COLÓQUIO INTERNACIONAL LUSO BRASILEIRO

Christovão de Avila
23/05/2008 às 14:01
 

Como parte das comemorações pelo Bicentenário da transferência da Corte Portuguesa para o Brasil foi iniciado em Lisboa, em novembro de 2007 o Colóquio Internacional Luso-Brasileiro, que teve uma segunda etapa em Salvador, de 13 a 16 de maio do corrente ano, no Instituto Geográfico e Histórico da Bahia - IGHB, terminando a sua terceira e última etapa, de 19 a 22 de maio no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro - IHGB, no Rio de Janeiro.


Apresentaram conferências e palestras, o presidente do IHGB Prof. Arno Wehling e a presidente da Academia Portuguesa de História - APH Profa. Manuela Mendonça, a presidente do IGHB Profa. Consuelo Pondé de Sena e o presidente da Academia de Letras da Bahia Prof. Edivaldo M. Boaventura (IGHB), além de destacados membros dos Institutos Históricos e professores universitários da UNICAMP, UFRJ, UNIRIO E UERJ, encerrado pelo presidente da Comissão para as comemorações da Chegada de D. João e da Família Real ao Rio de Janeiro, da Prefeitura do Rio de Janeiro, Prof. Alberto Costa e Silva.


O coroamento das atividades foi no feriado desta quinta-feira 22, com um passeio marítimo pela Baía de Guanabara, a bordo do Rebocador Laurindo Pita, um dos mais belos passeios do Rio de Janeiro, permitindo aos participantes do Colóquio conhecerem os principais pontos históricos e turísticos da cidade, descritos pelo próprio Diretor do Patrimônio Histórico e Cultural da Marinha, Vice-Almirante Armando de Senna Bittencourt (IHGB).


Do Simpósio Internacional Luso-Brasileiro no IGHB, em Salvador, destacamos algumas informações inéditas que encaminhamos através do presidente do Colégio Brasileiro de Genealogia Carlos Eduardo de Almeida Barata, que nos representou no Simpósio, participando de uma mesa, além de outras informações pouco conhecidas, que já tínhamos transmitido nas palestras proferidas em 15 e 18 de agosto de 2007, no IGHB e em Praia do Forte, quando do início das comemorações do "Bicentenário da vinda da Família Real Portuguesa ao Brasil", passadas aos Institutos Históricos e Instituições Culturais, a diversos historiadores, pesquisadores e interessados nas comemorações, principalmente do Rio de Janeiro, da Bahia e de Portugal, documentadas pelo jornal Voz de Portugal de 12 de julho de 2007 e disponibilizadas no site oficial da Casa da Torre, desde agosto de 2007:


VÉSPERA DA CHAGADA DA FAMÍLIA REAL A SALVADOR

No dia 21 de janeiro de 1808 faleceu o então Secretário de Estado José Pires de Carvalho e Albuquerque[2], passando por herança o cargo ao filho Francisco Elesbão Pires de Carvalho e Albuquerque, futuro Barão de Jaguaripe, que era Vereador do Senado da Câmara, sendo este nomeado a 22.jan.1808, dia da chegada da esquadra Real a Salvador, cargo que exerceu até 02.fev.1822.


A ESCOLTA DA FAMÍLIA REAL

Do outro lado, ao mar, comandava simultaneamente a nau Martim de Freitas (atual Nau D. Pedro I) e a fragata Urânia, o CMG João Manuel de Menezes, futuro Almirante e Marquês de Viana, com a função especial de defesa da nau capitânia onde se encontravam a Rainha de Portugal D. Maria I e seu filho Príncipe Regente D. João, o neto Príncipe da Beira, mais tarde primeiro Imperador do Brasil D. Pedro I, além de outros membros que seguiam nos navios "Rainha de Portugal" e "Afonso de Albuquerque", de Lisboa ao Rio de Janeiro3. E, foi quem em 1821 reconduziu D. João VI e sua Corte a Lisboa.


