NEW DEAL VERDE E BARACK OBAMA

Rosane Santana
12/12/2008 às 22:52
Foto: Foto: AP
Estão sendo esperadas 4 milhões de pessoas para a posse de Barack Obama, em janeiro
 

Diz o ditado que a esperança é a última que morre. A crise econômica que, segundo especialistas, deverá apressar o fim do dólar como moeda de reserva - símbolo da hegemonia e do poderio americano no mundo, desde a Segunda Grande Guerra Mundial - não será suficiente para empanar o brilho da cerimônia de posse de Barack Obama, em Washington D.C, dia 20 de janeiro próximo, para a qual estão sendo esperadas cerca de quatro milhões de pessoas.

 

É o que demonstram os resultados de pesquisas divulgadas pelas redes de televisão americanas, que dão ao presidente eleito índices históricos de aprovação, junto à opinião pública, embora especialistas ressaltem ser o fenômeno muito comum após desastres nacionais. Entendem como desastre, neste caso, a Era Bush, considerado o mais impopular líder americano e classificado como fascista até mesmo por conservadores, como o ex-colaborador de Richard Nixon, John Dean, no livro Conservative Without Conscience (Conservadores sem consciência).

 

Convém, e é esperado um evento menos pomposo e um discurso mais realista do presidente, após os números do desemprego revelados em novembro - os maiores desde 1974 - e o anúncio oficial de que o país está em recessão, feito pela Casa Branca. O plano econômico anunciado por Barack Obama para reverter o quadro recessivo, com investimentos maciços em infra-estrutura, ainda não convenceu especialistas sobre a eficácia para gerar 2,5 milhões de empregos em dois anos. Somente nos últimos meses, 1,5 milhão de postos de trabalho foram perdidos e, com base em dados do Departamento do Trabalho dos Estados Unidos, mais de quatro milhões de pessoas estão vivendo com o auxílio do seguro-desemprego - o índice mais elevado desde dezembro de 1982.

 

Atento ao fato, o próprio presidente encarregou-se de diminuir as expectativas, afirmando que "as coisas vão piorar antes de começarem a melhorar" na tentativa de aplacar as cobranças por resultados mais imediatos, que, com certeza, virao. Especialistas entrevistados pela National Public Radio (NPR), cuja programação, incluindo textos, áudios e vídeos têm funcionado como baliza para muitas discussões sobre política, educação e meio ambiente na prestigiosa Universidade de Harvard, são céticos quanto a eficácia das medidas econômicas propostas pelo presidente eleito para geração de empregos no curto prazo.

 

"In general, infrastructure spending is too slow. It's not really a good stimulus tool. But certain things, like road repair, could be done more quickly ("Em geral, investimentos em infra-estrutura são muito lentos. Não é realmente uma boa ferramenta de estímulo. Mas, certamente, coisas como reparo de estradas, seriam feitas mais rapidamente"), disse a NPR, o economista Alan Viard, do American Enterprise Institute, doutor em economia pela Universidade de Harvard.

 

Barack Obama foi eleito sob pressão da opinião pública por mudanças na economia e na política externa norte-americanas, áreas que representam o calcanhar-de-aquiles da Era Bush. No entanto, as medidas anunciadas até agora pelo presidente, para mudar o panorama econômico, além do maior investimento em infra-estrutura (promessa, nada mais que promessa, por enquanto), desde os anos 50 do século passado, restringem-se ao desdobramento do pacote de ajuda financeira proposto por Bush, para os setores mais afetados da indústria e do comércio com o congelamento do crédito.

 

Todas as análises indicam que a margem de manobra é muito estreita na economia e os desastres continuarão ainda como um tsunami, sem hora para terminar e sem porto seguro, causando forte abalo nos países da União Européia, Ásia, especialmente Japão e China, e no mundo como um todo.

 

Na política externa, a situação não é muito diferente. O discurso de Barack Obama ("esmagar a Al-Qaeda de uma vez por todas" e "capturar ou matar Osama bin Laden") para justificar o envio de mais tropas ao Afeganistão, que tem o apoio do seu ex-rival e republicano John MacCain, parece plagiado de George W. Bush e sua "guerra contra o terror", iniciada apos o 11 de Setembro, de quem herdara', inclusive, o secretário da Defesa, Roberto Gates. Idem para a proposta de oferecer um guarda-chuva nuclear a Israel para que o estado judeu proteja-se das ameaçaas representadas pelo Irã. As duas decisões certamente vão continuar fomentando o anti-americanismo no Oriente Médio islâmico e contribuindo para aumentar as ameaças terroristas, numa guerra sem fim.

 

A novidade, tudo indica, virá do setor energético, com a anunciada disposição de Barack Obama de "colocar a energia alternativa, o meio ambiente e a mudançaa climática no centro da definição americana de segurança nacional, recuperação econômica e prosperidade". A indicação do Prêmio Nobel de Física de 1997, Steven Chu, promotor da pesquisa de fontes energéticas renováveis, para secretário de Energia, e' uma demonstração do esforço nessa direção.

 

Representa ainda uma tentativa de colocar os Estados Unidos na liderançaa da luta contra o aquecimento global, depois da resistência a iniciativas como o Protocolo de Kyoto, na Era Bush, no momento em que a União Européia discute um novo tratado climático e o presidente da ONU, Ban Ki-Moon, propõe um "New Deal Verde" para combater as alterações no clima e no meio ambiente.