O MASSACRE DE SHAPERVILLE A E ATUALIDADE, POR MOISÉS ROCHA

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| 21/03/2010 às 00:10
Massacre de Shaperville aconteceu na África do Sul em 21 de março de 1961
Foto: ARQUIVO
O massacre em Shaperville, África do Sul, em 21 de março de 1961,
obriga-nos, todo ano, nesta data, a fazer uma reflexão profunda sobre
desigualdade, racismo, xenofobia e todas as formas correlatas de ódio entre
os seres humanos.

É tarefa nossa, de todos nós, homens e mulheres, criar as condições para que
o mundo seja melhor e que a solidariedade e a fraternidade vençam o ódio, o
racismo, a lesbofobia, a homofobia e as desigualdades.

Shaperville é importante enquanto memória de luta de um povo que conquistou
sua liberdade com sangue.

Homens, mulheres e crianças foram covardemente fuzilados pela polícia
racista da África do Sul, em Shaperville, em 21 de março de 1961. Aquelas
pessoas morreram porque se recusaram a aceitar leis injustas em seu próprio
território, lutaram contra uma ideologia que pretendia identificá-los como
inferiores em relação aos outros seres humanos brancos - ideologia que
impunha o terror, a fome e a vergonha a uma nação de pessoas livres: o *
apartheid*.

Em 1969, a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu este dia, 21 de
março, como o Dia Internacional de Combate ao Racismo. Essa data marca o
martírio de 69 pessoas mortas e 186 feridas em Shaperville, mas também nos
faz refletir sobre nossa própria história e as relações raciais no Estado
brasileiro, fundadas em opressão, exploração e escravidão.

E assim lutamos, em 1798, na Revolta dos Búzios; em 1826, no Quilombo do
Orubú, em Pirajá; em 1835, na Revolta dos Malês. Enfim, em toda a trajetória
dos negros e negras nesse território hostil, fizemos luta.

Nesse 21 de março, temos que relacionar o martírio das vítimas de
Shaperville com nossa realidade de desigualdade, ambos gerados pela mesma
matriz histórica: o tráfico de seres humanos, a escravidão. maior
holocausto da história!

Em pouco mais de 100 anos de República, o que temos é a desigualdade e o
abandono de nosso povo nos piores indicadores econômicos de educação e
outros. Essas desvantagens que nos atingem não são desvantagens naturais e
biológicas. São históricas e só se corrigem com políticas focadas e
específicas, que são uma exigência de um povo que construiu esse país. *

Precisamos de reparação histórica e humanitária para banir de vez a prática
hedionda de se matar negros como se fossem insetos, a exemplo do que tem
acontecido em nosso Estado. A cada dia que abrimos os jornais ou caminhamos
por nossas comunidades, vemos uma Shaperville erguida a sangue e cadáveres
de gente negra.

O massacre de Shaperville, em 21 de março de 1961, obriga-nos, todo ano, a
uma reflexão e um posicionamento firme contra as desigualdades, o racismo e
o genocídio do povo negro.

Vereador Moisés Rocha (PT)