INDEPENDÊNCIA DA BAHIA CONTINUA MAL CONTADA EM 1822

Tasso Franco
08/10/2010 às 11:01
BJÁ
Contradições no livro de Laurentino Gomes sobre Independência da Bahia
    O novo livro de Laurentino Gomes intitulado 1822, que narra passagens da independência do Brasil de Portugal, ou na referência do autor na capa "como um homem sábio (José Bonifácio de Andrada e Silva), uma princesa triste (Leopoldina) e um escocês louco por dinheiro (Lord Chrocane) ajudaram a criar o Brasil - um país que tinha tudo para dar errado", trata-se de uma bela exposição jornalística, aquém, no entanto, de 1808, outra obra de Laurentino que tanto sucesso fez no Brasil, esta, narrativa sobre a fuga de Dom João VI para o Brasil e a formatação do país e sua unidade nacional.

           
     A independência do Brasil certamente por ser um assunto mais conhecido dos brasileiros, há inúmeras publicações sobre esse tema, não tenha despertado tanto interesse dos leitores como 1808, ainda que 1822 esteja pontuando entre os mais vendidos nas listas dos órgãos de imprensa.

     A rigor, o novo livro de Laurentino não traz nenhuma informação nova ao que já se sabia sobre Dom Pedro I, salvo, evidente, alguns aspectos pitorescos como ter proclamado a independência montado numa mula e de como abandonou a marquesa de Santos após ardoso romance que levou Leolpodina à depressão, além de ter engravidado uma das suas irmãs.

     Também histórias conhecidas do rufião Pedro, o qual imolou em sua "espada" até uma freira. Na pena de Laurentino, no entanto, ganha tom jornalístico e fica mais agradável a leitura dessas histórias, em narrativas bem agradáveis.

           
     Ao que nos cabe mais diretamente, as lutas pela independência da Bahia, Lauretino fala com alguma clareza o que os historiadores baianos costumam escamotear ou não serem objetivos em relação aos dados, que, de fato, aconteceram lutas mas os números de mortos e os feitos históricos são incertos.

    Diz que, "só na Bahia mais de 16.000 brasileiros e aproximadamete 5.000 portugueses trocaram tiros durante um ano e quatro meses" (fevereiro de 1822 a junho de 1823) e que, em Salvador, no episódio que deflagrou o inicio da refrega morreram entre 200 e 300 pessoas. Números, aliás, segundo as descrições históricas da época de Ignácio Aciolly e outros, bem menores do que esses citados acima.

           
     Laurentido comenta, ainda, que "curiosamente não se sabe o número de vitimas na maior de todas as batalhas, a do Pirajá, travada os arredores de Salvador", e que "outros 500 lusitanos teriam morrido em um ataque à ilha de Itaparica, em janeiro de 1823".

           
     Quanto a Pirajá este é um mistério até fácil de ser investigado por algum historiador que se debruçar sobre essa matéria, até onde já li e pesquisei, é um número de mortos que pode não ter acontecido, e os tais 500 mortos no ataque em Itaparica é uma invenção que não existiu, assim como querem fabricar uma heroina nativa que teria dado surras de cansação em portugueses. Folclore puro e ficção da pena de Ubaldo Osório.

          
     Sem cuidado no que escreveu, Laurentino fala sobre festejos da Independência da Bahia se iniciando em frente ao panteão da independência, no bairro da Lapa (?), em direção ao Campo Grande, cometando, mais adiante que a guerra na Bahia "custou centenas de vidas".

    Contradições à vista. Primeiro que o bairro se chama Lapinha, prolongamento da antiga estrada das Boiadas (hoje, Liberdade) onde entraram as tropas brasileiras sem dar um tiro na manhã do 2 de Julho porque os portugueses já tinham zarpado para a Europa a partir do Porto de Salvador, na madrugada, e segundo porque, essas centenas de mortos ficam por conta do autor, já que ele próprio diz na página 163, que são incertas em Pirajá.

           
    Dizer que a Independência do Brasil se consolidou após as lutas da Bahia tem sentido, em parte. Arroubos de Tobias Barreto que considerou que "a resistência baiana decidiu a unidade nacional". Sentimento também apregoado pelos nativistas e historiadores baianos. É menosprezar as lutas que se seguiram em Pernambuco, no Maranhão, na República Cisplatina e no Pará.

           
     A Bahia, dentro do contexto deu sua contribuição, uma das mais importantes. Mas, não a única e decisiva como cantam os louros locais. Decisivos mesmo foram José Bonifácio, o louco do Lorde Chrocane e Dom Pedro I.
 
     É o que sempre digo: a história da Independência da Bahia (2 de Julho de 1823) ainda não foi contada sem paixões e como de fato aconteceu.