Pimenta - Você vai compor com o PT?
Capitão Fábio - Só se for com o PMDB como cabeça de chapa, só nessa condição. Do contrário, de forma nenhuma. O PMDB já definiu a nossa pré-candidatura e quem ainda não definiu o seu pré-candidato foi o PT.
Pimenta - Quem você prefere como vice, Juçara ou Geraldo?
Capitão Fábio - Nós não entramos nesse mérito. O PT teve duas oportunidades de administrar Itabuna e hoje o povo rejeita. O PT, indicando um vice, não quer dizer que nós aceitaremos. Mas, tendo essa oportunidade, quem vai definir é o diretório local do PT.
Pimenta - Como está o seu nome no cenário eleitoral em Itabuna?
Capitão Fábio - Olha, as últimas pesquisas mostram que estamos muito bem, somos líder, empatados tecnicamente com o secretário Geraldo Simões. Não sei se já passamos o secretário, mas acredito que sim, pois estamos com uma ação de presença muito forte aqui em Itabuna. Estou colhendo as informações necessárias para a formatação do futuro programa de governo. Então, acredito que a minha situação é muito confortável.
Pimenta - Segundo um colunista político, partidários do Capitão Fábio estariam divulgando que Geraldo não vai ser candidato. Isso é um contra-ataque?
Capitão Fábio - Nós não nos preocupamos com isso. Estamos preparados para disputar contra Geraldo, Juçara ou qualquer outro que o PT venha a indicar. O PMDB já se definiu por uma candidatura própria. Estamos preocupados agora é com a preparação do programa de governo. É isso que nos interessa.
Pimenta - Essas especulações de uma possível desistência sua não se devem ao passado, quando você disse que iria até o fim e não foi?
Capitão Fábio - Acredito que esse fantasma da desistência se deva a esse passado recente. Hoje, não nos interessa, não interessa mais ao povo esse assunto. A condição de pré-candidato não é do PMDB, não é do Capitão Fábio, é do povo. O povo quer um novo modelo administrativo para Itabuna. Nós não deveríamos mais estar falando disso. O PMDB quer candidatura própria e o nome é Capitão Fábio. Acredito que essas especulações são coisas do adversário para confundir o eleitorado e para que não possamos construir um maior arco de alianças.
Pimenta - O senhor elevou o tom da crítica ao governo do estado, especificamente aos secretários Ruy Costa e Batista Neves. Como está a relação do capitão com o governo do estado? O que o incomoda nessa relação?
Capitão Fábio - Nós não temos nada contra o governador Jaques Wagner, nós o apoiamos. No entanto, mesmo estando na base do governo, não posso deixar de criticar a condução do governo. As críticas que fiz foram ao secretário de relações institucionais, Ruy Costa. As ações dos deputados estaduais e federais ficam em segundo plano. Os prefeitos se deslocam para a capital do estado, se encontram com o secretário, deixam de encaminhar aos outros secretários e os deputados estaduais ficam a ver navios.
Pimenta - Como assim?
Capitão Fábio - Para se fazer política, é normal os deputados acompanharem os prefeitos. Por que isso está sendo atropelado? No meu caso, por exemplo, já faz um ano que pedi audiência ao governador e ainda não fui recebido. Então, como é que vou levar as nossas reivindicações, sugestões? Como vou levar as insatisfações da Polícia Militar que chegam ao meu conhecimento através dos oficiais? Então, a única forma que tenho para expor essas coisas é usar a tribuna da Assembléia, o que é uma coisa ruim porque sou deputado da base e criticando o governador, o Governo do Estado, por ações que vejo como erradas e poderia tratá-las pessoalmente...
Pimenta - E com relação ao Batista Neves, a que se devem as críticas?
Capitão Fábio - Batista Neves é o melhor secretário do governo Wagner, ele é sempre elogiado por suas ações. No entanto, no que diz respeito às obras, recuperação e construção de estradas, o que vai para Batista Neves é lista fechada. Os deputados do PMDB não são atendidos. O que vem do governo é um pacote fechado. Não há autonomia de trabalho.
