assim, conjecturas repetidas são mais interessantes aos que pretendem confundir e desqualificar os trabalhos pertinentes, do que à própria atividade.

   Vimos eu e Roberta participar da festa de aniversário da querida amiga, madrinha de nosso casamento, Juraci, carinhosamente conhecida por Jura, esposa de Rubens, donos do Los Pampas, sócios de toda a rede Sal e Brasa, com churrascarias instaladas em varias cidades da Bahia e do nordeste brasileiro, destarte, este é o verdadeiro motivo destas linhas.

   Na noite do derradeiro sábado, parentes vindos de toda parte e amigos que, como nós, fazem parte da história destes gaúchos construída nesta terra, distante da Nova Bréssia de onde vieram tentar a sorte, curtirmos momentos prazerosos embalados por generosas doses de Chivas, taças de Moet Chandom, copos com saborosas roscas coloridas, sob o som de musica alegre e contagiante.  

   Ladeados pelos filhos médico e engenheiro, Anderson e Frank, o casal recebeu convidados, no palco onde há quase trinta anos esta família de guerreiros labuta, sete dias por semana, trinta dias por mês, doze meses por ano, incansavelmente. O grande salão caprichosamente decorado, onde espetos corridos de carne bem preparada são servidos aos clientes cotidianamente, se transforma num ambiente festivo, entre mesas onde foram servidas finas iguarias e moveis onde repousavam lindas orquídeas, pratos sofisticados e doces especiais.

   Ao fim da noite, quando estrelas mais apressadas deixavam o céu sumindo nas bandas do oeste, a mesa onde sentamos ladeados por Nestor da Atlanta, Raul da Skin, Clesiu da Força Diesel, com suas fantásticas compartes, madames Sandra, Sheila e Carla, esta, diligente jovem colega de profissão, hoje titular da Delegacia de Tremedal, respondendo por Jacaraci, recebeu a aniversariante, esposo e filhos.
Enquanto os especiais funcionários da casa, que devidamente paramentados deram um show de atendimento e cortesia aos visitantes por toda a noite cuidavam de reordenar o salão, pois, no domingo já chegado, a luta diuturna do restaurante, cujo espaço foi transformado em especialíssimo ambiente de eventos retomaria seu curso normal, matamos saudades dos anos todos que voaram lembrando momentos significativos da vida destes antigos forasteiros, definitivamente incorporados a atmosfera social conquistense.

   Emocionamos-nos, ao escutar as confissões de Jura, sob os olhos mareados de Rubens e o semblante orgulhoso dos filhos, tratando das dificuldades dos primeiros tempos, frente as quais não se deixaram abater. Os desafios foram estímulos capazes de fazê-los mais fortes, no sentido de enfrentar e vencer obstáculos, ainda grávida de  Anderson, ela se acomodava com o esposo aonde podia no prédio, até construir a casa onde moraram por décadas, aos fundos do negócio, para engordar o boi com olhos atentos dos donos.

   Lembrei-me de algo que não consigo olvidar, comportamento apenas adquirido por aqueles que convivem, desde pequenos, com praticantes de posturas éticas e morais, fonte inesgotável de referencias positivas. Já universitários, quando os tempos das vagas magras já haviam ficado para trás, vinham os jovens, nos períodos de férias visitarem os pais. Àquela altura poderiam, na esteira das possibilidades adquiridas pela família e nas benesses merecidas em face das vitorias alcançadas nos palcos acadêmicos, curtir os privilégios vividos por tantos jovens nas mesmas circunstancias.

  Mas, assistimos todos, ano após ano, nas folgas escolares, os rapazes de bandeja à mão, servindo com humildade e satisfação aos frequentadores da casa, em meio aos demais fâmulos, obviamente estimulados por melhor atender clientes, na inspiração do exemplo vindo de bons exemplos.

   Hoje médico e engenheiro, em vistas de novos patamares intelectuais nas suas searas, Anderson e Frank sabem que receberam dos pais, a maior das heranças. Não se trata de bens materiais que um dia lhes caberá, são donos, pelos esforços de todos, de propriedade impalpável que ninguém lhes poderá tirar, o saber. Ademais, as riquezas que um dia possuirão deixadas em legado, não vieram por conchavos espúrios, fruto do prestigio de quem lhes pôs ao mundo, são resultado de trabalho duro e esforço sem medida. 

   Os imóveis de luxo que ocupam, aqui, em Salvador, as propriedades rurais, grandes sítios dos quais Rubens e Jura são possuidores, não pertencem a amigos, não foram reformados com dinheiro de terceiros em permutas ilícitas, lhes cabe por direito e por justiça, acerca dos quais nada tem por se envergonhar. 

  Os vinhos da sua adega não são rótulos milionários, mimos ofertados por quem não dá sem buscar trocas, portanto não lhes põe embriagados e enxovalhados por máculas e nodoas irremovíveis.
Os primeiros raios de sol clareavam a abóboda celeste, quando deixamos a família e nos retiramos na certeza de que o Brasil ainda tem jeito. 

   Agradecidos pela festa, mas, sobretudo, entusiasmados pela força destes exemplos dignificantes, pilares com poder de superar a energia negativa dos padrões perversos mostrados a sociedade tantas vezes, nesta época do agora, incentivando jovens incautos a viver surfando num mar de iniquidades, injustiças e desonestidades.

   Nada mais a declarar, apenas reiterar a você e aos seus, querida Jura, parabéns e votos de felicidades merecidas.