O DONO DA BOLA

ZédeJesusBarreto
28/04/2008 às 15:01
  O veterano Ramon Menezes foi o senhor do clássico BaVi em Feira de Santana, no último domingo. Não só pelo gol que marcou, nem tão somente pela bola que jogou, com seus 36 anos da idade. Ramon foi o dono da bola.
 
  Falou o jogo inteiro, irritou os adversários, discutiu com o treinador tricolor, desestabilizou a defesa do Bahia, que queria caçá-lo, confundiu a arbitragem, gritando, cavando faltas, agitando a ponto de levar o sr Juiz a expulsar um jogador adversário de campo e depois ter de voltar atrás (advertido do engano pelo árbitro auxiliar), incendiando o jogo desde a saída, insuflando garra e destemor nos companheiros e levando os tricolores ao desequilíbrio emocional com seu deboche, provocações e catimba, o jogo inteiro, até o final, já sem fôlego e sem voz.


   Como nos velhos tempos! Aos cinco minutos de jogo, o esperto Ramon desferiu, sorrateiramente, numa disputa de bola boba no meio campo, uma certeira cotovelada que abriu o supercílio de Fausto, seu implacável marcador, deixando-o azoado o resto da partida. Com cartão amarelo, Fausto queria o revide, mas não poderia fazê-lo sob pena de expulsão, e Ramon partia pra cima, falava com ele, chamava pro pau, irritava. 

   O jovem zagueiro Alison, de 21 anos apenas, bom futebol, mas ainda verde, entrou na dele e se deu mal. Andou tropeçando na bola, proporcionou a expulsão de Marcone (que foi fundamental para a derrota do Bahia), não deu a devida cobertura no gol do próprio Ramon e, por fim, falhou feio no gol de Marquinhos.


   O experiente  Ramon mostrou que um clássico não se ganha somente jogando bola e obedecendo a táticas. Um clássico se ganha com alma, com manha, com inteligência, buscando o desequilíbrio emocional do adversário, chegando junto, provocando, xingando, tudo na hora e na medida certa, sabendo-se muito bem o que fazer em cada situação, pondo a bola debaixo do braço e dizendo na cara do adversário, "é minha, porra!".


   Ao Bahia faltou vivência, rodagem, calma, inteligência para não "comer a pilha" do maestro, para não entrar na dele. O craque Ramon deu uma aula no Jóia da Princesa. De sabedoria, sangue frio e muita malandragem. Ditou o ritmo do jogo, segurou, soltou, matou a pau. Os companheiros foram atrás, sob a sua batuta, reagiram a cada incentivo seu. O adversário ficou com os nervos expostos e caiu na armadilha. E o árbitro... atrapalhou-se todo, apitou no grito de Ramon, o camisa 10, o dono da bola, o senhor do jogo.


  Ramon 3 x 0 Bahia. Embolou tudo. As duas rodadas finais do campeonato baiano prometem muita emoção. O Bahia vai quebrado emocionalmente e com desfalques sérios enfrentar o Itabuna (ainda com esperanças), na quinta. Um Vitória renascido, no mesmo dia, joga em Conquista contra o Primeiro Passo, a grande surpresa do campeonato e no páreo, vivíssimo. 

   No domingo, jogos finalíssimos, em Camaçari e no Barradão, de tirar o fôlego da galera, como há muito não víamos no campeonato baiano.