OBAMA E OS BLOCOS AFRO DA LIBERDADE

Marco Gavazza
06/11/2008 às 17:20
  Creio que dificilmente eu seria eleito vereador pelo bairro da Liberdade, aqui mesmo em Salvador. Sou branco e por lá nem bloco de carnaval aceita gente como eu, sem uma cor que tenha simbolismo político.
 
  Acho isso engraçado; o bastar possuir uma determinada pigmentação de pele para se tornar um símbolo de uma ideologia política ou social.
 
  Mas Obama está na Casa Branca. Desculpem, não é uma piada ou uma provocação com traços racistas. É o fato.
 
  O novo presidente norte-americano é negro e o palácio de onde ele irá governar chama-se White House, ou seja, Casa Branca. Ao menos, por enquanto. Não quero falar sobre racismo escancarado ou velado, nem lá nem cá.

  Minha dúvida é outra. Porque o povo americano fez sua escolha dando peso 8 (numa hipotética escala de 0 a 10) à cor do candidato; assim como o povo brasileiro também deu peso alto ao despreparo escolar e cultural de Lula há oito anos atrás?

  Qual é o aval existente para que critérios assim possam fazer as pessoas anteverem uma linda paisagem depois da curva? Kennedy era branco e muito culto. Fez um governo magistral.
 
  Bush é branco e bronco. Enterrou os Estados Unidos num lodaçal econômico e social. A lista de ditadores negros que fizeram da África um continente estacionado na Idade Média é longa. Nelson Mandela também é negro e lançou luz sobre o problema escancarando-o para o mundo.

   Winston Churchill fumava o tempo todo, bebia em jejum e se empanturrava de presunto. Estava a jardas de distância do padrão fleumático do comportamento britânico e das características esperadas de um chefe de estado.

  Salvou a Europa da destruição completa na 2ª Guerra Mundial. Adolf Hitler era vegetariano, abstêmio, apreciador de arte e possuía uma disciplina espartana. Além de, segundo alguns dos seus biógrafos, ser afável e liberal na intimidade.
 
   Quase eliminou a Alemanha da geografia mundial. Poderia seguir citando dezenas de exemplos, mas não é necessário. Intriga-me o fato de que negros americanos com Luther King e Jesse Jackson sempre defenderam os direitos naturais de seu povo contra a intolerância racista, mas sem buscar a Casa Branca, enquanto Obama desde o início de sua vida adulta voltou-se para a política.
 
  Obama, como qualquer cidadão com um nível mediano de informação, em qualquer parte do mundo, sabe que as decisões de um presidente passam pelo congresso e que por trás deste estão gigantescos interesses econômicos multinacionais. Esta não é uma conseqüência contemporânea e direta da globalização, como pensam muitos. Sempre foi assim. Simplesmente eram menos abrangentes.

  O que Obama poderá fazer para reduzir as diferencias sociais -reparem bem que não estou falando de diferenças raciais- existentes em seu país é praticamente o mesmo que vem sendo feito há séculos lá mesmo e em todo o mundo.

  Ou seja: quase nada. Excluindo-se uma Finlândia aqui, uma Suécia ali, um emirado acolá, o mundo inteiro é um imenso campo de batalha entre os que têm muito e os que têm muito pouco.

  Há muito tempo. Inclusive na natureza, onde a sabedoria popular foi buscar a expressão "a parte do leão". Sobrevivem os mais preparados. Darwin já sabia disso e nunca ousou atribuir a relação existente entre a teoria da evolução e o cenário político e histórico do planeta.

  Já estava bastante massacrado por insinuar que os macacos poderiam ser nossos parentes. Então, porque acreditamos que um Lech Valessa pode de repente transformar a Croácia num paraíso dos proletários? Porque alguns seguem acreditando que Fidel é bom para Cuba até hoje? Porque os americanos choram de emoção achando que Obama chegou para operar milagres?

  Acho que isso tem um nome. Esperança. Fé. Algo indefinido que não está presente na teoria evolutiva de Darwin nem no pensamento de enorme parte da humanidade. Mas que existe assim mesmo; sem comprovação científica, sem diplomas, sem sotaques, sem cor.