O CABIDE NA POLÍTICA BAIANA COMO ARRANJO IMPRODUTIVO

Tasso Franco
22/03/2011 às 09:14
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Esse é modelo estiloso, de quem recebe contra-cheque on-line e não vai a repartição
  O cabide é um objeto que se utiliza para acomodar roupas. Quase toda família tem um armário ou mais repletos de cabides onde são pendurados calças, camisas, ternos, saias, blusas e blusões. Há excessos. Tem gente que possui vários armários com tantos cabides e roupas, que não sabe o que possui. Atrapalha-se no momento de usá-las. Gente compulsiva em comprar todo tipo de indumentária, mesmo sem precisar delas. Há casos e casos.


   No geral, as famílias têm o básico. É o meu caso. Desde que sai da Prefeitura de Salvador, em 2004, momento em que usava ternos, diariamente, fico olhando-os pendurados nos cabides, aposentados. Vez por outra, em algum casamento ou formatura, retiro um deles para a ativa.

   Recentemente, em Puno, Peru, fui numa residência rural e a senhora dona da casa não tinha cabides. Até falei pra minha mulher: - Tá vendo. A senhora só tem um sapato e não há cabides.


   O barnabé clássico, servidor público brasis, adora um terno. É o paletó que revela se está a trabalho ou de folga. Os mais modernos usam cabides estilosos nas repartições para pendurá-los. Os menos afortunados coloca-os sobre o espaldar das cadeiras. É indicativo de presença na repartição ainda que o barnabé esteja ausente.

   Há casos de servidores que deixam o paletó semanas ou até meses no cabide marcando o ponto ao trabalho.


   Cabide, pois, virou sinônimo de arranjo improdutivo para pessoas que conseguem um emprego público e pouco se dão conta ao trabalho. São nomeadas em cargos comissionados, empossadas, ágeis na organização dos papéis para se efetivarem, mas, trabalhar que é bom, nem pensar.

   Aí também seria querer demais. Depois de uma trabalheira dessas, de ocupar o pistolão, de tirar documentos, seria exigir demais de um nobre "servidor" dessa magnitude.


  Ultimamente, na política baiana, tem se falado demais em servidores dos cabides. E, em alguns casos, quanto mais a pessoa é qualificada, tem cursos disso e daquilo, e se tiver mestrado e doutorado então, aí é que o cabide também se torna da melhor qualidade com um nível remuneratório mais alto.

   As referências são por siglas. - Consegui um DAS6, mas, estou chateada porque pedi ao meu padrinho que queria um DAS8 - queixa-se um desses news-barnabés.


   Cabide de qualidade no serviço público, e existem nas três esferas de poder, é aquele que não vai ao trabalho nem para receber o holerite. Agora, então, com sistemas on-line a coisa ficou ainda melhor. O dim-dim cai direto na conta e é só acessar a internet e pronto.

   Depois, repartição pública é boa pagadora. Não falha. Todo dia 26 de cada mês, que beleza, antes até do final do período, o capilé já pingou na moringa.


   Cabideiro competente também não perde bocas adicionais. Empréstimo consignado, se o juro for bom, tá dentro; antecipação do IR é com ele; oferta de linha de crédito para compra de veículo, não deixa escapar. Aceita todo tipo de vales: refeição, transporte, auxilio moradia e assim por diante.

   Incentivo à produtividade, tá fora. Não exija dele coisas que não faz parte de sua rotina. E, nem pense em recolher imposto sindical ou outro qualquer tributo de sua conta bancária. Seria uma afronta. Seria uma falta de respeito com o trabalhador.

   Pois é; como diria o saudoso escritor argentino Ramón Bonavena nego a essa crônica qualquer valor estético, real que seja a existência de cabides e "cabides".