16/09/2017 às  10:02

NÃO DEVORE MEU CORAÇÃO no Festival de Brasilia

Dois filmes nacionais que abordam temas distintos, porém, bem atuais


Não Devore Meu Coração – Filme de abertura do 50 Festival de Brasília Do Cinema Brasileiro, dirigido por Felipe Bragança, Brasil/França/Holanda, 2017.

A expectativa é, de fato, a pior das aliadas que podemos carregar para uma sala de cinema. Escrevo isto, pois tinha me encantado com o primeiro longa do diretor carioca: uma espécie de Casa Grande & Senzala contemporânea. 

Uma obra que faz refletirmos acerca da relação entre as classes sociais no Brasil. Porém, o filme de abertura do 50 Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, não é, nem de longe, parelho ao primeiro longa do Felipe: Casa Grande. 

Cerimonia de festival é sempre uma noite à parte: comidinhas e biritinhas no final da sessão;cinema lotado, este, Cine Brasília, com seiscentos acentos e mais alguns , muitos, aos corredores saciando a vontade de ver o filme selecionado de estreia. Pois bem, o filme nos fala de territórios, ou sendo mais específico, a auto intitulação de locais que esbarram-se nas fronteiras entre o longínquo Brasil do Mato Grosso do Sul, com o Paraguai. 

A fronteira é delimitada por um rio, este que vemos durante todo o filme, corpos estendidos, ou melhor, boiando mortos. Os cadáveres eram paraguaios que, do dia pra noite, se viam lá no Rio Apa, como uma espécie de recado para os hermanos de quem mandava naquela área eram os Brazucas. Os pseudo assassinos, já que não se têm cenas de brasileiros matando paraguaios, mas sim o inverso; mas a gangue do MS, leia-se Mato Grosso do Sul, tinha algumas peculiaridades que o diretor e roteirista Felipe, não consegue uma adaptação convencível dos contos de Joca Reiners Terron. 

Temos um exemplo clássico, onde na obra fílmica, uma espécie de líder ou coronel, apelida e só chama seus homens de confiança de meses do ano; O Cauã Reymond era o Dezembro, por exemplo e um outro fulaninho era Setembro, de modo que o filme não explica o porque dos apelidos. 

Paralelo a briga por posse de terra e de Rio Apa, entre a gangue “Mad Max Tupiniquim” e os índios Guaranis paraguaios, existia uma tentativa de romance entre uma índia paraguaia com o irmão mais novo do Cauã, ou do “Dezembro”. Um garoto de treze anos que, sem pai e com uma mãe debilitada psicamente, via como seu único exemplo seu irmão mais velho: um Agroboy metido nas confusões com os hermanos Guaranis do outro lado do lendário Rio Apa. 

É louvável relembrar a sangrenta guerra do Paraguai que assolou aquela região, porém a narrativa, ou a falta de narrativa poderia ser melhor desenvolvida; Obvio que existia poesia na tela, e víamos nossa ancestralidade indígena Guarani sendo contada, porém ainda assim, e por tratar de um filme de abertura em uma data tão emblemática, 50 edições, é que acho que o Festival errou na escolha, principalmente pra quem viu as três horas , ano passado, do longa do Vicent Carelli: Martírio, onde este sim,  víamos e entendíamos a história indígena, e por isso nossa, do nosso continental e amado Brasil.
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    Polícia Federal: A Lei É Para Todos, dirigido por Marcelo Antunez, Brasil, 2017. Antes de começar a escrever sobre o filme, tive o cuidado e a curiosidade em pesquisar em, ao menos seis críticas distintas , para saber se ,de fato, minhas ideias batiam com aqueles que escreveram aos principais jornais do país, e eis que, minha surpresa: todos em unânime acordo, taxaram o filme como Anti-Lulista. 

   É fácil assistir ao filme e afirmar que a operação Lava-Jato veio para destruir o PT, mas não foi, e nem está sendo, bem assim. Como o próprio subtítulo do filme reafirma: A lei é para todos, e foi isso que vi do filme; agora se existiam mais corruptos do PT, então a polícia federal não a mínima culpa disso. 

    Outro fato também discutido na obra fílmica fora os primeiros passos da operação surgirem seis meses antes da campanha presidencial da Dilma, em sua reeleição. Coincidência ou não à parte, estamos falando da maior operação contra a corrupção da História do Brasil de 1500 até os dias de hoje. 

   E o filme começa justamente fazendo este paralelo. Ou seja: contando como se formou a identidade das autoridades brasileiras desde o tempo em que era colônia portuguesa. Sim, até mesmo por ter um único e soberano dono, Portugal, é que tiveram tantas roubalheiras “a torto e a direita”.

   FAzendo uma analogia a Portugal e ao PT, o filme fala em “alto e bom tom”, que o este partido, o PT, não poderia ser , hoje, o nosso Portugal dos tempos de 1500, pois hoje, quem rouba têm de pagar, e isso independente de quem seja: um ex-presidente ( bem interpretado pelo Ary Fontoura), ou um funcionário público corrupto, pois a lei é para todos, ou ao menos deveria ser, e os agentes da PF acreditam, desacreditando nisso, sob a ótica do nosso jeitinho brasileiro e nosso passado corrupto de todo o sempre. 
   
   A operação toma corpo, e nome, quando descobrem cocaína levada em um caminhão numa estrada em São Paulo. As pistas levam a um cara que era dono da mercadoria, que usava postos de gasolina para lavar dinheiro sob as drogas vendidas. A grana era repassada a um doleiro chamado por Alberto Yussef, este que tinha braços de polvo e presença na alta cúpula da Petrobras.

   Prendendo o doleiro Yussef a PF chega a um dirigente da Petrobras que comandava todo o esquema de corrupção da maior roubalheira dos nossos cofre públicos que já se tinham conhecimento ( ate hoje...), que foi, ou ainda é chamado de Petrolão; este que dava de pau em qualquer Mensalão, Mensalinho, Anões do Orçamento, Fiat Elba e outros e quaisquer esquema de desvio de dinheiro público que o Brasil já teve conhecimento. 

   O esquema era, de fato, sofisticado e o Paulo Roberto Costa conta com detalhes como funcionava e dava cifras, inclusive, 51 Bilhões de reais desviados, não milhões, mas bilhões, onde quem paga essa conta não é a PF nem os partidos, mas sim nós: o povo, obviamente.

   Pois bem: com o ex-dirigente da Petrobras, Paulo Roberto Costa, abrindo o berreiro em prol de uma delação premiada ( esta que sabemos que virou moda em Brasília) que oferecia prisão domiciliar ao réu, a PF chega às empreiteiras ( estas , sabemos que eram inúmeras, porém o filme foca-se somente na Odebrecht e o seu Marcelo, por tratar apenas da fase inicial da Lava-Jato) que lucravam cerca de 20% nas diversas obras superfaturadas que o Brasil “necessitava” para crescer nos Governos Lula e Dilma, mas que já acontecia isso bem antes também. 

  Ou seja: é difícil mensurar em qual governo isso começou, talvez até tivéssemos esquemas de obras superfaturadas desde os tempos da ditadura militar, ou antes dela, vai saber. 

    Um filme, com ou sem tendências partidárias, que merece ser conferido para entendermos um pouco mais como formou-se, ao longo da história do Brasil, a cabeça de quem dita as ordens por aqui, desde 1500 até os presentes dias: o tal do jeitinho brasileiro, que já passou da hora de ter um fim para que , um dia, transformarmos este local, bonito por natureza, em um lugar decente, pois a esperança deve ser a última a ser a abatida. 




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