OS 85 ANOS DE MÃE STELLA DE OXÓSSI

ZédeJesusBarrêto
02/05/2010 às 08:21
Foto: A TARDE
Maria Stella de Azevedo Santos: uma vida dedicada ao candomblé

   Baiana de Salvador, nascida a 2 de maio de 1925, está completando 85 anos de vida, neste domingo, a cidadã Maria Stella de Azevedo Santos, enfermeira de profissão e Ialorixá por fadário, querer de Deus, escolha dos Orixás.


  Trata-se de Mãe Stella, a Ialorixá Stella de Oxóssi, consagrada, iniciada há 71 anos como Odé Kayodé, nome iniciático que quer dizer ‘Caçador de Alegria', seu Oxóssi. Ela é a sacerdotisa maior, desde 1976, do trono de Xangô do terreiro de nação iorubá - Keto/Nagô, conhecido como o Ilê Axé Opô Afonjá, a roça de São Gonçalo do Retiro, assentada em 1910 pela notável Mãe Aninha, a lendária Obá Biyi, antecessora de Mãe Senhora. A roça do Opô Afonjá comemora 100 anos de fundação, neste 2010.


  Mãe Stella é a da Mãe-Preta Bahia. Antenada, moderna e ao mesmo tempo rigorosa na prática e na defesa dos fundamentos da religião, ela tem marcado seu tempo à frente da comunidade Keto Afonjá cuidando da preservação do culto e também, de forma pioneira, da transmissão por escrito do conhecimento e dos princípios aprendidos com os antepassados e transmitidos oralmente pelo mais velhos, há gerações. "O que não se registra o vento leva", costuma repetir.


  Com o propósito de disseminar ensinamentos escreveu Meu Tempo é Agora, um manual indispensável à compreensão da religião dos Orixás. Depois, lançou Oxóssi, O Caçador de Alegrias, livro dedicado ao Orixá que rege sua cabeça, com mitologias e reflexões sobre o guardião dos terreiros baianos de nação Keto. Mais recentemente, escreveu um livreto de antigos ditos, relembrando provérbios guardados na memória desde os tempos de criança: Owé -Provérbios, em português e iorubá. Por último, lançou o ilustrado Epé Laiyé -Terra Viva, uma parábola para crianças (de todas as idades) em defesa da mãe-natureza, fundamento da religião dos Orixás.


Nosso carinho, nossa homenagem a Mãe Stella de Oxóssi, em seus 85 anos de vida, desejando-lhe Axé, saúde e luz, sabedoria, sempre.


Eis alguns de seus ensinamentos, retirados de seus livros e entrevistas:


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Vivemos o tempo presente, nosso tempo é hoje, já, agora. Só pode falar "em meu tempo" alguém que não faça mais parte deste tempo: depois de ter atravessado a porteira do tempo... Quem vive é deste tempo, de agora!


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A natureza conversa conosco a todo momento, basta saber entendê-la ou dar mais um pouco de atenção a ela; Tudo o que a nossa religião professa advém da natureza.


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O Candomblé não é um produto do turismo étnico. Somos uma religião, temos nossa liturgia, uma teologia, dogmas e segredos. Temos de preservar nossos princípios e valores com todo o respeito.




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Quem for a uma festa de Orixá, num terreiro, chegue com respeito e amor. Nada é cobrado, nada se fotografa, nada é gravado. Ali é um lugar sagrado, não deve ser profanado. Os terreiros estão abertos a todos os que souberem chegar.


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Falar de Orixá é voltar no tempo, tentando decifrar o mistério do indecifrável, aquilo que apesar de ser experienciado, vivido e sentido não pode ser traduzido em uma única forma, pois tendo todas as formas, nenhuma delas o revela.


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Os orixás são concebidos como seres primordiais, expressões divinas das forças da natureza, um poder imaterial que só se torna perceptível aos seres humanos através do fenômeno da incorporação.


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Dou um conselho aos visitantes e amigos do Axé: Não perguntem, observem!


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Você pode até ir à missa e ao candomblé, mas não mistura santo com orixá. O sincretismo é resquício da escravidão, o senhor queria que o negro fosse católico e ele, para agradar, dizia que era. Mas agora somos livres, não precisamos disso.


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O descendente de africano não é obrigado a ser de candomblé. Isso é ridículo. Não escolhemos o Orixá, ele é que nos escolhe.


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A fé não se impõe, nem se chega a ela pelo intelecto. Chega-se ao orixá pelo coração.



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A ‘bença' Mãe Stella!