O EXCESSO DE DEBATES NO COOPERATIVISMO

Amilcar Barca Texieira Jr e Lívio Rodrigues Ciotti
14/03/2009 às 19:18

Autores do artigo revelam que sobra conversa e faltam ações práticas no cooperativismo

Desde o primeiro momento em que nos envolvemos com o cooperativismo, observamos a ocorrência de debates calorosos, sempre em defesa do papel social das cooperativas e de sua legitimidade no processo de desenvolvimento econômico do País.
 

Temos notado também que grande parte das discussões envereda por caminhos polêmicos, com resultados pouco satisfatórios e, no mais das vezes, sem qualquer eficácia.


É sabido, no atual contexto, que as iniciativas empresariais, como modestas, gozam de relativa tranqüilidade no que diz respeito à fiscalização do Poder Público e praticamente passam despercebidas das autoridades enquanto permanecem nessa situação.

Assim também as cooperativas, que nascem "em geral e por uma questão estrutural" de forma desordenada, premidas pelas necessidades de um crescente número de trabalhadores que precisam produzir e auferir renda para oseu próprio sustento e o de sua família.


Em alguns casos, essas entidades constituem-se desprovidas de suficiente aporte financeiro e, por essa razão, muitas vezes carentes de profissionais especializados para dirigir seus negócios. 


Essas dificuldades, no entanto, não conseguiram impedir um crescimento considerável das cooperativas no Brasil ao longo dos últimos anos.

Diante de um cenário tão próspero, era inevitável que essas sociedades ganhassem a simpatia e a adesão de inúmeros brasileiros que buscam uma oportunidade de retorno ao mercado de trabalho.


Assim, em virtude do vácuo existente entre os que possuem e os despossuídos,(res)surge um movimento que, no envolver da História, tem servido de suporteàqueles que acreditam na solidariedade e na ajuda mútua como elementos capazes de satisfazer as necessidades básicas do ser humano: o cooperativismo (em suas várias vertentes).

Nesse singular contexto, o fenômeno da proliferação das sociedades cooperativas apresenta-se como um elemento catalisador das necessidades coletivas e vemservir como um contraponto às perversidades e as distorções do capitalismo.


Todavia, esse crescimento exacerbado do setor incomodou muita gente, sobretudo os que já tinham delimitado o mercado de acordo com suas próprias pretensões.


Era de se esperar que grande parte das acusações, que vão desde a alegação de fraude de direitos trabalhistas a evasão fiscal, viesse mobilizar os setores públicos e privado em face desses mesmos questionamentos, não obstante o empenho e a dedicação de muitos cooperados.


É bem verdade que muitas práticas e entendimentos que contrariam o espírito cooperativista originam-se, em grande parte, do desconhecimento legal e doutrinário das premissas do cooperativismo pelos cooperados ou administradoresdas cooperativas e, às vezes, até mesmo pelos Poderes constituídos e órgãos de fiscalização.


Salutar, portanto, que nos diversos setores da sociedade sejam promovidos encontros com o objetivo de encontrar soluções tendentes a fortalecer ocooperativismo, e não no sentido de superá-lo, com pretendem alguns.


No entanto, o que se verifica é um verdadeiro excesso do debate: as discussões têm se dirigido para um desfecho puramente retórico ou com pretensões muito além do economicamente possível ou do politicamente viável.


Muito se discute e se problematiza sem que se estabeleça um consenso efetivo sobre as proposições. E quando isso ocorre, após um amplo desgaste dosenvolvidos, ainda pairam dúvidas sobre as ações concretas necessárias ao desenvolvimento do setor.


Por tudo isso, é forçoso reconhecer que o setor, ainda que amparado pela Constituição e disciplinado por lei específica, ainda luta arduamente -- às vezes, numa batalha desigual -- para defender seu espaço na sociedade e obter dos demais setores da sociedade civil organizada o respeito que lhe é devido.


No vai e vem dos debates já se identificou há muito quais os verdadeiros entraves que emperram o desenvolvimento das cooperativas brasileiras e aspossíveis soluções que repercutiriam favoravelmente no avanço do setor


Não obstante, entra ano e sai ano promovem-se seminários, congressos e eventos congêneres para discutir os problemas que afetam o setor e repisar as alternativas que podem ser adotadas, remarcando a continuidade dos debates para o momento seguinte, num movimento cíclico que já começa a apresentar seus primeiros sinais de exaustão.


Dessa forma, entendemos que a perpetuação dessas condutas atrasa o desenvolvimento e o engrandecimento das sociedades cooperativas e, via de conseqüência, dos membros a elas associados, retardando, de igual forma, a oportunidade de se iniciarem os trabalhos que permitirão ao setor alcançar o tão almejado patamar de respeitabilidade, prestígio e credibilidade. 


Por isso, insistimos na diminuição do calor dos debates para manter viva achama da perseverança em prol da realização de ações concretas que promovam o desenvolvimento daqueles que continuam acreditando no cooperativismo como instrumento de defesa econômica e de justiça social.