A doideira do Carnáforró em Camaçari, uma bagunça

ZédeJesusBarrêto
28/06/2015 às 18:36
 Enquanto rolava o forró de sanfona o clima no cercadão era de arrasta-pé, rala-fivela, bate-coxas familiares, viva São João ! Mas, depois do forrozeiro de raiz se apresentaria no palco uma banda ‘famosa’ de forró-romântico, aquela pegada de ‘sofrências’, meio safadão, quase Pablo. Ah, pra quê ? 

  De repente o cercadão ‘público e municipal’ foi invadido por todas as entradas e saídas, os muros e gradeados saltados, violados e derrubados por uma multidão descontrolada e bem equipada de bermudas largas ou mini-shortinhos enfiados, camisetas coloridas ou  tops, tênis de marca, cabelos engomados ou bonés ao contrário, correntões e celulares ‘dos bons’ à mostra, selfies a granel, ostentações variadas e muita disposição para a longa madrugada do agito, ‘é hoje, pai, que a gente se dá de bem!’.

   E haja tribos disputando espaço e trocando insultos, meninos exibindo poder, armas de fogo na cintura,  meninas  trocando socos, empurrões e falando aos berros, rapazes mijando ao vento sem pejo, adolescentes batendo e cheirando carreiras esticadas  nos visores dos ‘ipeides’, outros fumando a erva, alguns cachimbando pedras, sim, escancaradamente, quase todos bebendo latinhas, alguns tumultos aqui e ali sem mais nem quês, o empurra-empurra derrubando barracas, toldos, armações, comidas, mercadorias, artesanatos que estava à venda, grupos pisoteando crianças e idosos, uma gritalhada do cão, furtos do que estava à vista de bobeira, tantos roubos na tora e ameaças aos incautos, sós e desprotegidos, arrastões aqui e acolá, diversão à beça, todos a mercê ...  cadê o show, bróder?  
 Sim, pra onde foram ou se esconderam a segurança, o pessoal da coordenação do evento, as tropas policiais que ali estavam antes da ‘invasão’? Também, pra quê ? Seriam mesmo capazes de alguma atitude naquele mundaréu sem fim nem juízo de desencontros e alegrias? 

  Quem tentou sair a partir de um certo instante se deu mal, contra a corrente. Passava da meia-noite, a noite de São João. Os mais frágeis e menos ágeis restaram machucados no tumulto que parecia não ter fim. Viam-se e ouviam-se choros, feridos, lamentos, pedidos de ajuda e socorro, muitos agradecimentos a Deus e aos anjos da guarda por ter conseguido sobreviver e sair dali inteiros... pra nunca mais!

Na fuga, um engarrafamento a perder de vista de gente, muito mais gente ainda chegando. Caberia onde? E turmas de jovens da periferia, vindas de longe, de buzu, andando apressadas, todos falando alto e ao mesmo tempo, a fim de algo, a  qualquer custo, a vida é isso... É preciso aproveitá-la antes que acabe. 

Não é conto, é crônica; não é ficção, é uma quase-reportagem. Camaçari, 23/24 junho 2015. Nos noticiários, mídia impressa, rádio, tevê, redes...  nenhuma nota, imagens, registros. Isso é notícia, ainda? Vale alguma letra, uma reflexão?