COISAS ESTRANHAS

Rosane Santana
06/06/2008 às 11:53
  Coisas estranhas andam acontecendo na Bahia na área de Segurança Pública, depois que saiu de cena o grupo político ligado ao ex-senador Antônio Carlos Magalhães, que governou o Estado nos últimos 16 anos, colocado na oposição por uma derrota acachapante, similar a de 1986, quando Waldir Pires venceu Josaphat Marinho, por uma diferença de 1,6 milhão de votos.

Aumento de violência, tráfico de drogas crescente, insegurança nas ruas, tudo que apavora a classe média e cria um ambiente de terror incompatível com a prosperidade econmica dos negócios e o bem-estar da população, diriam os estudiosos e observadores da cena.

 

A julgar pelas notícias que capto pela Internet e em conversas, pelo telefone, com amigos, a Região Metropolitana de Salvador virou, em pouco mais de um ano do novo governo do Estado, responsável pela Segurança Pública, local de decadência, banditismo e abandono. Curioso é que Jacques Wagner manteve intacto o comando da Policia Militar herdado do antecessor.

 

Em ano eleitoral, não precisa ser expert em marketing político para saber que esse ambiente é propício a um revival na cabeça do eleitor. Ressalte-se que já tem até candidato a prefeito batendo nesta tecla, aproveitando-se do medo da população, que não distingue competências entre os poderes, e quer uma solução para o problema.

 

 

Essa história tem um clima de d`eja´ vu. Em 1986, o desaparecimento de um trabalhador na periferia de Salvador, com a participação de policiais militares no crime, que ficou conhecido como "Caso Floquet", permanenceu como uma sombra no governo de Waldir Pires, político cuja trajetória, e a da mulher dele, Yolanda Pires, ja falecida, sempre esteve vinculada a luta pela democracia e os direitos humanos no Brasil e na Europa, onde o casal viveu alguns anos.

 

 

Pouca gente se recorda, mas a depredação permanente, por "vândalos", de escolas públicas reformadas e de novas escolas construídas foi ato contínuo no governo Waldir Pires, parecendo uma ação orquestrada. Por que a educação? Porque o investimento na melhoria educacional sempre foi uma bandeira histórica do contingente político situado à esquerda, assim como um tratamento diferenciado na Segurança Pública, onde pobres sempre foram vítimas da polícia.

 

 

Esta semana, a Secretaria Estadual de Justiça, responsável pela administração dos presídios, foi surpreendida por uma ação da Secretaria de Segurança Pública e do Ministério Público, que apreendeu dinheiro vivo, cocaina, armas e celulares na cela do traficante "Perna", há oito anos no local. A titular da pasta, a brilhante advogada Marília Muricy, uma das mais atuantes profissionais em defesa dos presos políticos na Bahia, nos anos 1970, cujo escritório, na Cidade Baixa, frequentei algumas vezes na companhia do amigo comunista Hamilton Calestino, não teria sido informada da operação.

 

 

Entre outros objetivos, a ação na Lemos de Brito teria a intenção de derrubar Marilia Muricy. Por que?

 

 

Os problemas da população carcerária da Lemos de Brito na Bahia vêm de longe, entra governo e sai governo. Não faz muito tempo, no governo Paulo Souto foi descoberto um condomínio improvisado, com 76 casas, construído em terreno daquela instituição, onde residiam 114 presos condenados a regime fechado, sem autorização do Poder Judiciário. Pode? A situação do traficante "Perna", por que só agora é denunciada, ou querem fazer crer que há oito anos no local ele tem se comportado como um bom moço?

 

 

Sem medo de ser feliz, acho que o governador Jacques Wagner faria muito bem em solicitar uma intervenção federal, aliás como já defendida na Assembléia Legislativa, na área de Segurança Pública, para assegurar a ordem e abrir caminho a uma investigação nas polícias militar e civil, coibindo os desmandos e a corrupção que atinge parcelas dessas corporações.

 

 

Sem uma ação enérgica no setor, o governo corre o risco de ficar refém de uma situação que só tende a se agravar, com resultados que, seguramente, vão comprometer a sua credibilidade. Alguém tem duvida?