MEMÓRIA: A morte de França, o radialismo e a politica, p TASSO FRANCO

Tasso Franco
02/08/2013 às 17:08
 A morte de Antonio França Teixeira traz à memória do rádio baiano um dos seus personagens mais polêmicos e líder de audiência em sua época (anos 1960/1980) com um estilo criativo, tiradas geniais e que marcaram época e serviram também de modelo para inspirar novos profissionais que chegavam ao mercado. 

   França, o qual popularizou a expressão "Ferro na Boneca" e criou tipos como "Seu Veneno" enredou pelo caminho dos radialistas que à guisa da fama se transformaram em políticos.

   Na Bahia, há uma distinção entre radialistas que chegaram ao parlamento e a cargos majoritários em função de suas trajetórias como locutores populares, também apresentadores de TV num segundo plano, casos de França e Fernando José, e aqueles que, embora tivessem iniciado suas trajetórias profissionais como radialistas, caso de Paulo Souto, este foi eleito governador da Bahia, em 1994, numa outra condição, já geólogo e vice-governador na gestão ACM, este, pela primeira vez eleito pelo voto direto a governador, em 1990.

   Há, ainda, o caso de Mário Kértész, o qual era técnico em administração e se transformou em politico, elegendo-se prefeito de Salvador em duas oportunidades, uma por nomeação de ACM e outra pelo voto direto do eleitorado.

   Depois que deixou a política partidária, ingressou no radialismo, em 1994, quando adquiriu o espólio da antiga Rádio JB da condessa Pereira Marinho. E, recentemente, em recaída politica, participou como candidato a prefeito de Salvador, nas eleições de 2012, pela legenda do PMDB, sem obter êxito em vitória eleitoral. 

   O certo é que o radialismo na Bahia (em outros estados também) tem uma relação íntima com a política, França foi deputado federal em duas oportunidades, a primeira levado por sua popularidade e pelas mãos de ACM, a quem chamava de "Pelé Branco das Construções", em 1982; depois, em 1986, pelo PMDB, sendo deputado constituinte (1988); Fernando José Rosa foi prefeito de Salvador (1989/93) também pelo PMDB e substituindo a Mário Kértész, numa articulação feita por Pedro Irujo que era bastante poderoso e dono da Rádio Sociedade da Bahia.

    Paulo Souto foi governador da Bahia por duas vezes, eleito pelo voto direto (1995/1998) e (2003/2006), há vários prefeitos na atualidade egressos do rádio, e na Assembleia Legislativa estão como deputados estaduais Carlos Geilson (PTN), radialista de longo curso em Feira de Santana; e Uziel Bueno, de Salvador, o qual cunhou um dígito à moda França "o Sistema é Bruto". Uziel, ontem, voltou a 1ª suplência com o retorno de João Carlos Bacelar.

   Diria, ainda, que tivesse Raimundo Varela mais impetuosidade, este poderia ter chegado a Prefeitura de Salvador e ao parlamento. Embora sendo o mais popular dessa nova geração pós França/Fernando José, com estilo bem parecido ao de Fernando, Varela não quis arriscar e ficou dependendo de um apelo mais articulado de ACM e este nunca lhe abriu as portas como esperava. 

   Daí que, temendo correr o risco de perder numa disputa majoritária (ACM era muito poderoso nas décadas de 1990/2000, Varela optou por se manter no rádio e na TV. Agora, fica mais difícil uma possível trajetória politica de Varela, pois, como integra a Rede Record, controlada pela IURD, há outros objetivos do pessoal da Universal sendo prioritário, numa majoritária como já aconteceu em Salvador, 2012, o bispo e deputado federal Márcio Marinho.

   Desses casos citados arriba, o mais impressionante foi Fernando José Rosa. Saiu do radialismo direto para a Prefeitura de Salvador sem passar numa instância intermediária no parlamento, em eleição primeira e única, quando Pedro Irujo aproveitou-se do vacilo de MK e do governador Waldir Pires na condução do candidato que parecia ser o natural da sucessão, Gilberto Gil, emplacou o popular Fernando contra Virgildádio Sena. 

   Foi um banho de votos. Nesta campanha, Virgildásio embora mais preparado do que Fernando no campo da politica estava desatualizado com a cidade. Fernando, popularizado com o bordão "Mato a cobra e mostro o pau" praticamente desmoralizou Virgildásio num debate na TV quando inventou um bairro da capital que estava carente de obras. E aí perguntou a Sena: - O que o candidato faria neste caso?
Virgildásio, sem perceber a armadilha que havia se metido, disse que "faria isso e aquilo", "que iria resolver a parada" quando, na tréplica, Fernando disse que simplementes aquele bairro, aquela localidade que colocara no debate não existia, mostrando, assim, que Virgildásio não conhecia a dimensão da cidade do Salvador, e, portanto, não estava apto a governar a cidade.

   Foi a pá de cal. Fernando foi eleito e depois do mandato se mudou para o Rio de Janeiro, após gestão a desejar, vindo a falecer, ainda jovem, de câncer.

   Ultimamente, o ex-prefeito João Henrique, outro autor de gestão medíocre na cidade, fez um curso de radialismo e está usando as ondas do rádio para tentar realavancar sua trajetória politica.

   Muitos candidatos a governador da Bahia, em 2014, também estão pendurados nas ondas do rádio para popularizar os seus nomes. Mas, entre todos os candidatos, salvo Paulo Souto, o qual diz que não quer, mas, nunca se sabe, não há radialistas.