A CARTA DO PAPA, O BISPO DE OLINDA E A INTERNET

Tasso Franco
13/03/2009 às 14:14
 
A internet, a marca da Aplle e a interpretação da doutrina da fé
  Um dos maiores mistérios da Igreja Católica para nós leigos é conhecer sua doutrina, interpretar alguns fatos à luz da contemporaneidade. Se isso já é difícil para os seus integrantes, com correntes diferenciadas de pensamentos, embora unidos em torno do Santo Papa e da Doutrina da Fé, cabe-nos opinar com muitas limitações.

  É o que faço em relação ao documento expedido pelo Papa Bento XVI intitulado "A Carta do Papa a Propósito da Remissão da Excomunhão de Quatro Bispos" (Vide matéria na Editoria Variedades/Cultura), sob a ótica da comunicação, visto que a Santa Sé foi surpreendida com a rede web posta em marcha a partir do episódio dos bispos consagrados pelo arcebispo francês Lefebvre, sem beneplácito do papa.

  Desencadeou-se, como diz o próprio papa, um avalanche de protestos, cujo azedume revelava feridas que remotavam mais além do momento, um desmentido da reconciliação entre cristãos e judeus com referências ao texto do Concílio Vaticano II, passos de reconciliação que são objeto de trabalho teológico pessoal de Bento XVI, e o fato, também expresso por sua santidade, da igreja não ter sido capaz de acompanhar o noticiário que resultou tantos protestos, via internet.

  Palavras do papa: "Fica-me a lição de que, para o futuro, na Santa Sé deveremos prestar mais atenção a esta fonte de notícias". (Leia carta na íntegra, editoria Variedades/Cultura)

  No contexto geral teológico, a carta do papa é um documento extraordinário, atual, contemporâneo na interpretação de Deus na diversidade de suas imagens pelo homem, na pregação do amor, do ecumenismo como prioridade suprema, enfim, muito além da avaliação que o leigo possa conferir às doutrinas da Sé.

  Essa carta de Sua Santidade se insere dentro de um outro contexto, com essa mesma diversidade de interpretações de Deus e dos homens, diante da postura do bispo de Recife e Olinda, dom José Cardoso Sobrinho, sobre a excomunhão de pessoas envolvidas no aborto de uma garota de 9 anos, estrupada pelo padastro.

  Também, neste caso, a internet teve um papel importante na difusão da notícia, levando-a ao mundo rapidamente e expondo uma face da igreja, de um bispo conservador, fora do seu tempo e até da própria igreja.

  Porque, se até o papa admite a remissão dos bispos de Lefbvre, e a CNBB, através do seu presidente Dom Dimas Lara da Rosa, sem desautorizar o arcebispo fez objeções contrárias a excomunhão da mãe da menina, vê-se, as múltiplicas faces da igreja, agora expostas por um meio de comunicação global, em tempo real.

   Voltemos então ao papa em sua carta: Que pelo menos estamos ameaçados pelas mesmas tentações? Que temos que aprender sempre de novo o reto uso da liberdade? E que devemos aprender sem cessar a prioridade suprema: o amor? No dia em que falei disto, no Seminário Maior, celebrava-se em Roma a festa de Nossa Senhora da Confiança. De fato, Maria ensina-nos a confiança. Conduz-nos ao filho, de quem todos nós podemos fiar-nos. Ele guarda-nos-á, mesmo em tempos turbulentos.

   Agora, digo eu, tudo isso sob os olhares da internet, uma rede mundial de comunicação, sem fronteiras, com pensamentos multidirecionais.

   A Igreja Católica, portanto, tem que ser mais contemporânea no agir com suas comunidades, interpretar a doutrina à luz da realidade dos povos, e, como quer Bento XVI mais antenada com a web.

   Caso contrário vai perdendo mais seguidores e ficando para trás.