16/12/2020 às 12:13
DETONAUTAS: A MINHA BANDA DE ESTIMAÇÃO ANO 2020, por DIMAS ROQUE
Dimas Roque comenta sobre música, humor e outros temas
Quando eu era mais jovem, e isso já faz bastante tempo, eu ouvi “há dez mil anos atrás” do Raul Seixa. Isto no inicio de 1977. É que mesmo tendo sido lançado em dezembro do ano anterior, as coisas demoravam a chegar em Paulo Afonso na Bahia. E de cara eu me apaixonei por aquele som que depois descobrir ser chamado de Rock´n Roll. Coincidentemente, meu sobrenome “Roque”.
Depois, quando eu ia ao Cine Coliseu no programa das manhãs de domingos, o “Coliseu Show”, vi “Nelsão”, hoje conhecido como Nelson Triunfo, com seu cabelo Black Power, dublando Alice Cooper e mandando ver na dança. Foi assim que eu me apaixonei por esse ritmo ainda mais, que variando ao longo do tempo, traz uma energia que contagia as gerações.
No Brasil, para mim, a melhor banda de rock de todos os tempos ainda continua sendo Casa das Maquinas. Quando ainda ouço os discos, com letras que trazem mensagens que hoje poderiam ser ditas novamente ao grande público, eu me emociono. São os bons tempos da juventude que teima em permanecer, e que nunca desapareça.
Eu gosto muito de algumas bandas de rock dos anos 80. Blitz com sua inocência descarada, Plebe Rude, com seu som que não lhe deixa parado, Paralamas do Sucesso tocando “Vital e sua moto” no Chacrinha, Barão Vermelho e a rebeldia dos cariocas e até Ultraje a Rigor, que endireitou de vez e ficou perdida no limo da história, pois Rock é rebeldia, é contestação. Rock é irreverente e socialista por natureza. O rock não se vende nunca.
Passamos duas décadas ouvindo Titãs, Biquíni Cavadão, e algumas bandas que nos faziam lembrar que tivemos sim, um movimento musical com som e letras de qualidade.
E aí nos aparece o ano 2020, o ano que não deveriam ter acontecido, e para complicar a vida da população, o ritmo que mais se toca nas rádios é o sertanejo com sua melodia única e letras ruins que doem. Mas é o sucesso da atualidade. E para piorar, ainda temos uma pandemia mundial de um novo, agora já duradouro, Coronavírus e todos são obrigados, pelo bem da humanidade, a permanecer dentro de casa. E o que estava ruim musicalmente, potencializou a situação com Lives musicais.
E quando tudo parecia perdido, eis que aparece nas redes sociais a reinvenção do Rock brasileiro com Tico Santa Cruz e os Detonautas. Banda que estava meio que esquecida pelas rádios do país. E de sua militância virtual, o cantor, agora ativista digital, encontrou aquilo que faz uma Banda de Rock ser sucesso, a rebeldia.
No início eles criaram “Carta ao Futuro”, uma linda canção que trouxe uma mensagem rebelde para um público que estava adormecido em suas casas. O Detonautas era a própria Fêniz se reinventando e ocupando um espaço antes vazio. “Hey Micheque” foi uma grande sacada. O assunto estava em pauta e antes que pudesse desaparecer pela velocidade de informações, eles fizeram a pergunta que vale R$ 89.000, 00 (oitenta e nove mil reais). Os Bolsominions espernearam. E não era para menos.
A letra potencializou a pergunta que até hoje não foi respondida. “Mala cheia” acerta um petardo nos pastores corruptos e que enganam seus fieis. Enquanto Tico e sua turma ganhava o coração da turma, eles iam produzindo ainda mais. Para eles, a reclusão foi de fartura musical. Tanto que foram buscar o assunto mais polêmico da eleição de 2018. O “Kit Gay” mereceu voltar aos trending topics. Era a segunda chance para que aqueles que foram enganados pudessem entender o erro que cometeram. E se não fosse pouca a polemica, os integrantes banda apareceram no clip nus.
Enquanto comemorava suas milhões e milhões de visualizações das músicas nas plataformas de streaming, Tico se envolvia em polemicas politicas no Twitter, a rede social que ele está mais presente. Diariamente ele está lá, postando, repostando, defendendo suas posições e, brigando. Quase sempre com pessoas do mesmo campo politico que ele diz estar, a Esquerda.
Tico comete um erro, em minha opinião, que não tem importância nenhuma para o que ele faz ou deixa de fazer. É que ele responde qualquer provocação política. Quase sempre de alguém que “se diz petista” e reclama de algo postado. No PT quem fala pelo Partido é a Presidenta Gleisi Rouffmann. Mas ele responde como se cada um falasse oficialmente. E isto, é um erro.
Detonautas lançou agora a música, “Político de estimação”. E como, mais uma vez, polemica pouca é bobagem para Tico e Detonautas, a letra é forte e muito interessante. É puro rock´n roll. Aí voltamos às provocações que o líder da banda vem se envolvendo nas redes sociais. Já no comecinho do clipe, está lá um adesivo de campanha com a foto do cantor e, uma estrela em referência ao PT. E quando diz “político é para ser cobrado e não idolatrado...”, uma nova referência aparece.
Para os mais desavisados isto poderia passar, mas este não é o caso. Tico usa este mesmo termo constantemente para falar em suas postagens quando se refere aqueles que defendem o ex-presidente Lula como possível candidato a presidente em 2022. O cantor e a banda podem até discordar disso. Mas não dá para, também, pedirem que o PT “saia da frente”.
Seria como concordar com quem acha que é detentor de algo que não tem que é a maioria dos votos da esquerda brasileira. Assim como Detonautas que está fazendo grande sucesso com suas músicas e buscando compartilhamentos, curtidas e visualizações como se fossem votos, os “vermelhos” também devem ter o direito de ser quem são e defenderem suas opiniões.
A letra é muito boa. A música é contagiante. Os Detonautas acertaram nos formatos e formas. Posso discordam de um ou outro momento musical deles, mas no geral, eles salvaram o nosso ano de 2020 com a pandemia que nos obrigou a ficarmos confinados em nossas casas. Tico e sua turma salvaram o ano!
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