A BAIANADA EM MANHATTAN

Tasso Franco
29/12/2008 às 13:02

Loja da Apple, um dos centros de consumo da baianada
Nova Iorque - A crise nos Estados Unidos - berço inicial do problema com a quebradeira das empresas do setor imobiliário - preocupa a uma grande faixa da população deste país e é assunto que está na mídia com muita intensidade. Nesta cidade, no entanto, parece que passa ao largo diante da intensa procura desse centro de negócios, cultura e lazer mundiais onde uma boa parte da população é flutuante e tem, consigo, uma razoável quantidade de dólares para gastar.
 
  Não se vem a Nova Iorque de uma hora para outra. E, nesta época do ano, onde encontrar um hotel com vagas é mesmo que achar uma agulha em palheiro, isto se a reserva não for realizada com bastante antecedência, tudo é muito repleto de gente nas casas de espetáculos, restaurantes e lojas, apesar da chiadeira geral de que o consumo caiu bastante. 
 
 Para o norte-americano médio, acostumado a esbanjar o que pode e não pode, natural que assim estivesse acontecendo. Para os brasileiros, que vêm com os dólares contados e com as prováveis compras de eletrônicos e outras já organizadas na ponta do lápis, isso não tem a menor importância ou causa constrangimentos. A baianada então, agora com vôo direto de Salvador/Miami/Nova Iorque sem precisar ir a São Paulo, podendo ainda pagar no cartão em 5 vezes, nada melhor. 

  Está mais barato do que passar um fim de semana em Costa de Sauípe ou no Hotel de Biliu no Jorro. É certo que não se recomenda ir à Ópera Meat a preço entre US$140 a US$295 ou jantar nos restaurantes caros e de comida pouca, mas, existem programas e mesas mais baratos e acessíveis à baianada. Aliás, baiano gosta mesmo é de ir a Times Square e ficar chutando montinhos de neve e tirando fotos para o álbum da família. 

  Todo mundo está careca de saber que, o que menos existe em Nova Iorque são norte-americanos, salvo aqueles que controlam os negócios no comércio e nas bolsas, especialmente os judeus e seus descendentes. A cidade é tão cosmopolita para quem está de passagem que se misturam europeus, asiáticos e latinos nos pontos de maior visibilidade turística. 

  O maior escândalo em curso é o gigantesco esquema Ponzi do megainvestidor Bernard Madof com sua pirâmide fictícia e ganhos mirabolantes, o qual, passou a perna em investidores de toda natureza, arrastando consigo para o buraco milhares de pessoas e instituições. Os americanos de uma forma geral, sobretudo aqueles da classe média que estavam aposentados e acostumados a receber dividendos de fundos de pensões estão assustados (e boa parte quebrados) com essa facilidade em fraudar o consumidor nos Estados Unidos.  

  Agora é tarde e Inês está morta. Todas as cartas e esperanças estão sendo jogadas em Barack Obama, pois, a credibilidade de George W. Bush é zero, ninguém arrisca um tostão furado para colocar em jogo neste momento. Até que Obama assuma o comando da Nação, em 20 de janeiro próximo, deverão pipocar mais escândalos e incertezas. Embora, ninguém acredite que o novo presidente se apresente como "salvador da Pátria", aquele que tem uma varinha de condão para pôr fim à crise de uma hora para outra, Obama é a nova estrela guia. O David. 

  O problema é grave e estrutural. Além do que, global. A engrenagem da globalização, tão falada, quebrou um elo (o mais forte que são os Estados Unidos) e para consertar esse mecanismo vai durar alguns anos ou décadas. Uma coisa parece consensual: o petróleo como motor da economia e o automóvel como objeto de desejo vão passar por grandes transformações nas próximas décadas. 

  Nada disso, no entanto, assusta a baianada que se encontra em Manhatann. Ainda não fui comer uns bagos de jaca numa esquina da Quinta Avenida com a 34 porque, infelizmente, aqui não é como a Marques de Leão, na Barra, onde vende-se jacas mole e dura a retalho e um litro de acerola a R$2,00. Menos de 1 dólar. 

  Dizer que esta cidade faz frio e neva é pura esnobação. Todo mundo sabe disso. Quem não quer esse modelo de clima vai para United States Of Sergipe para o Carnacaju ouvir Bel Marques, comer caranguejo no bar de Amanda e andar de sungão. Por ora, no Soho original, vamos experimentar uns petiscos à moda tailandesa. 

  Como diria o confrade Otacílio Fonseca até a próxima e passar bem.