Crônicas de Copacabana
Nara Franco
20/03/2018 às  19:28

RIO em choque depois de Marielle

No dia a dia, no cara a cara, ninguém fala nada. A fila do supermercado tá muda. A da padaria também. O medo dobrou de tamanho.




Cartaz por Marielle
Foto:
A República de Copacabana está esquisita. Assim como toda a cidade. Tem um misto de perplexidade, medo, raiva e horror solto no ar. Há uma semana, morria de forma brutal a vereadora Marielle Franco, do PSOL. Depois desse dia de luto, parece que a cidade entrou em um segundo estágio de violência. Demos "upgrade" no nosso cotidiano para lá de bizarro. Além dos furtos, assaltos, tiroteios diários e balas perdidas, temos agora os atentados políticos. 

Atentado político é coisa de primeiro mundo. Coisa para americano, que matou Kennedy, ou italiano, que tem a "Cosa Nostra". O brasileiro é cordial, pacífico. Nunca na história desse país, como diria Lula, um político foi assassinado dessa maneira. Lacerda levou um mísero tiro na perna em um atentado rocambolesco. A bomba do Riocentro explodiu no colo do militar que ia detona-la dentro do show do Dia do Trabalhador. PC Farias, que nem político era, foi assassinado em casa e, como era figural mal vista, comoveu só a família. A juíza Patrícia Accioly levou 20 tiros de dois PMs lambões, que se deixaram filmar e foram pegos dias depois. Assassinato Made in Rio de Janeiro. 

Com Marielle, "o bagulho foi sinistro" como se diz porque aqui. Nove tiros, sendo 3 na cabeça da parlamentar. O motorista deu azar. Morreu porque estava na linha de tiro e porque a arma era 9mm. Nada de fuzil porque esse faz lambança. A "parada" foi cirúrgica. Tiros disparados na única rua escura e sem câmeras do trajeto. Dois carros na perseguição. Menos de 5 minutos de ação. Definitivamente isso não tem cara de Brasil e muito menos de Rio de Janeiro. 

O choque que tomou conta da cidade se deu por dois motivos. O primeiro, a frieza. Não foi um assalto ou bala perdida. Foi morte encomendada e bem matada. Segundo, a surpresa. Não foi o Freixo, a estrela do PSOL, nem um pastor da turma do Crivella, muito menos um ex-integrante da quadrilha do Cabral. Não foi um "zé ninguém" da Baixada Fluminense, que a gente sabe que é terra de Marlboro. Não foi uma juíza, um policial ou desembargador. Não foi o Bretas. Não foi o Jean Willys ou um ativista LGBT global ou amigo das estrelas. Não foi quem a gente esperava que fosse. 

Foi uma mulher. Foi uma vereadora de primeiro mandato. Foi uma "cria da favela". Foi uma parlamentar do minúsculo PSOL. Foi uma desconhecida da imprensa. Foi uma desconhecida do povão. Foi uma ativista da Praça São Salvador (local de encontro da "esquerda festiva). Foi Marielle. 

A cidade ficou em choque e está perplexa até agora. O silêncio é total. A turma do "morreu porque defendia bandido" só fala nas Redes Sociais. No dia a dia, no cara a cara, ninguém fala nada. A fila do supermercado tá muda. A da padaria também. O medo dobrou de tamanho. 

A cidade está acuada. Sequer os políticos deram as caras. Foram protocolares. Até mesmo o PSOL está assustado. Tempos tristes esses que vivemos. Pior: chega-se a conclusão que a tal intervenção militar foi como os títulos do Flamengo que ficam apenas no "cheirinho". Nada mudou, como diria Leo Jaime. O "interventor" parece mais perdido que cego em tiroteio na Rocinha. Ou melhor, até o cego na Rocinha está melhor que ele porque como os tiroteios são diários ele já sabe para onde ir.  

O Governo Federal, quando fala, erra. A munição foi roubada, depois não foi, depois foi pelo Correio(?), depois não foi. Os Trapalhões seriam melhores. Promete-se resolver o crime "doa a quem doer" e o que se vê é bateção de cabeça e a Polícia Civil trabalhando com o que tem para dar as respostas que precisamos. Porque precisamos de respostas. Sem elas vamos acreditar de verdade, que a cidade acabou. A gente sabe que acabou, mas reluta. Só que agora, diante desse fato tão absurdo, como imaginar que tudo pode melhorar? 

O Rio de Janeiro é resiliente. Sobreviveu a dois governos dos Garotinho, oitos anos da gangue do Cabral. Isso sem falar nos antecessores. encara agora um Crivella. No dia do apocalipse, só vai sobreviver barata e carioca. Mas agora ... agora bateu um banzo legal .. bateu um mal estar .. bateu uma depressão ... 

De tudo que eu li na Internet, a melhor frase que resume a cidade (e o país) é essa: estamos completamente fu......
           


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