TURMA DO "DENDÊ NO SANGUE" JÁ CHEGOU

Tasso Franco
05/02/2009 às 13:10

Foto: Foto: Arquivo
Ambiente camarótico dos "Dendês no Sangue" no Carnaval de Salvador
    Estamos às vésperas do Carnaval de Salvador a única manifestação da cultura popular baiana que tem uma grande visibilidade na midia nacional e citações e cobertura na internacional. Hoje, dia de Iemanjá, para muitos uma prévia anunciada do Carnaval, o que não tem nada a ver uma coisa com a outra porque Iemanjá é, entre as festas de largo da cidade, aquela que reverencia, isoladamente, uma orixá sem relacionar-se com o sincretismo santificado da igreja católica, registre-se que a turma do "Dendê no Sangue" já está atuando, e como, na praça da capital baiana.

           
    Melhor explicando aos queridos (as) leitores (as) essa turma é àquela que ama a Bahia, adora a cidade do Salvador e sua gente, reverencia o candomblé, usa fitinha do Senhor do Bonfim nos pulsos, faz tererê nos cachos wella, mas, tudo isso só na época do Carnaval quando os holofotes estão voltados para a cidade. E, obviamente, adora capilé, grana, bufunfa, e se posiciona em todo tipo de merchandsing e outros artifícios do momento para faturar.

           
    Passado o Carnaval e apagados os holofotes a turma "Dendê no Sangue" retorna ao eixo Rio/São Paulo, onde a maioria de seus integrantes reside, inclusive alguns baianos, e começará tudo novamente, em 2010. É claro que retorna com capilé nos bolsos e nas contas bancárias, juras de amor pela cidade, mais contratos à vista para o próximo verão, promessas de realizar projetos importantes para a capital baiana, tudo gaiva, conto do vigário, porque essa turma sabe trabalhar muito bem as aparência, é especialista na matéria, e como Salvador é uma Província, todo mundo acha lindo, maravilhoso e concorda com esses malandros.

           
     A primeira coisa que um (a) "Dendê no Sangue" faz quando chega a Salvador é aproximar-se de uma mãe-de-santo famosa, ir a um terreiro de candomblé, e mostrar-se simpático (a) a esse culto, embora, pouco distinga o que seja um orixá ou um santo católico. Isso é o de menos, pois, se a baianada entente que Senhor do Bonfim é Oxalá e vice-versa, um (a) "dendê", de imediato, versa sobre a matéria com desenvoltura.

           
   O segundo passo é usar a fitinha do Senhor do Bonfim nos pulsos, frequentar o Soho e os rega-bofes das promotoras de eventos, tirar fotos para Caras e Contigo, badalar o quanto for possível, obviamente, sempre destacando o amor pela cidade, "essa terra maravilhosa", "terra encantadora","terra da diversidade cultural", e por aí seguem dizendo, inclusive, que vão morar na Bahia, isso e aquilo, fazer investimentos, comprar solares e assim por diante.

           
   A propósito, quem estiver mesmo a fim de comprar um belo solar (Santo Antonio), no corredor do Carmo, o artista plástico e produtor cultural Dimitri Ganzelevitch está vendendo o seu por um preço justo.  Então, quem  sabe, pode ser que um "Dendê" se interesse por ele.

           
    O terceiro momento do (a) "Dendê" é conhecer a Timbalada de Carlinhos Brown, agora no Museu do Ritmo, mostrar intimidade com os tambores, sacolejar as cadeiras, pintar o rosto e os braços à moda timbaleiro (seios não, porque pra ver os seios de uma "Dendê" tem que falar com seu produtor e isso envolve grana) e dar entrevistas na TV, sair fotos nas colunas sociais, pedir a Mônica Bergámo da Folha de São Paulo pelo amor de Deus para destacar sua foto e assim por diante.

           
     Finalmente, o orgasmo final é durante o Carnaval. Mas, nada no chão desfilando nos blocos ou acompanhando um afro na madrugada. A turma "Dendê no Sangue" frequenta camarotes, de preferência no momento em que a TV estiver levando ao ar matérrias nacionais, se transporta de helicóptero, se hospeda em hotel chic, e só está na folia naqueles momentos estratégicos. Passar na saída do Ilê Aiyê só se for pra ficar no balcão da casa da Mãe Hilda, no máximo. Subir a ladeira do Curuzu acompanhando a batéria com aqueles "negões" tocando tambor nem pensar.

           
    Um (a) "Dendê" é chic e chic morrerá. Pés no asfalto só na Marquês de Sapucaí. E veja lá. Melhor lugar mesmo é no Camarote da Brahma. Na Marques de Leão atrás da Banda do Habeas Copus só a turma da baianada do dendê original. Agora, no Camarote da Daniela Mercuty vai sim porque é vip, é sensacional, é Mastercard, só tem gente bonite, tem a Band, a Record, a Globo. Opa! Sair uma pontinha na Globo nacional é a glória.

         
     Daniela inclusive é o máximo porque ela é vip e povão ao mesmo tempo. Este ano, inclusive promete um candomblé eletrônico na avenida. Deve ser para acordar Olodumaré e deixar filhas-de-santo surdas. Na Província ou terra de cego quem tem olho é rei. E a "Turma do Dendê" adora essas invencionices, essa "criatividade" baiana, Zombalino, Dalila carregada por negões, e viva a Bahia e até o Carnaval de 2010.

           
    Na quarta-feira de cinzas procure um (a) "Dendê" na missa. Quem achar leva um prêmio.