PRIMEIRO CONTATO DA FAMÍLIA REAL COM O BRASIL, NA BAHIA

O Relógio de bolso do comandante marcava 09:45 h, no dia 22 de janeiro de 1808, quando: "... A´s 9 horas e 45 minutos avistamos na costa a E41/2 NE, huma torre branca com grande fogo aceso. Era o signal que estavamos muy próximos da cidade da Bahia de Sam Salvador. 22 de Janeiro..."[3]


Tratava-se da Torre do Castelo Garcia D'Avila, a Torre Singela de São Pedro de Rates, construída pelo primeiro Garcia D'Avila na colina de Tatuapara, em 1551, litoral norte da Bahia, hoje Praia do Forte, que servia de atalaia ao tráfego marítimo, e que sinalizou à Cidade do Salvador a aproximação da Esquadra Real Portuguesa, através dos fachos sinalizadores - almenaras, localizados nas antigas aldeias jesuíticas, que integravam o sistema defensivo da nossa primeira Capital.


CHEGADA A SALVADOR E DESEMBARQUE DA FAMÍLA REAL

"Dia 22 de Janeiro. Na Bahia de Sam Salvador. 4 horas post-meridiam. Ao darmos fundo, salvamos a terra com vinte e hum tiros e, no dia seguinte, visita-nos o Snr. Conde da Ponte que retriboio a visita em seguida ao dia que fizemos a cidade, fazendo as honras inerentes ao seu cargo."


E segue o diário, narrando o dia seguinte, 23 de janeiro, em que faleceu o irmão, imediato na fragata Urânia, "esmagado, entre as duas naos ao tentar ajudar-me". Foi uma morte muito sentida por todos, inclusive pela Rainha Dona Maria I, de quem o falecido era afilhado.


No dia seguinte, "24 de janeiro  post meridiam, o dezembarque da Raynha e Senhora e do Príncipe seu filho foi em paz. ..." "


PRIMEIRO JANTAR OFICIAL NO BRASIL E ONDE FICARAM HOSPEDADOS, NA BAHIA.

"... n'esta mesma noite o governador Conde da Ponte offereceu huma lauta e faustosa ceia aos Augustos Soberanos no bello Solar do Unhão onde ficaram hospedados ..." [4]

O Solar do Unhão era residência na capital dos Senhores da Torre, desde 1700, onde residia a então Morgada da Casa da Torre, D. Ana Maria de São José e Aragão, com seu filho o Secretário do Governo e futuro Barão de Jaguaripe.


CASA DA TORRE E CASA DA PONTE

O futuro Marquês de Viana veio a se casar, durante a estada em Salvador, no dia 7 de fevereiro, com D. Ana de Castelo Branco, filha dos Condes de Pombeiro, sendo padrinhos SS. AA. FF o Príncipe Regente e D. Carlota Joaquina em nome de D. Maria 1ª, ficando o casal hospedado no solar da Casa da Ponte - o Paço do Saldanha, da família do então Governador, um Solar que teve como último proprietário o 2º Barão de Pirajá (vínculo Casa da Ponte - Casa da Torre), filho do Visconde de Pirajá, que era irmão do Visconde da Torre e do Barão de Jaguaripe.


SOLAR DO CORONEL, EM ITAPAGIPE

Além do Solar do Unhão e do Paço do Saldanha, propriedades das duas "Casas" consideradas mais importantes da época, D. João esteve noutra residência, situada na península de Itapagipe, quando lá estudou a possibilidade de deslocamento do centro da metrópole para aquela região. Visitaram ali o Solar do Coronel[5], que foi edificado por Garcia D'Avila 1º, na primeira propriedade rural da Casa da Torre, onde iniciara, em 15 de junho de 1549, seu primeiro curral de gado, que depois se propagou a todo o Nordeste, devassado e povoado pelos seus sucessores.


ABERTURA DOS PORTOS AO COMÉRCIO INTERNACIONAL

Em Salvador, D. João anunciou a mais importante de todas as medidas que tomaria nos seus treze anos de Brasil - a Abertura dos Portos ao Comércio Internacional do Brasil.

