RÔMULO ALMEIDA - CONSTRUTOR DE SONHOS - III

Antonio Jorge Moura
29/06/2009 às 08:22

Foto: Arquivo
Economista Rômulo Almeida e a sua trajetória política e profissional
A primeira campanha eleitoral para escolha do governador da Bahia depois da redemocratização não foi vencida pela chapa Roberto Santos/Rômulo Almeida, mas abriu caminho para alternância de poder e a vitória de Waldir Pires nas eleições seguintes, a de 1986.

Quando terminou a campanha eleitoral de 1982, o velho MDB, que só se preocupava com a resistência ao regime militar e com a luta pela redemocratização, caiu na real: e se tivesse vencido a disputa, o que faria no governo? Muitos pensaram e não tiveram resposta. Mas o construtor de sonhos teve. Ele transferiu a presidência para o deputado federal Marcelo Cordeiro, um histórico do partido, ex-militante do PCB e dirigente estudantil da Faculdade de Direito da UFBA na década de 60.

O PP tancredista, comandado por Roberto Santos, indicou Genebaldo Correia para secretário-geral e depois vice-presidente da agremiação. Com essa dupla no comando partidário, Rômulo Almeida assumiu a presidência de honra do partido e a direção do Instituto João Mangabeira, a instituição de estudos econômicos, sociais e políticos do PMDB.

Ele teve mais uma de suas idéias geniais. E criou o que batizou de Projeto Bahia, para delegar à militância do PMDB, sobretudo técnicos de reconhecida competência - professores e estudantes universitários, servidores do governo e trabalhadores de empresas privadas, consultores, etc - a tarefa de reunir-se em comissões temáticas para esquadrinhar a Bahia, destrinchar seus diversos setores, avaliá-los criticamente e propor idéias para mudança, criar novos paradigmas.

A Fundação João Mangabeira tornou-se uma usina de idéias e gerou o programa para o Governo Waldir Pires. Enquanto a Fundação aprofundava seus estudos o Brasil caminhava célere para a democracia. A campanha pelas eleições diretas empolgava o país reunindo multidões nas grandes cidades brasileira, inclusive Salvador.

Enquanto os Autênticos do PMDB e partidos de esquerda fechavam exclusivamente com as diretas, setores ponderados admitiam a hipótese de ir Colégio Eleitoral formado por deputados e senadores para eleição indireta do futuro presidente civil da República. A campanha para eleição no Colégio Eleitoral voltou a reunir nos palanques as forças políticas antagônicas que lutaram pelo fim do regime militar e pela retomada da democracia no Brasil.

Os palanques passaram a contar com personalidades oriundas da antiga Arena, o partido de apoio aos governos militares, e que haviam divergido da escolha de Paulo Maluf para candidato à Presidência da República. A palanque de Fortaleza, no Ceará, por exemplo, reuniu os baianos Rômulo Almeida e Antonio Carlos Magalhães, além de Ulysses Guimarães e Tancredo Neves, num ato público realizado no pátio da sede do Banco do Nordeste.

Em 1985 a morte de Tancredo Neves, já eleito presidente, surpreendeu e emocionou o Brasil. Assumiu o vice-presidente, José Sarney. E Rômulo Almeida, que havia concebido e criado a instituição, foi cogitado para voltar à presidência do BNDES. A briga por espaço de poder no governo da Nova República, sobretudo pelas forças políticas do sul e sudeste do país, foi titânica.

Propuseram a Rômulo assumir a presidência do IBGE. O ilustre baiano declinou e o Nordeste acabou contemplado com a modesta diretoria para pequenas e médias empresas do BNDES. Mas quem não tem competência não se estabelece. Em menos de um ano Rômulo foi guinado a diretor industrial do BNDES, posto mais importante da instituição depois da presidência.

Como diretor industrial ele pode contemplar o Nordeste e a Bahia especialmente com importantes projetos, em especial nas áreas de celulose e siderurgia. O prestígio de Rômulo ultrapassava as fronteiras da Bahia e em qualquer estado nordestino que chegasse era recepcionado como celebridade. No Ceará, por exemplo, ele deu a idéia do Pólo Industrial de Confecções; em Alagoas, da indústria petroquímica; em Pernambuco, do Complexo Industrial de Suape, na área do Porto de Recife; e em Sergipe e Rio Grande do Norte, da destinação das belas praias para o turismo nacional e internacional.
 
Mesmo depois de empossado na diretoria do BNDES Rômulo Almeida não esqueceu os compromissos com a Bahia, com o PMDB, com a Fundação João Mangabeira e com o Projeto Bahia.

O governo da Nova República assumiu em 1995 e em 1996 aconteceu a eleição para os governos estaduais. Aqui a disputa se deu entre Waldir Pires e o jurista Josaphat Marinho. Pires começou a fase final da vitória quando Ênio Mendes, que substituíra Genebaldo Correia na secretaria-geral do partido (Genebra foi guinado à vice-presidência) reuniu as 16 comissões de estudos do Projeto Bahia.

WP passou um final de semana em encontros de trabalho com as comissões e se inteirou do que acontecia na Bahia em todos os setores. Na segunda-feira participou de um debate com Josaphat Marinho na TV Itapoan e deu um banho de informação e de competência.
 
