O ESQUECIDO GOVERNO DO PROFESSOR ROBERTO SANTOS

Antonio Jorge Moura
12/10/2009 às 10:00

Foto: A TARDE
Na reinauguração do Estádio de Pituaçu, o ex-governador RS com Wagner
O Anti-Carlismo continua vivo nas mentes e nos corações dos adeptos apesar de dois anos do falecimento de seu objeto, o ex-governador e ex-senador Antonio Carlos Magalhães. Foi o que, lamentavelmente, pude constatar no curso Conversando com sua História, que a Fundação Pedro Calmon promoveu na última quarta-feira (30/09) na Biblioteca Central dos Barris, com uma palestra do ex-governador Roberto Santos, que governou a Bahia entre 1975 e 1978.

Está claro que Roberto Santos comandou o Palácio de Ondina com uma gestão de perfil próprio e diferenciado de ACM. Tanto que teve a coragem de romper com a ditadura militar quando ainda estava no poder e, por isso mesmo, se credenciou a ser o primeiro candidato a governador da resistência democrática na primeira eleição direta pós-64.

ACM só rompeu anos depois, em 1984, e apoiou a chegada de Tancredo Nevez ao poder. Dr. Roberto, um médico conceituado e cientista de reconhecida competência, teve como companheiro de chapa o comandante da luta contra a ditadura na Bahia, o economista Rômulo Almeida, que teve a grandeza de repassar o comando simbólico da luta para dr. Roberto depois que o mesmo havia criado na Bahia o PP tancredista e unira seu partido com o histórico MDB para dar origem ao PMDB.

O candidato ao senado foi Waldir Pires, que havia chegado ao Brasil no final dos anos 70 do exílio na França e, inicialmente, optou pelo caminho empresarial no Rio de Janeiro. Roberto Santos foi guinado ao poder na Bahia pelas mãos do presidente-general Ernesto Geisel, com as credenciais de ter sido reitor da Universidade Federal da Bahia (Ufba), presidente do Conselho Federal de Educação e filho do homem que implantou a Ufba, o magnífico reitor Edgard Santos.

Mas seu governo, apesar de enormes feitos, permaneceu obscuro na memória popular porque a imagem do ex-governador sempre foi associada às divergências que teve com ACM.
 
Durante muito tempo a contenda entre o carlismo e o anti-carlismo obscureceu a trajetória de RS, o que acabou beneficiando ACM. No evento organizado pelo historiador Ubirajara Castro, presidente da FPC, a platéia formada majoritariamente por jovens teve oportunidade de saber que o grande salto do Ensino Fundamental na Bahia aconteceu no Governo Roberto Santos. Antes havia o antigo Curso Primário, uma herança da Monarquia. Assim como aconteceu o desenvolvimento do Ensino Profissionalizante, com a criação de 50 escolas do gênero e do tradicional Centec, em Simões Filhos.

Foi também construído o Museu de Ciência e Tecnologia, hoje gerido ela Universidade Estadual da Bahia, reduzido em suas propostas. É de se registrar que o museu foi erguido como um marco da fase industrial da Bahia, quando o Centro Industrial de Aratu (CIA), criado pelo ex-governador Luiz Vianna, e o Pólo Petroquímico estavam no auge. Foi quando a Bahia agrícola, da economia do feijão e do cacau abriu alas para a Bahia industrial. Na área de saúde pública foi dado início à concepção de que saúde e saneamento andam entrelaçados.

E foram definidos os princípios da regionalização da saúde, com a inauguração de 30 unidades de saúde e de 20 hospitais regionais. O atendimento foi hierarquizado e implantado como unidade de referência o Hospital Roberto Santos. Na área social, quem conhece os Centros Sociais Urbanos (CSU) na capital e no interior deve ligá-los ao Governo Roberto Santos. Foram 33 no total.

Como diz hoje o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nunca antes se havia pensado em CSU nesse estado. Foi também o governo que criou o Instituto Mauá, que está até hoje no Porto da Barra, em Salvador, deu apoio ao artesanato e respaldou dezenas de filarmônicas de Salvador e interior. Quem anda pela periferia de Salvador tem que ter na mente que os bairros de Mussurunga, Narandiba e Cajazeiras nasceram de conjuntos habitacionais populares que Roberto Santos construiu em parceria com a Caixa Econômica Federal.

Foi naquela área, entre o Cabula e Narandiba, que Roberto Santos construiu o Centro de Recepção e Triagem de menores infratores. Na política de segurança, quem passa na ligação entre a Lapa e a Centenário conhece os prédios do Departamento de Polícia Técnica, onde estão o Nina Rodrigues, o Instituto Afrânio Peixoto e o Instituto Pedro Melo. Todos foram erguidos no Governo Roberto Santos. Há pouco me referi ao Pólo de Camaçari e não poderia esquecer que 80% da infraestrutura dele foram erguidas na Governo de Roberto Santos.

O ex-presidente Geisel, que fora presidente da Petrobrás e aprovara a implantação do Pólo nordestino, recomendou para a Secretaria das Minas e Energia do Governo de Roberto Santos um executivo de sua confiança, José de Freitas Mascarenhas, hoje diretor da Odebrecht e vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Além das vias de interligação entre as quadras industriais, a dupla Mascarenhas e Santos construíram a Via Parafuso, o Canal de Tráfego de ligação do Pólo ao Porto de Aratu e a Nova Dias D`Ávila, um projeto da Clan de Rômulo Almeida. Camaçari, na época, tinha 15 mil habitantes. Hoje tem 350 mil.

Na área do turismo, que gera milhares de empregos em Salvador, Roberto Santos construiu o Centro de Convenções, palco de grandes eventos na atualidade. Para arrematar, construiu também 2 mil KM de rodovias- entre elas, a estrada Ilhéus-Conquista-Brumado -, 4 mil metros de pontes e viadutos, deixou pronto o projeto da Barragem de Pedra do Cavalo e de sua adutora, fez 4 mil KM de linhas de distribuição de energia elétrica, executou o Polonordeste em várias regiões do estado e construiu o Parque de Exposições de Salvador. Roberto Santos merece ou não o reconhecimento?