O mundo moderno desafia a Igreja Católica e esta, por sua vez, interpela a contemporaneidade. Assim tem sido marcado o quarto ano de pontificado de Bento XVI. Este que era considerado um "papa de transição" tem marcado com uma cadência ritmada os passos da Igreja não apenas no tempo, mas diante dos desafios que este vem impondo à humanidade.
Na ocasião do último conclave que o elegeu, estando presente na Cidade Eterna, ouvi de alguns brasileiros que este não era o "papa ideal" para novos tempos. Retruquei muitas vezes argumentando que a transição não se faz com brevidade temporal, mas com idéias que conduzam o tempo. Mais ainda que Bento XVI não incorporaria de um todo, o antes Cardeal Joseph Ratzinger.
Acredito que tenha feito, "al modo mio", como se diz aqui na Itália, certa profecia. O tempo está passando e, com muita inteligência o Papa tem feito mudanças significativas. Tímido, mas sensível tem demonstrado com astúcia e perícia, quais os rumos tomar. Inteligente acadêmico, mostra-se virtuoso na condução administrativa e evangelizadora. Se antes, comentam os vaticanistas, muitos iam à Roma para ver o Papa (especialmente o carismático e midiático João Paulo II) agora se vai à Roma para ouvir o Papa. E isso é muito importante!
É, deveras, o Papa necessário à Igreja Católica nesta atual circunstância da humanidade. Evidentemente que com o peso histórico de mais de dois mil anos a Igreja não é nenhuma instituição que se possa mudar ou alterar seu percurso de forma rápida. E é justamente por isso que lhe vem a credibilidade, apesar da debilidade de seus membros, e que retifica os descaminhos que toma a humanidade. Afinal, quem haverá de interpelar e de questionar a sociedade diante de certos "avanços" que confrontam e afrontam o ser humano em sua estrutura?
Sim, estamos diante de uma época de mudanças e não apenas uma mudança de época como assinalava grande pensador brasileiro. O horizonte do futuro, em seu mistério, é uma grande incógnita.
Agora em toda a Europa e, especialmente, aqui na Itália muito tem se falado de "Testamento biológico". Até que ponto poderemos decidir sobre a nossa própria vida quando tanto fazemos para cuida-la e em tantos lugares ela ainda não é bem amparada? Não são apenas questões éticas. São questões ontológicas e antropológicas sobre as quais a humanidade é interpelada e a Igreja convocada no auxílio à reflexão. Não se trata de uma argumentação de fé. São questões de vida ou morte que se impõe ao homem moderno que não pode prescindir da reflexão filosófica e teológica.
Este é um grande momento da história da humanidade em que se está forjando a identidade do mundo pós-moderno. A proposta cristã de um homem novo, é e sempre será nova. Novo céu e nova terra somente serão possíveis na medida em que o ser humano se descobre como homem pacificado e redimido pelo amor.
Que venham os desafios e que a "Mater Eclesiae" nos interpele. Que para além da novidade, descubramos o novo que muito podemos ser.