Pimenta - Essa dificuldade a que você se referiu na relação com o governo tem a ver com desorganização ou é uma questão particular?
Capitão Fábio - Eu acredito que seja uma estratégia, do próprio governo, errada. Não pode ser assim. A condução da política não pode ser dessa forma. Os baianos elegeram Wagner para governar, e não Ruy Costa. É isso que eu tenho dito, e reafirmo. Quem tem de tratar dos assuntos de interesse da Bahia é o governador com os deputados. O secretário de relações institucionais deve ser o elo. Não tem cabimento o secretário absorver todos os pedidos.
Pimenta - Você nota essa insatisfação em toda a base?
Capitão Fábio - A insatisfação não é só minha, é da maioria dos deputados da base do governo. Talvez não tenha ninguém para abrir a boca e dizer a verdade, mas eu não tenho rabo preso, não devo nada a ninguém. Meu mandato pertence à região que me elegeu. É a ela a quem devo satisfação do meu comportamento, das minhas atitudes como deputado estadual.
Pimenta - Essa firmeza do senhor se deve ao momento político?
Capitão Fábio - Eu sou uma pessoa bastante direta e sempre tive uma forma própria de fazer política. Não sei ser demagógico, falso... Talvez, isso vá de encontro à prática política. Eu apresento resultados. Pode observar que os nossos trabalhos como deputado não estão em promessas, são ações concretas, como o Colégio Militar, a Caerc, a companhia de polícia em Itabuna e a participação em temas da agricultura, como a institucionalização da Ceplac.
"Todo apoio é bem-vindo. Nenhum político pode dispensar apoios" (sobre a possibilidade de receber o apoio do prefeito Fernando Gomes")
Pimenta - Deputado, do ponto de vista da construção da candidatura, como estão as negociações partidárias?
Capitão Fábio - Estamos conversando com diversos partidos. Diante dessa posição radical do PT e do secretário Geraldo Simões, que afirma que o seu partido terá candidato próprio e não admite apoiar outro partido da base do governo, o PMDB está livre para conversar com partidos que, inclusive, não sejam da base.
Pimenta - Inclusive o Democratas?
Capitão Fábio - Claro, por que não? O que nos interessa é um projeto administrativo para Itabuna e isso aqui é um assunto local e que interessa ao município. Todos os partidos que queiram participar desse novo projeto serão bem-vindos.
Pimenta - Existem rumores de veto do PMDB a uma coligação com o PRP. Isso procede?
Capitão Fábio - Isso aí são, digamos assim, algumas insatisfações em nível pessoal entre esses partidos que estão conosco. Mas isso é assunto que vamos discutir em junho, na homologação das candidaturas. É muito cedo para discutir e desperdiçar energia com este assunto.
Pimenta - Caso você se eleja, será o prefeito do centenário de Itabuna. Qual o grande projeto seu para justificar um eleição neste momento importante para a cidade?
Capitão Fábio - Itabuna, apesar de ser referência em saúde, em educação, acumula muitas deficiências, principalmente na saúde. Observamos que a cidade parou no tempo. Temos uma impressão de crescimento, mas é falsa. Talvez por Itabuna ser uma cidade estrategicamente bem posicionada e que não pára, dá essa impressão. Mas você não vê dinheiro girar.
Pimenta - E o que é possível fazer?
Capitão Fábio - Temos que atrair a confiança de empreendimentos para o município. Resolvendo o problema da água, teríamos condições de discutir com empreendedores do país e de fora a possibilidade de aqui se instalarem algumas indústrias. Nós temos aqui um aeroporto que poderia ser reinstalado em outra área e até transformado em aeroporto de cargas. Mas por que cargas? Justamente, por esse avanço que pretendemos dar à cidade e, assim, gerar emprego e renda. Se a comunidade tem emprego e renda, temos uma melhor qualidade de vida, ter melhor serviço de saneamento básico...
