ÉTICA E POLÍTICA

Frei Ruy Lopes
23/07/2008 às 11:09
 

É muito bom para o expectador, atento das coisas do mundo e das coisas do ser, dar-se conta não somente do que a história precisa, mas do que ela mesma requer e aprecia. Melhor ainda para todos que sabem e se fazem protagonistas da história.


Vivemos nesta mudança ‘epocal' o ressurgimento de um desejo que nos lança em todas as direções... Mas que aponta também para dentro, para a estrutura do humano e ao mesmo tempo para o outro. Nesta estrutura do "humanun" está a ética como raiz de todos. O ser humano é por essência, um ser ético. Todavia, esquecemos princípios básicos que se traduzem em perguntas a si: posso, devo?


A felicidade não possui outra meta senão o próprio ser humano. O problema é que, hedonista ou não, o homem e a mulher, por ambicionarem a felicidade, esquecem e perdem referências importantes para si e para o outro. Ficam vazios e tristes e infelizes.


Se somos éticos e possuímos princípios e valores, podemos exercitar tudo isso numa conduta moral cotidiana. Somente assim poderemos ter uma visão de alteridade, com uma maneira de ver o outro como outro e não como um estranho ou um oponente, um inimigo. Se somos humanos, e nesta estrutura está a ética, ela nos ajuda em nossa humana convivência, uma vez que a nossa humanidade é compartilhada. Ser humano é ser junto e isto faz toda a diferença de uma vivência para uma convivência possível.


Reconhecer no ethos a possibilidade de gestar/elaborar estruturas de bem viver, de sentido da vida, de valores que subjazem ao modo próprio de ser e de viver do humano, é tarefa e missão de todos, em especial dos cristãos. Valorizar esta ‘matriz' como identidade primeira e profunda, é descortinar todo um horizonte de vida.


Em meio a tantos dilemas éticos do tempo presente, nossas decisões somente poderão ser abalizadas por um princípio ético que, conscientemente, nos aponte para a responsabilidade e o cuidado com a dignidade da vida.


Durante um tempo de nossa história houve um culto ao moralismo, um rigorismo moral que muito prejudicou à sociedade. Vivemos no tempo do resgate ético. É mais profundo porque estrutura e desenvolve o nosso comportamento moral.


Paradoxalmente, pela falta de referências e de valores que foram relativizados, vivemos um tempo de grandes escândalos morais. E isto não se restringe ao âmbito político. Quando "atacamos" políticos e os definimos como corruptos, na verdade estamos transferindo um problema nosso, cotidiano de nossas ruas e rodas sociais.

Fazer da classe política o "bode expiatório" não resolverá os problemas éticos que se manifestam em corrupção desmedida em vários níveis e setores da sociedade. Desde as pequenas "gorjetas", suborno explícito até práticas ilícitas feitas normais "porque todos fazem", são desafios que nos impelem a buscar transformações que começam dentro de nós mesmos.


Não se trata de pontos de vista. É um caminho a ser percorrido com olhos críticos e contemplativos, da razão e da fé, que possibilitam de forma objetiva, clara e concisa, apreciar o ser humano na sua estrutura ‘primitiva' marcada pelo ethos vital.


Necessário, ainda, não perder o horizonte histórico. Seja aquele fundante de cada um, sejam aqueles outros da sociedade.


            De todo modo a ambicionada felicidade somente será vivida e bem aproveitada na medida da tomada de consciência, da (re)descoberta do si mesmo de cada um. A partir de então esta felicidade virá como vigência da dignidade do ser.


O ser humano ou será ético ou não será humano
, é uma perspectiva que se está criando a partir do próprio horizonte do homem e da sua história. Não existe falta de ética, uma vez que esta sendo parte da estrutura humana se manifesta como a nossa humana habitação, a nossa "casa". Existe sim, a anti-ética, aquela que se difere da minha ou do meu grupo. Mas, é certo que não se pode encontrar uma sociedade relativamente saudável sem ter valores. Estes valores nortearão a nossa conduta moral prática.


O resgate do vital humano é tarefa de todos, embora pessoal. Não se trata de uma nova ética, mas de uma nova maneira de repensar a ética e a moral a partir do próprio humanum e não apenas de bem elaborados conceitos. È a perspectiva trabalhosa de nos reconhecer éticos. Tomar consciência de que precisamos resgatar em nossa estrutura humana estes princípios e valorar nossas ações e condutas.


Que essa consciência nos ajude não apenas a escolher bons candidatos nessas eleições, mas, sobretudo, a escolher novos caminhos para a vida pessoal e social dos brasileiros.