TODOS CONTRA O CRACK É CONVOCAÇÃO DA SOCIEDADE

Yulo Oiticica
07/06/2010 às 16:23
Foto: Correio Web
Discutir o papel da família e da religião para combater o crack
  O Brasil vai investir R$ 410 milhões até o final deste ano no combate ao crack. Os recursos estão previstos no Plano Integrado para Enfrentamento do Crack, lançado recentemente pelo presidente Lula. O dinheiro será investido em treinamento de profissionais de saúde e assistência social para acompanharem usuários e famílias. É o advento de um luta longa, contra uma droga nova, devastadora, que por ser barata alcança muitos usuários e que o governo precisará do apoio de estados, municípios e da sociedade para enfrentar o problema.

 É um ledo engano pensar, contudo, que a idéia surgiu de dentro do gabinete do presidente. Apesar da hipersensibilidade do companheiro Lula, coube a igreja católica, ao longo dos anos, o papel de conduzir a opinião pública até o cerne desta problemática: a família. Ao convocar, todos os anos, a sociedade a refletir através das Campanhas da Fraternidade, a igreja católica assumiu o seu papel pastoril, soerguendo a instituição familiar a sua condição suprema, de núcleo da sociedade.

 Quem também defende esta tese é o governador Jaques Wagner. Enfadonho e repetitivo para alguns, o chefe do executivo baiano convoca, rotineiramente, independente do muxoxo deste ou daquele, como se fosse um rabino, pastor ou padre, principalmente no interior do estado, os pais e as mães desta Bahia afora a acompanharem o dia a dia dos seus filhos.

Assim como a igreja católica, Lula e Wagner assumem o papel dos verdadeiros líderes, dando o exemplo de cima, compartilhando responsabilidades, sem fáceis promessas, nem tão pouco palavras ao vento. Fazem isso porque sabem que é uma discussão que extrapola as capilaridades dos governos, adentrando necessariamente no bojo das famílias brasileiras. É uma luta de todos.

Por outro lado, o governo não deixa de cumprir o seu papel. Planejamos uma ação dividida em áreas como saúde, segurança e assistência social aos ex-consumidores de crack, além de uma campanha nacional de prevenção e conscientização sobre o risco da droga. Já estão sendo instalados 11 postos de fronteira que ajudarão no combate ao tráfico de crack no país.

Na área da saúde, até o final deste ano, será dobrado o número de leitos para receber dependentes químicos. Hoje são 2,5 mil leitos que devem ser ampliados para 5 mil. Iremos ampliar os Consultórios de Rua, postos que levam equipes de saúde - assistentes sociais, auxiliares de enfermagem e profissionais de saúde mental - até os locais onde os usuários de drogas se reúnem. Vamos desarticular as cracolândias.

Para o êxito dessas tarefas é preciso unificar a sociedade. Mas, especialmente, rediscutir de maneira sistemática o papel da família e da religião para combater o crack. Neste sentido, arregaçar as mangas significa reavivar as conversas familiares, dispondo de mais tempo para os entes. Tornar os templos religiosos em locais propícios para conversar, sem discriminações, sem amarras, abertos para o diálogo com as pessoas e os seus problemas.

Infelizmente, vão surgir neste período eleitoral candidatos com soluções mágicas, munidos por varas de condão encontradas numa esquina qualquer chamada "oportunismo". Mas, como diria Santo Agostinho, "o orgulho é a fonte de todas as fraquezas, por que é a fonte de todos os vícios". E sabemos que não será com o orgulho que iremos vencer a luta contra o crack no Brasil.

  *Yulo Oiticica é deputado estadual pelo Partido dos Trabalhadores e presidente das frentes parlamentares da Juventude e da Assistência Social na Assembléia Legislativa da Bahia.