O ESTILO "DENDÊ NO SANGUE"

Tasso Franco
16/02/2009 às 13:00
Semana passada falamos aqui da chegada a Salvador da turma do "Dendê no Sangue". Ou seja, pessoas consideradas por muitos como celebridades, baianos e outros residentes no eixo Rio/são Paulo, os quais, amam a Bahia, adoram Salador, "terra linda, maravilhosa, cativante, de uma mdiversidade cultural impressionante", mas, só durante o período do verão/Carnaval. Na quarta-feira de cinzas procure um (a) "Dendê" na missa de cinzas de Dom Geraldo Majella que nem pelos santos óleos se encontra.

Hoje, vamos comentar sobre o estilo e/ou modus vivendi de um (a) "Dendê", independente daquelas coisas que já abordei - dizer-se amiga de uma mãe de santo, usar fitinha do Senhor do Bonfim nos pulsos, produzir o cabelo no modelo tererê, ir ao ensaio da Timbalada, frequentar o camarote de Daniela Mercury - pois, já estamos no pré-Carnaval e este é o período de amor eterno à cidade, até que dure. Digamos assim, na fase de aquecimento, das promessas de investimentos, de realizar negócios, tudo com o objetivo de levar algum capilé da cidade.

Tem até uma empresa que deslocou para Salvador seu "Núcleo de Cultura e Celebridades" e está pinçando a lupa de Holmes, pente finíssimo, tais personalidades para frequentar os longues e camarotes vips durante o Caranval. E tem uma outra que vai produzir um rega-bofe intitulado Concept Hotel By Mercuse. Rega-bofe é o termo popular porque no Concept rolarão champagne, caviar, pratos especiais produzidos por chefs de cousine e barmens importados de Istambul.

O estilo "dendê" é esse. Nada de pé no chão e/ou sai do chão, porque uma sandália Boulandi custa caro e ainda está sendo pago no cartão, cultura popular carnavalesca só para fazer fotos. Negões e negonas! Sh! são lindos (as) com aquelas indumentárias afro-baianas. Mas, paciência, "elas lá e nós cá". Uma foto com a Deusa do Ébano pode ser e/ou até com Josélio e Peruano do Malê Debalê, idem-idem. Mas, só se eles estiverem no camarote. Aí, tudo bem. Agora, ir lá no Malê, no chão, isso é coisa de turista japonesa, no máximo.

Um "Dendê" jamais sai no Filhos de Gandhy. Isso lé é coisa! Aquele bando de homens lançando água de colônia no povo e beijando mulheres nas ruas. Um Gandhy beijar uma "Dendê" impossível porque elas adoram ver o desfile e até receber uns colares, lançados por alguém, mas, não arredam pé dos camarotes e longues. Retocar a maquiagem, usar a internet, comer do bom e do melhor patrocinado pela Sadia, e até provar um acarajé, produto da culinária baiana que chama de bolinho.

Porque acarajé pode dar dor de barriga. É forte. E um (a) "Dendê" está acostumada com spagheti a la putanesca, camarões a alho e óleo refogadinhos, e não uma porção de passarinha. Aliás, as baianas de acarajé contratadas pelas "promoteres", as babás das "Dendês", não colocam passarinha e bolinhos de estudantes nos tabuleiros, porque são produtos de segunda categoria. E um (a) "Dendê" é de primeira. Cozinheira para servir um (a) deles (as) tem que ser chef. Nem quituteira serve. É pejorativo.

Sabe uma coisa que um (a) "Dendê" adora mesmo durante o Caranval e as babás providenciam isso nos camarotes são massagens relacantes em sauna com exaustor, luz e ozônio; massageador com infravermelho, e até aquelas maquininhas para dar conforto aos pés. " É horrível ficar vendo esses desfiles repetitivos de trios o tempo todo", confessa uma delas. Daí que é preciso relaxar, descansar, mesmo quando estão nos camarotes. Pois, ninguém é de ferro para ficar duas ou três horas em pé.

E o deslocamento da turma "Dendê" do hotel para os circuitos da folia? Ah!É uma operação de guerra. As babás providenciam tudo: segurança aos montes, vans e mais vanas com cortininhas nos vidros para que não vejam o povo, sistemas de rádio, roteiros especiais e até uso de helicópteros Tudo é feito por empresas privadas de segurança com eficiência impressionante. E, é claro, com a colaboração instituições pátrias.

Na pista do aeroporto de Salvador tem que haver sempre um ou mais jatinhos de plantão para atender os desejos e roteiros dos (as) "Dendês" que faturam em Salvador e outras praças. Tem gente que, no mesmo dia, aparece na telinha em Salvador e em São Paulo, em horários diferentes, num camarote vip da Bahia e numa Escola de Samba paulistana. É uma vida sofrida minha gente!

A baianada nativa no modelo "Dendê" adora paparicar esse pessoal. E como gostaria de ser um (a) "Dendê". Mas, quem nasce na Província está só para aplaudir e pagar a conta.