BAIANO BURRO NASCE MORTO

ZédejesusBerrêto
01/05/2008 às 20:00
  "O pau que nasce torto não tem jeito, morre torto; baiano burro garanto que nasce morto". Os versos, se não me falha a memória e a burrice não me ataca, são de Gordurinha. Se não sabes quem é, vá ao Google, quem sabe nessas idas e vindas vosmecê melhore sua desinteligência.


Mas, indo ao que interessa, as insensatas declarações do professor Natalino (médico, doutor, mestre da UFBa)  fizeram muitos baianos remexerem-se nos túmulos.


Ruy Barbosa deu um constipio. O reitor Edgard Santos arrepiou-se. Glauber Rocha debateu-se irado.


E o ministro Gil, hein? Oh, desculpem, este, parece, ainda está vivo.


Mas, parem com isso, não vamos transformar a destemperança verbal do professor Natalino numa mera questão racial. O preconceito é bem maior, mais grande mesmo, do tamanho da nossa pobreza material, mental, espiritual, geral. Arregale os olhos e veja.


O professor Natalino endoidou de vez, maluqueceu total ou contaminou-se com a tal burrice por ele próprio constatada? Porque doença e praga pegam, corre risco de epidemia, assim feito dengue. Diarréia mental é um perigo, às vezes não tem cura, o cara se esvai falando merda, é triste, pode crer.


Quanto ao berimbau, professor Natalino, é um instrumento tão mais difícil de tocar bem e tão mais sofisticado pelo fato de ter somente uma corda.


Ora, mestre, tirar sons diferenciados de várias cordas e teclados é moleza.


O difícil é arrancar sonoridades diferentes de uma corda só, apenas com uma vareta, uma moeda, uma cabaça e a própria barriga pra fazer eco. Só segurar o instrumento corretamente já é uma dificuldade, professor.  Pegue um bom berimbau feito de biriba e tente, pra avaliar. Sem medo de ser negão.


Um conselho: busque conhecer, tente ouvir os trabalhos, a maravilha de sonoridades que o pernambucano Nana Vasconcellos e o baiano Sérgio Otanazetra (pra citar só dois) arrancam de seus berimbaus.


Trata-se de uma música sofisticadíssima, professor, apreciada em todo o mundo, América, Ásia e Europa, se não sabes, e elogiada, estudada por ouvidos ditos eruditos. Oh, professor Natalino, limpe as oiças!  


Ouviste falar de Walter Smetack, aquele músico louco e moderníssimo que aqui viveu, professor da Escola de Música da UFBa, e que andava esticando fios, experimentando cumbucas e cabaças, inventando instrumentos que tocavam sozinhos, ao sabor dos ventos que corriam pelo seu quintal no alto da Federação?


Seria ele genial somente porque era europeu?


Por último, baianos como eu, não vamos apenas posar de indignados com as declarações estúpidas (desculpe, professor) do mestre Natalino. 

Precisamos também apurar direito o que está acontecendo com o ensino da nossa Faculdade de Medicina, de 200 anos, a primeira do país, que sempre foi uma escola de ponta e orgulho dos baianos. E, com seriedade, transformar essa realidade, já!


Uma declaração infeliz como essa pode e deve nos levar a refletir.


Não devemos nos contentar com a mediocridade do nosso ensino, da nossa música, das nossas chamadas ‘manifestações culturais" em vigor.

Axé, bunda, pagode e forró não devem ser a nossa vanguarda.

As palavras do professor Natalino, mais do que nos indignar, servem para chacoalhar um pouco nossa ‘baianice', nossa pasmaceira educacional e cultural vigente. Vamos acordar, baianada!!!


1º maio2