O FUTURO É O VINIL

Sócrates Santana
26/12/2008 às 11:04
Divulgação
O "bolachão" retornou às paradas com crescimento de vendas

O chiado da agulha. O vinil rodando na vitrola, como um baile ou os anéis de saturno. Ao ouvinte o prazer de não apenas ouvir. Mas, também contemplar a arte gráfica despojada sobre um vasto quadrado, como uma tela. Além do sopro nivelador sobre a poeira que apazigua no disco as lembranças da noite anterior. A pausa para trocar do lado A para o lado B. Em plena época do MP3, do iPod, iPhone, ai isso e ai aquilo, o futuro continua sendo o vinil.

Uma pesquisa divulgada pela Nielsen SoundScan (empresa que monitora a movimentação da indústria fonográfica estadunidense) avisa que cerca de 1 milhão de LPs foram comprados em 2007, ante 858 mil em 2006. Com base nas vendas do 1º semestre de 2008, o número pode pular para 1,6 milhão até o fim deste ano. E quais são os motivos para esse boom? Ainda que seja um defensor assíduo da cultura do copyleft, é custoso afirmar que a principal causa desta retomada seja justamente a difícil missão de piratear o nostálgico "bolachão".

Os discos de vinil aterrissaram no Brasil em 1958 e atingiram seu auge na década de 80. Existiam 06 grandes fábricas - a principal delas, a RCA, tinha 45 prensas e produzia 03 milhões de LPs por mês. Em 1994, quando o compact disc já fazia sucesso, o Brasil foi o país que consumiu e produziu mais LPs no mundo - algo em torno dos 15 milhões. O presente perdeu a sua medida de futuro e virou passado. A agulha perdeu o rumo e o vinil teve de se contentar em ser exibido apenas em sebos e coleções na avenida sete de setembro.

Agora, no século dos sobreviventes do caos cibernético, experimentamos a sensação de sermos o futuro que não passou. As grandes gravadoras sem um norte para seguir e diante da simplicidade de consumir música na internet, re-descobriram os discos de vinil. De fetiche dos colecionadores, o vinil agora conquista os jovens. O músico Lenine lançou seu último trabalho em três mídias diferentes (CD, Pendrive e Vinil). O CD é o passado, o Pendrive o presente e, quem diria, o futuro é o Vinil.

Além da complexa tarefa de copiar as 33 rotações, existem também argumentos plausíveis para optar pelo vinil. As gravações em CD ou MP3, por serem comprimidas digitalmente, teoricamente "cortam" as freqüências mais altas e baixas, eliminando ecos, batidas graves e a espacialidade do som. Outro aspecto técnico interessante é o fato de que o disco de vinil mantém uma relação física com o áudio nele gravado, pois o som é gerado pela vibração da agulha do toca-discos quando passa pela trilha (sulco), dando a impressão de que a música está ali, presente, forte.

Salve, salve o vinil de Ataualba Meireles, Alexis Bittencourt, Fabrício Jabar, Ismael Teixeira, Cosme Lima, Artur Carneiro e dos sobreviventes do caos. Vida longa para o velho Bira Santana, mas, que fique registrado no testamento: a radiola fica com o meu primogênito. E os vinis também.