ELEIÇÕES NO BAHIA: UM MUDO FALANDO

José Roberto Tolentino
11/12/2008 às 15:09

Como vocês devem ter observado (ou deixado de observar), tenho me mantido em total mudez em relação a esse processo eleitoral no Bahia, por todas as razões do mundo.

Primeiro: não sou Conselheiro, portanto não voto;

Segundo: pouco adiantaria se votasse, pois é um jogo de cartas marcadas. Não é uma eleição. É mais uma aclamação, um beija-pés, um lambe-botas, por parte dos usuários das sesmarias para o donatário da Capitania Hereditária que é o Esporte Clube Bahia - desculpem se a metáfora não ficou suficientemente clara;

Terceiro: se eu me pronunciasse e reforçasse a total imoralidade que é essa composição fraudulenta do Conselho Deliberativo do Bahia, poderia reforçar a possibilidade de suspensão ou cancelamento das eleições por parte da Justiça. E isso eu não estava querendo nesse momento. Não sei o que é pior para o Bahia - se ter logo um presidente eleito (pelas vias imorais que vêm se sucedendo desde sempre) ou ter um interventor nomeado pela Justiça, que pode até vir a acertar aqui e ali, mas será bem mais um administrador de massa falida, com obrigações e restrições legais, enquanto um presidente eleito, fosse ele quem fosse, poderia por em prática um projeto qualquer, atrair investimentos, fazer parcerias, contratos, distratos, acordos, etc.

Mas o diacho é que os meus temores se concretizaram: a Justiça suspendeu as eleições. Agora a vaca foi pro brejo e não faz mais sentido me manter cautelosamente mudo e omisso.

Não posso criticar a Associação Bahia Livre por ter entrado com esse pedido de liminar para suspensão das eleições. Oposição tem que incomodar mesmo e usar os instrumentos legais que estejam à sua disposição. Afinal, apesar de ter e apoiar um dos candidatos inscritos inicialmente (o Engo Fernando Jorge), a derrota no pleito, diante das regras do jogo, já seria bastante previsível se o Conselho fosse mantido com a atual composição etérea. Além disso, o pessoal da situação, sem a menor noção de ridículo, ainda costuma tripudiar sobre a oposição dizendo que esta só tem conseguido historicamente poucos votos no tal Conselho viciado.

Essa eleição por colégio eleitoral restrito é mais um entulho autoritário e ditatorial, cuja mudança não interessa aos detentores do poder, acostumados que estão com a manipulação impune de mecanismos espúrios para compor um Conselho que lhe seja amplamente favorável e servil. Os que temos idade para ter testemunhado o difícil processo de dissolução da ditadura militar no Brasil estamos vendo acontecer o mesmo nas hostes do Bahia, só que a passagem para um status plenamente democrático está com um atraso considerável, encontra mais resistência, e nem dá mostras de ter data para vir a acontecer. Os militares que governaram ditatorialmente o Brasil por 20 anos, parece, tinham mais vergonha na cara e mais auto-estima que o grupo que vem mandando no pobre Bahia-de-meu-Deus.

Também não posso fazer nenhum reparo à decisão da juíza que concedeu a liminar para suspender as eleições. As irregularidades nessa composição do Conselho são tão flagrantes que até Robgol (vendedor de sorvete da saudosa Fonte) poderia ser acionado para emitir um parecer sobre o caso e concluiria facilmente que a formação desse conselho tem os pés no lodo.

Ainda não estou suficientemente informado, mas as notícias preliminares dão conta de que a tese que justificou o pedido de liminar foi a de que a relação de conselheiros não tinha sido registrada em cartório. Acho pouca coisa, porque essa relação pode perfeitamente aparecer aí cheia de carimbos com registro em cinco cartórios diferentes e data até anterior à do nascimento de Baiaco! Ou com uma tinta ilusionista, que faça a data e nomes mudarem constantemente, a depender do ponto de vista de quem olha. Não duvido é de nada! Tipo assim: o que vocês exigirem, nós apresentamos.

Mas uma coisa vai ser difícil de explicar. Como é que consta o nome de Reub Celestino na relação do Conselho se ele mesmo declarou que nunca foi sócio nem fundador, nem remido, nem patrimonial nem contribuinte, nem zorra nenhuma? Segundo o estatuto em vigor, ser uma dessas modalidades de sócio e cumprir outras condicionantes é condição sine qua non para ser eleito para o Conselho. Quantos nomes irregulares na relação são necessários para se atestar que o Conselho Deliberativo do Bahia, eleito em 2006, é uma fraude? Para mim basta um. Será que para a Justiça terão que ser todos os 300 de Esparta? E onde está a relação dos 100 Conselheiros suplentes que devem ser eleitos pela Assembléia Geral na mesma chapa e que se destinam a ocupar as vagas daqueles efetivos que venham a falecer ou apresentar desistência ou desligar-se do quadro social ou a faltar a 03 sessões seguidas ou a 05 sessões alternadas ou tenham outro impedimento qualquer?

Minha humilde conclusão é que esse Conselho que está aí não pode eleger ninguém, porque lhe falta a devida legitimidade. Como dizia um nada saudoso ex-presidente tricolor: "Iço num iziste!"

O atual presidente Petrônio Barradas acaba de emitir um Ato Oficial concedendo anistia a todos os sócios em situação de inadimplência. Essa medida parece já ter sido tomada anteriormente às vésperas de eleições, para evitar justamente que Conselheiros inadimplentes, mas sujeitos ao cabresto da situação, fiquem inelegíveis ou deixem de exercer o voto que é tão caro aos situacionistas. Ninguém é besta de achar que a motivação dessa anistia é devida aos "constantes pedidos de grande parcela de Sócios no sentido de terem seus débitos anistiados", como consta do texto do tal Ato Oficial. Se a diretoria fosse tão sensível aos pedidos de grande parcela dos sócios, já devia ter cometido haraquiri há muito.

Agora vamos ver os desdobramentos. Ouvi que o interventor sugerido pelo grupo que impetrou a ação foi Reub Celestino. Esse nome parece não ter sido ainda acatado pela Justiça. Espero que a decisão não tarde, pois se, com uma transição normal, já estamos em cima da hora para planejar e executar o nosso futuro próximo, quanto mais se esse negócio ficar rolando aí indefinidamente.

Pronto, taí, falei! Mas, por alguma razão, ainda me sinto mudo.