TWITTER: BEM MAIS QUE 140 CARACTERES, POR MARCO GAVAZZA

vide
| 28/04/2010 às 08:23
O "bird" (passarinho) que se transformou numa mania entre brasis
Foto: Ubuntu

A internet mexeu profundamente com o nosso jornalismo impresso.  Já no comecinho de sua expansão entre nós -estou falando especificamente da Bahia- quando os primeiros provedores de acesso como UOL, BOL, Terra e outros já eram também portais de informações, se percebia que havia uma transformação em andamento.


Os portais traziam notícias em tempo real, além de fornecerem links para outras fontes de informações.  Ninguém sabia muito bem como funcionava aquilo, mas bastava clicar como cursor do mouse sobre aquela linha sublinhada e lá ia o Explorer parar em outro lugar, onde uma outra matéria explicava em detalhes o que a gente havia lido antes. O nome dado a isso era "navegar" na web. Seguiamos nós, marinheiros de primeira viagem, navegando daqui e dali, percebendo que o hábito de comprar jornais de manhã para saber o que havia acontecido no dia anterior começava a perder o sentido. 


O jornal A Tarde foi um dos primeiros a perceber isso e saiu na frente com sua versão para a web A Tarde On Line, um projeto complicado, que demandou tempo e intervenções de especialistas em internet -coisa então rara- e do qual eu participei de forma indireta, na campanha publicitária de lançamento.  Mas podemos dizer que esta foi, para não fugir ao conceito de navegação, a primeira onda de transformação a atingir a mídia impressa na Bahia.


A segunda onda veio com o surgimento dos blogs.  Pilotados por jornalistas free lancer ou pouco satisfeitos com seus empregos, desempregados e até já aposentados que retornaram ao teclado, os blogs aliavam à velocidade da transmissão das notícias, liberdade de pensamento.


Desacorrentados das posições editoriais dos sisudos conselhos administrativos e das redações, além de outros comprometimentos de perfil pouco relacionado ao jornalismo, estes blogueiros encontraram um canal de comunicação direta com seus leitores e uma vasta planície onde podiam exibir suas ideologias, opiniões, brilhantismo ou até mesmo pura a simplesmente, sua independência.  Alguns mantiveram um pé na água e outro em terra, segurando seus espaços nos veículos impressos e ao mesmo tempo se lambuzando em liberdade nos seus blogs.


A tecnologia digital que nunca dorme nem para de evoluir, logo forneceu novas ferramentas capazes de transformar um blog numa central de mídias. Clique aqui e veja o vídeo, clique alí e ouça a entrevista na íntegra, clique acolá e conheça o infográfico (é, surgiram os infográficos, com barrinhas animadas, números dançantes e o que mais fosse viável), clique não sei mais onde e vá para o jornal da Dinamarca onde fomos buscar esta notícia. 


A interatividade com os leitores também avançou jardas em direção ao touch down, permitindo que comentários fossem publicados -ou não- imediatamente após a postagem de uma notícia ou que contribuições verdadeiras chegassem até as novas redações. Com uma câmera fotográfica digital ou de um simples celular e um endereço de e-mail, qualquer cidadão poderia mandar para o blog de sua preferência uma notícia acompanhada de uma foto.  Era um repórter, portanto.


Diversos blogs consolidaram-se como realmente jornais on line, com equipe de repórteres, redatores, fotógrafos e agora "programadores", além de colaboradores de todas as espécies, sobre os mais variados assuntos, a exemplo deste espaço semanal onde costumo expor minhas opiniões sobre comunicação, tema que julgo conhecer razoavelmente.  Alguns já ultrapassaram com folga o número de leitores diários dos jornais tradicionais, impressos em celulose e que se amontoam num canto da sala até adquirirem novas funções, como acender churrasqueiras ou limpar vidraças.


Acontece que o mais revolucionário, a terceira onda, ainda estava pra chegar: o Twitter.  Definido por seus próprios criadores como um "micro blog" o Twitter transformou cada cidadão num blogueiro, num repórter, num multiplicador de notícias, num comentarista, num analista de qualquer tema.


Quando a jornalista Vera Martins, por exemplo, indica uma matéria aos seus quase 8 mil seguidores, ela dispara uma progressão geométrica de divulgação, pois cada um destes seguidores possui os seus 50, 200, 800 ou seja lá quanto forem, também seguidores que por sua vez  possuem mais etc.etc.etc. ad infinito.  Se um twitteiro é testemunha de um assalto, um acidente ou até de um simples engarrafamento e através do seu smartphone ele põe a informação no Twitter, um poucos minutos ela já alcançou dezenas de milhares de pessoas.  Fiquei sabendo que estava acontecendo um assalto na Av. Tancredo Neves no momento em que o bandido ainda estava com a arma na mão, graças à informação passada ao Twitter por Américo Neto via Blackberry. Pelo Twitter posso saber através da Srta. Castro se está chovendo em Feira de Santana ou se Serra já chegou ao local para o lançamento da candidatura de Zé Ronaldo ao senado.   Silvia Nasci disponibiliza links para as matérias mais interessantes do dia, em publicações de todo o país. O Dr. Sandoval nos informa exatamente o que está acontecendo na Câmara Municipal. 


Claro que além destes exemplos positivos existem milhares de tresloucados de todas as tendências, mas aí a avaliação é psiquiátrica e não da comunicação.


Qual então a influência concreta do Twitter no jornalismo?  Acho que ele fez com que a notícia passasse a falar direta e instantaneamente com os leitores ao invés de antes passar pelo jornal. Dali, um link leva quem estiver interessado para um site de notícias em busca de mais detalhes. Em seguida, transformou cada twitteiro num comentarista e abriu a caixa preta do próprio jornalismo.  Informações, matérias, opiniões e registros são debatidos, questionados, comentados, aplaudidos ou massacrados no mesmo instante.  Podemos considerar então que o Twitter extinguiu o jornalismo impresso ou on line? Não.  Mas obrigou os neo-jornalistas-blogueiros, a buscarem mais velocidade e maior conteúdo para satisfazer quem já vem até ele sabendo da notícia e com uma opinião pré-formada.  Além de -é inevitável- buscarem seguidores no Twitter.


Em relação aos jornais que ficam deitadinhos em bancas, não sei dizer com muita certeza se o Twitter encurtou ainda mais suas sobrevidas. Mas de uma coisa tenho certeza: o Twitter será o primeiro a informar quando um deles parar definitivamente as máquinas.