Participou, assim, o Secretário de Estado, juntamente com o governador, Conde da Ponte, oito dias após a chegada à Bahia do Príncipe Regente D. João, do evento da assinatura da famosa Carta Régia, no dia 28 e despachada em 29 de janeiro de 1808, que abria os portos do Brasil ao comércio direto com todas as nações amigas, o que constituiu um dos momentos mais importantes de afirmação do Brasil como Nação. Um Comércio Internacional, iniciado três séculos antes pelo avô em oitavo grau do secretário de governo - Diogo Álvares Caramuru, chegado ao Brasil em 1509, na Bahia, fundador da primeira família brasileira documentada e maior comerciante internacional do Brasil, com os franceses, durante a primeira metade do século XVI, atividade esta mantida por mais de quarenta anos.


ARMORIAL HISTÓRICO DA CASA DA TORRE DE GARCIA D'AVILA

Está em preparação uma Exposição Temática do Armorial Histórico da Casa da Torre de Garcia D'Avila[6], juntamente com peças do acervo do Memorial Visconde de Mauá, integrando o programa nacional das comemorações dos 200 Anos da chegada da Família Real Portuguesa ao Brasil, que ficará aberta de 17 de junho a 18 de julho, no Rio de Janeiro.




[1] Christovão Dias de Avila Pires Junior (72), engenheiro militar de fortificação e construção, pelo IME (1965), membro de diversas instituições, dentre elas o IGHB, o IGB e o Memorial Visconde de Mauá, dedicado há mais de duas décadas a profundas pesquisas, desde Diogo e Catarina Alvares Caramuru, de quem é descendente direto e a trabalhos técnicos sobre o Castelo da Torre de Garcia D'Avila e a Igreja de N. Sra. da Graça, um trabalho sem finalidade lucrativa, em prol da restauração, resgate e difusão cultural, sendo o responsável pelo sítio na Internet, desde 1999 < http://www.casadatorre.org.br/ >, em apoio à Educação, à Cultura e ao Turismo Cultural. É fundador e presidente do Centro Cultural e de Pesquisas do Castelo da Torre CCPCTorre.


[2] Local do falecimento do Secretário do Governo: Solar do Unhão, residência na capital dos Senhores da Torre, desde 1700, quando foi a propriedade comprada do Desembargador Pedro Unhão Castelo Branco por José Pires de Carvalho e Albuquerque, o velho, que ali fixou residência, onde por mais de um século habitaram a mansão diferentes membros da Casa da Torre, até 1827 quando foi arrendada a Neuron & Cia., que nela instalou afamada e duradoura fábrica de rapé.


[3] "Diário de Bordo do Marquês de Viana", obra publicada para as comemorações deste Bicentenário, pelo tetraneto e atual 5o Marquês de Viana, o historiador Eduardo André Chaves Nedehf, fundador e chanceler do Memorial Visconde de Mauá, contendo na íntegra um facsimile do original do Diário. Exemplar doado pelo próprio autor, ao IGHB.


[4] SANCTO, Padre Luiz Gonçalves de.  Memórias para servir à História do Brasil vividas em três épocas da Felicidade, Honra e Glória, escritas na Corte do Rio de Janeiro no anno de 1821 e oferecidas à Sua Majestade El Rei Nosso Senhor, Senhor D. João VI pelo Padre Luiz Gonçalves de Sancto. Tomo 1 e 2. Lisboa na Impressão Régia do Reino. 1823. pp 278, 279 e 280.


[5] Esplêndida mansão residencial situada em Itapagipe, à direita do Caminho de Areia, cercada de bucólico arvoredo frutífero e pequenas lavouras, que esteve habitado até o começo do século XX. (Imagem e referências in: FALCÃO, Edgard de Cerqueira, Brasil Pitoresco, Tradicional e Artístico III. Encantos Tradicionais da Bahia. Livraria Martins. Rua 15 de Novembro - 135. São Paulo - Brasil. MCMXLIII)

[6] Um acervo de Brasões de Armas considerado internacionalmente como uma das mais importantes coleções armoriadas, não somente do Brasil, como de todo o Novo Mundo.