Papa Francisco e a encíclica "Paz na Terra" de João XXIII

Zé Neto
19/03/2013 às 09:53
Nos últimos dias, todos acompanharam atentos a escolha do novo Papa e, aos 76 anos, o argentino Jorge Mario Bergoglio, agora Papa Francisco - em homenagem a São Francisco de Assis, protetor dos pobres, nome escolhido por ele após conversa com o arcebispo emérito de São Paulo, Dom Cláudio Hummes - assume o comando de uma das maiores instituições do mundo, depois de uma renuncia inusitada e corajosa do Papa Bento XVI, recebendo em suas mãos a grande tarefa de reafirmar o Cristianismo e seus valores em um momento em que o mundo passa por um imenso turbilhão e espera da Igreja importante contribuição aos desígnios da humanidade.
 
A tarefa do Papa Francisco - apontado por alguns como defensor de um pensamento mais conservador e que, de fato, traz em sua história marcas desse conservadorismo - fica ainda mais árdua, na medida em que, ao invés de comoção pela perda de um Papa por falecimento - algo comum e o que de certa forma ameniza os questionamentos mais profundos sobre a direção do Vaticano - ele encontra um cenário de profundos questionamentos e expectativa de que a Igreja tenha respostas mais enérgicas para as turbulências do caminho, especialmente as que envolvem vazamentos de documentos, acusações de pedofilia e confrontos de nível religioso do ponto de vista ideológico mais acirrados e muito mais velozes e sinuosos na atualidade.
 
Além de que, urge para a Igreja Católica a necessidade de uma redefinição da linguagem em meio ao mundo em mutação e assolado por novos temas, principalmente relacionados à juventude, os quais esperam abordagens e respostas mais diretas dos cristãos católicos.
 
Sou católico e sinto que o conclave, cujos trabalhos foram iniciados no dia 11 de março, primou por uma decisão que fortalecesse a figura do sacerdote simples, humilde, como o próprio Papa Francisco (oriundo de uma congregação Jesuíta) visando expressar os valores da evangelização, da oração e, como disse o próprio Papa Francisco aos 1,2 milhão de católicos no mundo, o fortalecimento do caminho da fraternidade.
 
Mas, temas como homossexualidade, uso de preservativos e outros métodos contraceptivos, casamentos entre pessoas do mesmo sexo, busca por novos adeptos, política, e não politicagem, especialmente em meio aos jovens, e a convivência com as liberdades que pautam as redes sociais em todas as nações do mundo, não fugirão e não estarão fora da pauta cotidiana do nosso novo Papa.
 
Lembrando que no dia 11 de abril de 2013, portanto um mês depois do início dos trabalhos do conclave que indicou nosso novo papa, estaremos comemorando 50 anos da Carta Encíclica do Papa João XXIII. Conhecido como o Papa Bom, ele foi eleito Papa em 28 de outubro de 1958 e exerceu tal função até o dia do seu falecimento em julho de 1963, sendo considerado o mais progressista dos papas do mundo moderno.   
 
A Carta Encíclica foi publicada em 11 de abril de 1963 com a denominação de ‘Paz na Terra’ e falava sobre a paz de todos os povos na base da verdade, justiça, caridade e liberdade. Naquele momento - dois meses antes de sua morte e alguns meses após a crise dos mísseis entre os Estados Unidos e Cuba e aproximadamente dois anos depois da construção do já demolido muro de Berlim - a Igreja assumiu um posicionamento muito importante diante da Guerra Fria e em defesa da paz entre os povos numa atitude altiva, política e em defesa da vida, especialmente dos povos mais excluídos. Para João XXIII, a síntese era: a paz entre os povos exige a verdade como fundamento; a justiça como norma; o amor como motor; a liberdade como clima.
 
Lembrar-se desse importante episódio, acontecido há 50 anos no seio da nossa Igreja Católica, nesse momento em meio a tantas expectativas em torno do Papa Francisco, não é apenas uma mera recordação. É um pensamento e uma esperança de que a ascensão de Jorge Mario Bergoglio, conclamado Papa nesse importante período de reafirmação da figura da simplicidade do Cristo, da oração e do seu sentido de justiça, também seja o tempo de renovação da fé católica e da reformulação da linguagem e de alguns conceitos que precisam realmente de revisitação e adequação para os nossos dias.
 
Esperamos que na Jornada Mundial da Juventude, a ser realizada entre os dias 23 e 28 de julho, no Rio de Janeiro, o Papa participe e possa reacender e motivar ainda mais a fé católica em sua primeira viagem internacional após o seu pontificado, aproximando nossa Igreja cada dia mais da incessante busca da paz, da espiritualidade, da solidariedade e do amor nessa grande comunidade chamada Terra, inspirando cada vez mais o sentido do Cristianismo na defesa da vida.
 
Seja bem vindo, Papa Francisco!


Deputado Zé Neto, líder do governo na ALBA