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13/02/2022 às 19:40

CINEMA: A FILHA PERDIDA E AS CHANCES NO OSCAR 2022

Conflitos de uma mãe que abandonou as filhas na infância num filme de difícil interpretação

Agapito Pais

    O filme "A Filha Perdida" longa dirigida pela norte-americana Maggie Gylenhaal concorre ao Oscar de Melhor Atriz (Olivia Colman), melhor atriz coadjuvante (Jessie Buckley), ambas nos papéis de Leda; e melhor roteiro adaptado. É provável que não leve nada uma vez que Olivia (vencedora do Oscar com 'The Crown', no papel da rainha Elizabeth II) cumpre seu papel de mãe dramática com eficiência, mas, sem brilhantismo; e Jessie Buckley, até com desempenho mais vibrante do que de Olivia, não tem nada de excepcional.


Quanto ao roteiro adaptado do livro da enigmática italiana Elena Ferrant a chance é pequena. Maggie Gyllenhaal assina o roteiro fiel ao texto do livro e o que seduz (em parte) os telespectadores são a fotografia e as imagens reflexivas tocantes à materniadade. O uso de flashbacks não traz novidades, em sí, pois, vemos isso com frequência no cinema. Achei alguns deles, inclusive, em excesso. 

É provável que a diretora tenha colocado esse recurso a exaustão de propósito, pois, quando a pequena Elena desaparece numa praia no inicio do filme, a impresão que se tem é de que Leda (Olivia) tenha perdido sua filha no passado. E essa dúvida segue até o final, pois, fica-se sem saber se, de fato, ela perdeu uma das filhas no passado (na praia, numa ilha similiar) ou se apenas as abandonou com o maridão.

Essa relação no presente não fica muito clara na direção do filme e o telespector mantém a dúvida se Leda (Olivia) era, de fato, uma mãe desnaturada ou se havia perdido uma das filhas numa ilha. 

O que se nota na interpretação de Leda jovem (Jessie) são atitudes de uma mãe em conflito com o marido, acalentada por um amante, e que desprezou as filhas, abandonando-as à própria sorte. E Leda, a idosa (Olivia), de férias numa ilha grega preparando um novo livro vê no desaparecimento de Elena a possibilidade de redimir-se consigo mesma, ao achá-la beira mar e devolvê-la à familia. 

Trata-se de uma simbologia de dificil percepção aos telespectadores uma vez que Leda, a madura, não perdeu filha alguma na mesma situação ou com similaridade.

O filme começa a ficar bom a partir desta cena, pois, Leda devolve Elena e rápta para si a boneca da criança, causando problemas psicológios na menor. 

E por que será que Leda (Olivia) fez isso? 

Há várias interpretações. Uma delas surge quando num dos flashbacks, Leda (jovem) fica furiosa quando a filha quebra uma boneca antiga que ganhou da mãe. Agora, então, ela se apropria da boneca de Elena, como uma espécie de proteção. 

Mas, seria isso mesmo? 

No final, ao devolver a boneca a mãe da menina, Nina (Dakota Johson) diz que estava apenas fazendo uma brincadeira ou brincando como faria uma criança.

O filme, portanto, tem múltiplas interpretações voltadas para a psicologia freudiana de dificil entendimento. Essa atitude de Leda (Olivia) representou uma vingança ou semelhança com Nina quando era mais jovem, uma mãe angustiada, mal amada, incostante? Nina apresenta-se assim e numa das cenas aparece com o caseiro da pousada onde se hospeda na iha transando em pé.

Na cena final, Nina, revoltada com a atitude de Leda em furtar a boneca (antes, chegaram a ter olhares de aproximação e bem querer), fura a barriga de Leda com o grampo de cabelo que usava em seu chapéu.

Ao sair de lá, Leda faz as malas, pega o carro para ir embora e sofre um acidente. 

Vemos a personagem andar em direção à praia e, na cena seguinte, acorda à beira do mar, dando um telefonema para as filhas. 

O que realmente aconteceu com ela não fica claramente explicado, pois, dá-se o the-end. Gente caíada à beira mar - no cinema - representa sinal de morte.

Ademais, há algo de sobrenatural na cena final, já que Leda aparece segurando uma laranja nas mãos, símbolo de sua conexão com as filhas. Uma representação simbólica de que sua relação com as filhas seguia conflituorsa, mas viva. Ao menos, se falando. 

Seria isso mesmo ou Leda usou a laranja apenas para disfarçar e revelar que a relação com as filhas estava viva quando, na realidade, estava morta? 

Sepultadas estariam a sua relação da maternidade com as filhas e sua presença no mundo. Portanto, apagou-se para sempre levando consigo o conflito interior e suas angústias mal resolvidas para a tumba. Menos mal que foi à beira mar.


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