AS ATITUDES DE OBAMA E McCAIN NAS ELEIÇÕES AMERICANAS

Paulo Souto
06/11/2008 às 15:17
 Entre os vários aspectos que podem ser destacados na expressiva vitória do senador por Illinois, Barack Obama, candidato do Partido Democrata à presidência dos Estados Unidos, um ponto pouco destacado pela imprensa até agora é o que se pode chamar de respeito à liturgia do cargo.
 
   Mais do que apenas uma questão protocolar, os americanos criaram mecanismos e sabem levá-los adiante, que dão um aspecto ainda mais respeitoso ao que muitos consideram como o cargo político mais importante do planeta.

        
   Tudo se assemelhava até a um show de televisão, com tudo funcionando perfeitamente. Mas antes de parecer kitsch ou forçado, as etapas se sucederam com uma naturalidade própria de quem sabe a importância de cada situação que está acontecendo. Cada ator - sejam os candidatos vencedor e derrotado, seja a platéia e a própria imprensa envolvida na cobertura - tinha consciência exata do papel que deveria desempenhar para o bem da maior democracia do mundo.

        
    John McCain seguiu todos os ritos. Primeiro ligou para parabenizar o vencedor, depois fez um discurso rápido, mas eloqüente, elogiando o adversário, mostrando profundo respeito pelo resultado das urnas e conclamando a união dos americanos para enfrentar as graves dificuldades por que passa a nação.

    
     Em seguida, no horário exato anunciado pelas redes de televisão - e quem ficou ligado até mais tarde nos canais por assinatura pôde ver que todas as emissoras de notícias dos mais diferentes países do mundo transmitiam ao vivo - Barack Obama subiu no palco em Chicago com sua mulher e as duas filhas.

   Depois de acenos e cumprimentos à delirante multidão que há muito se aglomerava no parque, ficou sozinho e fez um discurso altivo, suave, afirmando que todos ali eram americanos e todos deveriam lutar pelo sonho fundador de sua nação que era a possibilidade de fazer da América sempre a Terra das Oportunidades.

        
   Não houve uma só palavra que não fosse pensada, sensata, correta, sempre no intuito de mostrar que ele era a partir daquele momento o presidente de toda uma nação e não apenas o vitorioso de um processo político. E Havia pelo menos dois fatores que poderiam tornar mais amargo o discurso do vencedor.

        
    Há apenas 44 anos havia acabado o racismo institucional, com o direito de voto dos negros. É muito pouco tempo para curar feridas históricas, para calar as injustiças, para aplacar ressentimentos. Nos Estados Unidos, durante muito tempo, o racismo era política de governo e algumas estados tinham duras leis de segregação, o que exigiu da população negra uma esforço ainda maior para que fosse eleito em 2008 o primeiro presidente afro-americano.

       
      E Obama também foi eleito num momento muito ruim da economia americana, com o país enfrentando sua pior crise desde 1929, e com uma política externa mundialmente combatida, alimentando guerras que gastaram recursos expressivos do Tesouro Nacional sem que houvesse uma finalidade realmente conhecida.

        
        Mas o que fez o presidente eleito.

        
        Vociferou contra o passado? Tripudiou sobre os derrotados - no caso o Partido Republicano? Estimulou o ódio e a divisão? Mostrou ressentimentos? Citou heranças malditas?

  
       Não. Obama falou em paz e conciliação, em união nacional, pois tem muito claro em sua mente que a partir de agora será o presidente de toda uma nação e não apenas de um partido político, de uma corrente ideológica.

     Obama é agora um líder de uma Nação e não mais apenas de um grupo que apenas pensava em chegar ao poder. Ele sabe que no poder não terá o direito de dividir um nação entre vencidos e vencedores, entre negros e brancos, nem de imaginar que os seus eleitores e a população americana ficarão satisfeitos se seu governo trabalhe no sentido de perseguir opositores, de retaliar os adversários eleitorais, ou de passar a maior parte de seu tempo pensando na reeleição.

        
     Apesar de ter exemplos extremamente fortes e representativos como o reverendo Martin Luther King, Obama preferiu citar Abraham Lincoln, considerado um dos pilares da Nação e que pautou toda a sua vida pela simplicidade, pela honradez e pela maneira humilde como tratava a todos.

        
    Esse talvez pode ser o maior exemplo que deveria ser seguido por todos os políticos em todos os países democráticos do mundo: Humildade na vitória e dignidade na derrota.