A RESPONSABILIDADE DOS PROFISSIONAIS DE DANÇA

Ada Pedreira
24/04/2008 às 00:27

 

     As informações chegam atualmente numa velocidade nunca antes atingida, não havendo tempo para uma consciência crítica de tudo, levando a educação escolar, as disciplinas básicas (português, matemática, história, geografia...) a só trabalhar em geral o aspecto cognitivo dos alunos, esquecendo o psicomotor e o emocional.

    
   Mas se o papel da escola é auxiliar os indivíduos a adquirirem autoconsciência do seu lugar na democratização e humanização da sociedade, os aspectos psicomotores e afetivos são também de extrema necessidade e importância de serem trabalhados na escola, e aí entram as disciplinas esportivas e de arte em geral, dentre elas (e a mais completa) a dança, para suprir essas carências.

   
  A dança como disciplina escolar leva o aluno a estimular os seus desenvolvimentos cognitivos, emocionais e psicomotores ao mesmo tempo, pois necessita de conhecimentos artísticos e estéticos, de um domínio físico (ou desenvolvimento dele) para poder executá-lo, e leva a um processo de criação para se chegar a um produto artístico (mesmo que este não tenha pré-definições), seja qual for o estilo dado. Assim, a dança como contexto artístico-educacional tem objetos de estudo próprios e conseqüentes necessidades metodológicas próprias.


     Entretanto na prática ela não é vista como uma área de conhecimento, nas escolas por todo o Brasil muitos professores são formados em educação física e não em dança, isso se forem formados; não existe sala de aula própria, e o espaço é às vezes o mesmo a ser utilizado para a prática de vários esportes, quando não chega a ser no próprio pátio, e o objetivo da direção da escola é que ao final do ano e nas datas comemorativas os alunos apresentem algum trabalho, e o da maioria dos alunos é de aprender as danças da moda, caindo na limitação e mesmice.
 
   Ou seja, o objetivo inicial de se introduzir a dança nas escolas (Lei de Diretrizes e Bases-LDB  9394/96) se perde ao sair do papel (quando sai do papel, pois nas escolas públicas, aulas de dança existem em pequena escala, ou seja, nem o próprio governo reconhece e colabora abrindo quantidade proporcional de vagas para professores de dança em concursos).

   
     E onde estão os professores de dança no meio de tudo isso?

   
    Muitos estão reproduzindo modelos com ênfase na habilidade corporal, na performance, reforçando estereótipos corporais (conceituado como modelo profissional) ou dando ênfase no criativo, caindo no fazer espontâneo (conceituado como modelo educacional), isto é, indo de um extremo a outro, repetindo modelos ultrapassados e que só fizeram (fazem) desvalorizar a dança.


     E como a dança a cada dia está sendo mais inserida nos currículos escolares, muito comum ainda como atividade extracurricular, e aos poucos nas escolas públicas, mas de forma extremista (ou somente arte ou somente educação), se não for logo repensada, reformulada, quem sairá perdendo, além de toda a sociedade, serão principalmente os professores de dança, que terão seus espaços cada vez mais deturpados e limitados, concorrendo principalmente com profissionais de educação física e educação artística nas escolas, ou sem formação acadêmica alguma como já acontece na maioria das academias de dança.

  
    Partindo desses pressupostos, observa-se a necessidade de adequações metodológicas na dança que a levem a ter ênfase na criatividade, individualidade associadas ao conhecimento de convenções artísticas, apreciação da leitura de arte e interpretação, da subjetividade (expressão) associada à objetividade (habilidade), da consciência de princípios de movimento associada a técnicas corporais específicas (como o modelo de Jaqueline Smith), e estas adequações não serão nunca feitas pelos diretores de escolas, por secretarias de educação e cultura ou por profissionais de educação física, elas só podem ser feitas por profissionais que estudaram o que é a dança, que a sentem nos seus corpos no seu dia-a -dia, que sabem o que é a emoção de um palco (atuando e coreografando), que sabem o que é passar para outros corpos: os professores de dança.

  A estes profissionais cabe mudar a visão na prática educativa, e redimir os erros históricos ligados, com certeza, à formação destes professores.

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