Pimenta - O senhor é a favor ou contra a privatização da Emasa?
Capitão Fábio - Eu estou discutindo isso com os nossos colaboradores, pensadores da pré-campanha. É impossível a Emasa continuar do jeito que está, sucateada. Hoje, do esgoto que é lançado no Rio Cachoeira, 80% não tem tratamento. O gestor precisa tomar uma atitude. Se pode dar conta desse serviço, ou devolve para o Estado ou então privatiza. Até há pouco tempo, a Emasa dava até lucro e, de uns anos para cá, entrou nessa situação caótica que aí está. Não posso aqui dizer se sou a favor ou contra a privatização... nem é privatização, é concessão. Mas eu digo uma coisa: tenho o maior interesse em resolver o problema da água.
Pimenta - Como o senhor vê a situação da saúde de Itabuna, com o Hospital de Base sucateado e triplicando número de óbitos?
Capitão Fábio - Olha, os dirigentes das unidades de saúde reclamam da falta de pontualidade do repasse dos recursos do Ministério da Saúde. Mas tem um problema maior que não estaria sob a nossa competência, é de ordem nacional, que é a tabela do SUS, altamente defasada. O SUS paga pela consulta médica R$ 7,55, todos reclamam. Ainda temos o problema de pacientes que vêm de outras cidades. Os itabunenses sofrem com isso. Não temos condições de atender os nossos pacientes no nível desejado, imagine com essa sobrecarga.
Pimenta - Em 2004, o Capitão Fábio apoiou Fernando Gomes. O senhor desejaria ter uma retribuição agora?
Capitão Fábio - Olha, todo apoio é bem-vindo. Nenhum político pode dispensar apoios. É uma decisão (aceitar o apoio) que não é tomada só pelo candidato, mas avaliada pelo PMDB. E quem é político não dispensa apoios, isso eu posso afirmar.
Pimenta - O senhor, então, aceitaria o prefeito no seu palanque?
Capitão Fábio - O próprio Fernando Gomes disse que não quer mais saber de política, está desgostoso, vai cuidar da vida dele. Então, imagino que ele não vai ficar perdendo tempo em campanha...
Pimenta - E se, de repente, ele estivesse disposto a "perder esse tempo"? (risos)
Capitão Fábio - A gente não pode chegar e dizer "aceito fulano ou sicrano". Ninguém
pode ser impedido de subir no palanque ou se manifestar, pois estamos no regime democrático. Se Geraldo Simões, mesmo sendo candidato, quiser subir no meu palanque, eu vou dizer que não? Isso é natural de política. Quem sou eu para ficar dizendo quem pode ou não subir no palanque?
Pimenta - É verdade que o ministro Geddel se tornou o mais novo empresário de comunicação em Itabuna?
Capitão Fábio - Não, não tenho conhecimento.
Pimenta - Ele não comprou a rádio Difusora?
Capitão Fábio - Eu posso afirmar que não, não é verdade. O prefeito Fernando Gomes tem interesse de passar a rádio Difusora a algum político. Ele acha que comprar a rádio é importante para qualquer político. Não sei se isso foi proposto ao ministro Geddel, só sei que ele não comprou.
Pimenta - Alguns comparam o perfil de Geddel ao de Antônio Carlos...
Capitão Fábio - Não, não tem nada a ver. Eu conheci o senador, ele era de personalidade forte e não tinha o cuidado de ouvir as outras pessoas. A decisão era dele. Geddel, não. Ele tem personalidade forte, mas ouve muito e as decisões são tomadas em conjunto. Agora, é uma pessoa que não leva desaforo para casa, tem pavio curto, parecido com o senador.
Pimenta - Comparando governos e grupos, você diria que foi melhor trabalhar com Paulo Souto?
Capitão Fábio - Não tive a condição de fazer essa comparação, até porque os meus pleitos e minhas reivindicações ainda não foram atendidas e espero ter esse contato com o governador e conversar, dialogar com ele, para fazer essa comparação. Acho que seria importante o governador nos ouvir.