As comissões do Projeto Bahia, da Fundação João Mangabeira, ganharam um novo coordenador, Jairo Simões, economista e parceiro da caminhada ilibada de Rômulo Almeida desde a criação da Comissão de Planejamento Econômico (CPE), anos 50, durante o Governo Antonio Balbino. Depois da posse do Governo WP, que ajudara enormemente a chegar ao poder, Rômulo realizou alguns eventos em parceria com Jairo Simões na Secretaria de Planejamento do Estado.

As viagens incessantes de um homem de mais de 70 anos acabaram minando-lhe a saúde. Num mesmo dia era frio no Sul e calor no Nordeste; no outro sol no Rio de Janeiro e chuva no Pará. Depois de uma gripe mal-curada, Rômulo Almeida adoeceu e o coração não resistiu. Aqui o corpo foi velado no salão nobre do Palácio da Aclamação, no Campo Grande. De lá saiu em carro do Corpo de Bombeiros para o Cemitério do Campo Santo. Foi sepultado o corpo de um homem público brilhante, sério e trabalhador.

Para as novas gerações e para quem não teve oportunidade de conviver com o ilustre baiano aqui vão os registros biográficos do Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro Pós 1930. Segundo o dicionário, Rômulo Barreto de Almeida nasceu em Salvador no dia 18 de agosto de 1914, filho de Eduardo de Sousa Almeida e de Almerinda Barreto de Almeida. Em 1933, bacharelou-se pela Faculdade de Direito da Bahia. Dedicando-se à economia, em 1941 tornou-se diretor do Departamento de Geografia e Estatística do Território do Acre. Entre 1942 e 1943 foi professor substituto da Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas do Rio de Janeiro. Em 1946 prestou assessoria à Comissão de Investigação Econômica e Social da Assembléia Nacional Constituinte.

No período de 1948 a 1949 participou de diversas subcomissões da Comissão Mista Brasileiro-Americana de Estudos Econômicos, também conhecida como Missão Abbink. Por volta de 1950, atuando como economista da Confederação Nacional da Indústria, filiou-se ao Partido Trabalhista Brasileiro (PTB).

Iniciado o segundo governo Vargas em janeiro de 1951, no mês seguinte foi designado oficial-de-gabinete do Gabinete Civil da Presidência da República. Ao mesmo tempo foi incumbido por Vargas de organizar a Assessoria Econômica da Presidência da República. Ainda em 1951 tornou-se membro do conselho consultivo da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco, posto que manteria até 1966. A partir de 1953, Rômulo de Almeida tornou-se consultor econômico da Superintendência da Moeda e do Crédito (Sumoc). Ainda no segundo semestre desse ano assumiu a presidência do Banco do Nordeste do Brasil. Com o suicídio de Vargas, em 1954, demitiu-se já com a intenção de concorrer a uma cadeira na Câmara Federal. No pleito de outubro de 1954 elegeu-se deputado federal pela Bahia na legenda do PTB. Iniciou o mandato em fevereiro do ano seguinte, tornando-se vice-líder do PTB em março.

Em abril, porém, deixou a Câmara para assumir a Secretaria da Fazenda baiana. Ainda em 1955 criou e presidiu na Bahia a primeira Comissão de Planejamento Econômico do estado.

Em 1957 criou e presidiu o Fundo de Desenvolvimento Agroindustrial da Bahia e foi nomeado vice-presidente da Rede Ferroviária Federal. Reassumiu seu mandato na Câmara em julho desse mesmo ano, exercendo-o até dezembro. No período de 1957 a 1959 reorganizou o Instituto de Economia e Finanças da Bahia e nesse último ano, já durante o governo de Juraci Magalhães, foi secretário sem pasta para Assuntos do Nordeste.

Representou também a Bahia na Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) e, nomeado posteriormente secretário de Economia, elaborou o projeto da Companhia de Energia Elétrica da Bahia (Coelba). Foi diretor da Companhia Ferro e Aço de Vitória e, em 1961, nomeado representante do Brasil junto à Comissão Internacional da Aliança para o Progresso, da qual se exoneraria em 1966. Com a extinção do bipartidarismo em 29 de novembro de 1979 e a conseqüente reformulação partidária, vinculou-se à corrente trabalhista de Leonel Brizola. Quando este perdeu a sigla do PTB para Ivete Vargas filiou-se ao Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). Rômulo de Almeida foi professor da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade da Bahia, da Escola de Comando e Estado-Maior da Aeronáutica, do Curso de Planejamento do Departamento Administrativo do Serviço Público (Dasp) e da Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getulio Vargas (Ebap-FGV).

Foi diretor da Fundação Casa Popular, da Companhia Brasileira de Petróleo Ipiranga, da Empreendimentos Bahia S.A. e da Elétrico-Siderúrgica Bahia S.A., além de presidir a Consultoria de Planejamento Clan S.A. Também foi membro do conselho diretor do Instituto Brasileiro de Administração Municipal (Ibam). Presidente de honra do PMDB baiano, em 1985, após ser cogitado para a presidência da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foi nomeado, no início do governo Sarney, diretor do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Permaneceu nesse cargo até a sua morte, ocorrida em Belo Horizonte em novembro de 1988.