WAGNER SE DIVIDE ENTRE O PT E O PMDB, COMENTÁRIO DE CLÁUDIO LEAL

Cláudio Leal é jornalista do Terra Magazine e o Bahia Já recebeu autorização para publicar a matéria
| 16/06/2008 às 17:28

A oficialização da candidatura de João Henrique (PMDB) à Prefeitura de Salvador, no domingo, 15, contou com uma presença redentora para os peemedebistas, mas tida como espinhosa em arraiais petistas. Com um discurso conciliador, o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), compareceu à convenção do PMDB e declarou apoio aos dois candidatos da base aliada - inclusive o petista.

"Na igreja, o padre diz que o que Deus uniu, o homem não separa. No meu sacerdócio político, digo: o que o povo uniu em 2006, os homens não devem tentar separar", discursou Wagner. Mas em outras paróquias mais ortodoxas, a "eqüidistância" - palavra usada pelo governador - desfavorece a campanha do deputado federal Walter Pinheiro, candidato do PT à sucessão.


"O governo dividiu a simpatia pelos dois candidatos da base. Preferia que ele apoiasse somente o candidato do PMDB, mas o PT não quis unificar", diz o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima. Geddel é padrinho do prefeito de Salvador, João Henrique, que tem a pior avaliação entre os alcaides de capitais brasileiras. "O gesto do governador é bem-vindo. Se prejudica Walter Pinheiro, não sei. Pergunte a ele. Mas fortalece João", completa o ministro.


Terra Magazine
apurou que as declarações de Wagner foram consideradas um "exagero" pelo núcleo da campanha de Walter Pinheiro. Para estancar a ferida, o PT e o PSB devem se reunir com Wagner ainda esta semana. O tom da conversa promete ser amargo, definidor da postura do governador no quadro sucessório da Bahia.

Políticos próximos a Wagner não vêem com surpresa o gesto de solidariedade. O governador se empenhou pessoalmente na escolha de Pinheiro, mas acendeu, ao mesmo tempo, uma vela para Geddel, estancando assim a cizânia na base aliada. O petista quis demonstrar a continuidade da aliança com o PMDB, olhos vidrados em 2010.


E "2010" quer dizer muitas coisas nos armazéns baianos: o rompimento com Geddel ou a proximidade com o ministro peemedebista; apoio do PMDB à reeleição de Wagner ou lançamento de candidatura própria; Geddel se lança ao Senado ou ao governo da Bahia. Em todos os cenários, o ex-carlista assume ares de curinga. Mas o presidente Lula e a aliança nacional do PT permanecem como elementos norteadores das rusgas em Salvador.


O descontentamento na militância petista ultrapassa os baixos muros da política baiana. Afagos em Geddel podem desafinar a banda de Pinheiro. O PT finaliza um acordo com o PCdoB, atualmente às turras com a escolha da deputada federal e ex-prefeita Lídice da Mata (PSB) para a vice-candidatura.


"Crítica de adversário"


Sob o guarda-chuva de Geddel, o prefeito João Henrique intensificou os gastos em propaganda. Por toda Salvador, placas da Prefeitura informam que "tá acontecendo" a recuperação de buracos, obras de canalização de rios, instalações de postes, etc. A pintura de uma estátua de Cristóvão Colombo, no bairro do Rio Vermelho, tem provocado comentários irônicos na cidade. De proporções modestas, o banho de tinta é alardeado como um dos feitos da gestão.


No governo João Henrique, os gastos com publicidade se aproximam de R$ 62 milhões, "volume que é quase o mesmo montante gasto pelo seu antecessor, o ex-prefeito Antonio Imbassahy (PSDB), durante todo o período de seus dois mandatos" (1996-2004), informa a repórter Lília de Souza, do jornal A Tarde. Em ano eleitoral, R$ 8,9 milhões já saíram dos cofres públicos - até o final, podem gastar outros R$8,9 mi. "Isso é crítica de adversário. Os gastos estão dentro da lei. Acho natural, é hora de críticas. Os gastos estão absolutamente dentro da lei", diz Geddel a Terra Magazine