25 ANOS DO COMÍCIO DAS DIRETAS JÁ EM SALVADOR

Antonio Jorge Moura
31/01/2009 às 20:01

Foto: Foto/Divulgação
Pouca gente sabe, mas foi o locutor Sílvio Mendes, hoje na Record, quem apresentou o comício
O comício pelas Diretas Já em São Paulo comemorou 25 anos em 25 de janeiro de 2009. Reuniu mais de 1 milhão de pessoas no Vale do Anhangabaú e culminou um processo de luta política da sociedade brasileira nos anos 1970, marcados pela luta armada e pela acumulação de passos em direção à democracia e que levou ao encerramento da ditadura militar de 64.

Porém, um dos primeiros grandes comícios pelas diretas aconteceu aqui em Salvador, no ano de 1983, que reuniu mais de 20 mil baianos na Praça Municipal e que teve a presença do presidente do PMDB, Ulysses Guimarães, do então governador de Minas Gerais, Tancredo Neves - depois eleito Presidente da República pelo Colégio Eleitoral de deputados e senadores, - o governador de São Paulo, Franco Montoro, e o presidente do PMDB de Pernambuco, senador Marcos Freire, entre outras personalidades. Era o começo dos grandes comícios nas capitais brasileiras pelas Diretas.

A organização foi do então presidente do PMDB da Bahia, Marcelo Cordeiro, e do secretário-geral, Genebaldo Correia. Eles tiveram a cautela de solicitar a liberação da praça ao governador do estado, Antonio Carlos Magalhães, que já havia liberado antes a realização, no Centro de Convenções, do congresso que reorganizou a União Nacional dos Estudantes (UNE) e projetou seu primeiro presidente pós-reorganização, o baiano Luiz César Costa Silva.

O palanque foi o alto das escadarias do Palácio Thomé de Souza. O clima era de apreensão e medo. Somente os jornais noticiaram a realização do comício. Nada de rádio e muito menos de TV. O AI5 ainda vigorava. A experiência acumulada pelo PMDB era da comícios pelas diretas nas cidades do interior, onde a mobilização era mais fácil e a realização de evento político era sempre novidade, quebra de rotina numa cidade pequena.

Foi marcado para as 20hs e o "comando" da manifestação reuniu-se no gabinete da Presidência da Câmara Municipal, onde seus membros conversavam e aguardavam a chegada dos manifestantes.
 
O Brasil já tinha seu "locutor das diretas", Osmar Santos, que agitou outras praças. Não havia condições de trazê-lo e a saída foi convidar um locutor baiano. O escolhido foi o locutor esportivo Sílvio Mendes, já nos anos 80 do século passado possuía grande audiência e repercussão nos meios populares. Irmão do jornalista esportivo Roque Mendes e freqüentador das rodas boêmias da Cantina da Lua, no Terreiro de Jesus, Silvio topou a parada. Sem cachê. Pela contribuição ao grito das ruas pelas diretas.

Claro que outros locutores tentaram desestimulá-lo com comentários ameaçadores de que ele passaria a ser perseguido pelo regime, mas o "negão" manteve a palavra. E lá estava ele no alto das escadarias da Prefeitura comandando a massa. Ninguém do comando do PMDB esperava tanta adesão ao comício. De repente, como se movimentadas por uma energia cívica imperceptível, as pessoas foram chegando. Pela Misericórdia, pela Rua Chile, pela Ladeira da Praça e pelo Elevador Lacerda. A praça ficou lotada.

O comando do PMDB baiano, que continuava no gabinete do Paço Municipal, nem percebeu essa mobilização espontânea. Quando foi alertado de que o povo havia chegado e enchia a praça foi que saiu na sacada para vislumbrar a multidão, a praça cheia. Todos desceram as escadarias numa alegria incontida e tomaram seus lugares no "palanque". Salvador marcou presença nos Comícios pelas Diretas que abalaram os alicerces da ditadura militar no Brasil.