Esqueçam a política: a revolução é na comunicação

Nara Franco
23/06/2013 às 16:21
Nos últimos dias li diversos artigos de muitos jornais e revistas, do Brasil e do Exterior. Um exercício de reflexão para digerir tudo que o país viveu nas últimas semanas. Fiz várias postagens no Facebook destacando o melhor que li por aí. Depois de muito pensar, deixei a política de lado. Na minha muito humilde opinião, para além da crise política, há uma crise de comunicação no Brasil. No papel de jorrnalista e profissional de comunicação, vou olhar por cima das brigas, dos gritos de menos corrupção, das alfinetadas (cansativas) entre PT e PSDB. Nosso maior problema é de comunicação.

O secretário geral da Fifa, Jerome Valcke, disse hoje em entrevista ao O Globo: "o governo não está sabendo comunicar o legado da Copa". Caro Valcke, o governo não está sabendo comunicar nada. Nadinha. Está encastelado nos bolsas isso, bolsas aquilo. No milgare econômico, na década de outro. Internet? Iiihhh ... isso é coisa de rico. Pois é. Ledo engano. Como disse Elio Gaspari, o monstro está na rua.

Quando Renan Calheiros assumiu a presidência do Senado num ato de deboche com a sociedade, 1,3 milhão de assinaturas foram colhidas via web pedindo sua saída. Renan riu. Dilma riu. Lula riu. Jogaram o abaixo-assinado no lixo. Quando Feliciano assumiu a Comissão de Direitos Humanos, num ato de deboche com a sociedade, milhares de pessoas pediram sua saída. Feliciano riu (ainda ri). Dilma riu. Henrique Alves também. E o monstro? Esse, não gostou. 

Novas demandas exigem novos comportamentos. O monstro resmungou, sinalizou, deu indícios de que não estava gostando. Ele bem que avisou. Ainda assim, nossos mandatários foram pegos de supresa. Por quê? Como diz Roberto Carlos, "eles estão surdos"!

Nossos mandatários estão preocupados com suas próprias picuinhas. Achando que é melhor discutir a sucessão eleitoral que os problemas reais pelas quais os brasileiros passam todos os dias: ônibus que matam, metrôs que não saem do papel ou que avançam em velocidade de cágado, hospitais ineficientes, um sistema de educação que não educa, estádios "padrão Fifa" em cidades padrão quinto mundo.

A opinião pública não é boba. E pode ser raivosa. Porque ela não precisa mais de jornal ou TV. Ela mesmo faz sua notícia, faz seu jornal, se conecta com tantas realidades quantas existem. Brasil, Turquia, Chile, Irã. As fronterias só existem no papel.

Minimizar os protestos, desqualificando-os, afirmando que "em 1964 havia propostas concretas" e que, sem líderes, não se chegará a lugar algum, é fingir que tudo isso não passa de oba-oba de meia dúzia de internautas. Não é. Um milhão de pessoas foram as ruas de ponta a ponta nesse país. Nas palavras de Cazuza: "ideologia, eu quero uma para viver". Sem representação, o povo representa a si mesmo e bota na rua esse novo jeito de agir e pensar.

A população está desiludida, desamparada e sem esperança no futuro. Isso, num país prestes a receber uma Copa do Mundo, Jogos Olímpicos e com baixíssimo índice de desemprego. Pois é .. nem sempre é a economia, stupid.

Enquanto nossos partidos e políticos continuarem andando no passo de décadas atrás, novos manifestos surgirão. A lição é: não se ignora 1,3 milhão de assinaturas e muito menos se rasga leis impondo a Bíblia como código civil. Ou alguém pega o comando do leme ou o barco continuará à deriva.