PAC DA COPA PRECISA OLHAR A POPULAÇÃO E NÃO O EVENTO

Ivan Durão
14/05/2011 às 08:00

Foto: BJÁ
Obras vitais no entorno do Estádio de Pituaçu até agora nada feito
 

A expectativa por investimentos em obras de infra-estrutura urbana nas cidades brasileiras escolhidas para sediar jogos dessa importante competição internacional que será a Copa do Mundo no Brasil, tem gerado inquietações de toda ordem.

Sabemos que as demandas são muitas, que os recursos são escassos e que bons projetos são raros. De qualquer forma, o evento previsto para 2014 abre boas perspectivas para sanar alguns problemas crônicos, como carência de bons e eficientes aeroportos, hotéis, estádios, transporte público e mobilidade urbana.

Chegamos à metade do ano de 2011 e muitas das obras previstas sequer foram licitadas ou tiveram projetos aprovados. Interesses econômicos, lei de licitação, Licenciamento Ambiental, discordâncias sobre alternativas de projetos, Tribunais de Contas, contingenciamento de verbas, Ministério Público, enfim vários fatores contribuem para o atraso dos cronogramas em quase todos os Estados, dificultando o efetivo início das ações para início das obras.

Dessa forma, observa-se que vários são os impedimentos para que o PAC da Copa seja efetivamente implantado no país.


Entendo que temos uma oportunidade rara de sanar as deficiências. No caso de Salvador, que em última análise é o que interessa nesse texto, temos uma situação singular em relação às demais capitais, ou seja, aqui temos anualmente o evento carnaval, que atrai cerca de 500.000 para nossa cidade. E a maioria dos que nos visitam retornam em anos subseqüentes, apesar de todas as deficiências crônicas que temos, ou seja, deficiência qualitativa do nosso aeroporto, do nosso sistema de trânsito e de transporte, da pouca disponibilidade de vagas em hotéis.

Apesar de tudo isso, temos uma grande capacidade de superação e a cidade termina acatando e encantando a todos.


Imagino que os jogos a serem realizados em Salvador não deverão atrair quantidades de torcedores superiores àquela que recebemos durante o carnaval, o que, em tese, significa que, apesar de tudo, poderemos conviver com o evento. O único equipamento efetivamente indispensável para a sua realização em Salvador é o estádio Arena Fonte Nova, já que sem ele não teremos jogos. Aliás, sobre o estádio, discordo totalmente daqueles que falam em ociosidade após a Copa.

Estou trazendo esse tema para, mais uma vez, chamar a atenção da responsabilidade que têm os gestores na aplicação dos recursos destinados à Bahia para obras em função do evento. Na verdade, esses recursos deverão ser aplicados em beneficio da população que aqui reside, trabalha e estuda. Portanto, é imprescindível que os projetos ajudem a resolver, fundamentalmente, a questão da mobilidade metropolitana.
 
Transporte e trânsito são caóticos e precisam de soluções definitivas e que contemplem as reais necessidades de locomoção das pessoas. Nesse contexto não vejo inserido na discussão a importância da extensão da linha ferroviária que hoje (mal) atende o Subúrbio, e que, com pequenas intervenções poderia chegar ao município de Camaçari.

Basicamente seria necessário repor os trilhos no trecho da linha entre Paripe e Simões Filho, na localidade de Mapele, além de algumas pequenas melhorias de traçado em trechos pontuais e construções de estações projetadas para integração com ônibus, vans e automóveis.

Talvez por se tratar de intervenção de baixo custo, esse tema não interessa a quem tem o poder de escolher onde utilizar os recursos, assim, limita-se exclusivamente à discussão sobre o modal a ser utilizado, e, apenas nos limites de Salvador. Outras questões, como melhorias no sistema viário urbano, construção de viadutos e passarelas em pontos imprescindíveis, também não têm sido objeto de discussão com a intensidade necessária.     


De qualquer forma, acredito que o bom senso vai prevalecer e que os melhores projetos e as melhores decisões serão adotados, tendo como objetivo primordial o bem estar da população de Salvador, dos municípios vizinhos e daqueles que nos visitam.

Precisamos retomar nossa posição no ranking das cidades brasileiras com maior fluxo turístico, ora em quinto lugar, atrás de Fortaleza. O que se fez com nossas praias é uma efetiva demonstração do descaso e da falta de planejamento. De nada adianta ter o litoral mais bonito dentre as capitais brasileiras, se não é possível dele desfrutar. Não temos espaço de lazer nem um eficiente sistema de limpeza urbana que dê dignidade aos moradores, principalmente em bairros periféricos o que nos coloca em péssima avaliação nos indicadores de desempenho sociais e humanos.


O evento Copa do Mundo poderá ser a oportunidade de se resolver algumas das muitas carências que temos. Precisamos de responsabilidade e comprometimento. Torço mais por isso do que, até mesmo, pela conquista do título mundial pelo Brasil.


* Ivan Durão - Economista