Cultura

PAULO DARZÉ GALERIA EXPOs DE HILDEBRANDO DE CASTRO E GUILHERME ALMEIDA

As mostras abrem às 19 horas, e ficam abertas ao público até o dia 1º de junho, de segunda a sexta, das 9 às 19 horas, e sábados das 9 às 13 horas
Tasso Franco ,  Salvador | 24/04/2024 às 12:43
Obra de Guilherme Almeida
Foto: Márcio Lima
    A PAULO DARZÉ GALERIA APRESENTA DUAS EXPOSIÇÕES NO DIA 30 DE ABRIL (terça-feira): Relevos e Pinturas de Hildebrando de Castro e Desfrutar do tambor de Guilherme Almeida. As mostras abrem às 19 horas, e ficam abertas ao público até o dia 1º de junho, de segunda a sexta, das 9 às 19 horas, e sábados das 9 às 13 horas. 

A Paulo Darzé Galeria fica na Rua Chrysippo de Aguiar, nº 8, Corredor da Vitória. Salvador/BA.
tel.: (71) 3267 0930; 9918 6205 – paulodarze@terra.com.br www.paulodarzegaleria.com.br
 
  HILDEBRANDO DE CASTRO 

Iniciando sua trajetória nos anos 70, Hildebrando de Castro é pernambucano, mas vive em São Paulo. Autodidata, cria pinturas que impressionam pelo preciosismo da execução, seja qual for a técnica adotada. Sua primeira exposição individual foi realizada em 1980, no Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, onde apresentou uma série de desenhos figurativos. 

Sentindo-se limitado pelo lápis de cor, o artista migra para o pastel seco, material que adota em seus trabalhos ao longo de 15 anos – até sentir-se outra vez limitado e, em 1999, voltar-se para os estudos com tinta a óleo. Na mesma época, muda-se para Nova York, onde reside por 11 anos e dedica-se ao aprimoramento da técnica de óleo sobre tela, atingindo a mesma precisão com o pastel. Nos anos 1990, sua produção é marcada pela representação de figuras comuns ou excêntricas, dramatizadas e retratadas de forma extravagante. O enquadramento e a luz da fotografia são referência para o desenvolvimento de suas pinturas.

Nos anos 2000, pinta retratos de rostos difusos, paisagens indefinidas e brinquedos sempre um tanto mórbidos. Já a partir de 2010, desenvolve a série Janelas, representações nítidas e geométricas feitas a partir de fotografias de fachadas de prédios repletas de janelas. As pinturas, em acrílica sobre tela, expõem outra vez a fatura minuciosa e o virtuosismo estabelece vínculos com o construtivismo e suas vertentes.  

Grande parte de sua trajetória tem como tema o corpo humano, ou sua fragmentação, com especial relevo para o coração, intercambiado em suas narrativas por elaborações que expressam um falar de uma infância ou de uma vida perversa, com figuras insólitas, até chegar ao urbano, onde a ilusão do real, o jogo de formas e cores, por sua incidência da luz e da sombra, da composição e de combinações, leva-o em alguns momentos a colocar a pintura na tridimensionalidade, apresentando-a como objetos. 

Obra de representação, os trabalhos possuem como base a fotografia. Não uma fotografia tirada a esmo, mas preparada em seu cenário para tal, o que nos leva a estarmos diante de trabalhos, seja figurativo ou geométrico, em não procurar a realidade em si, apesar de estreitamente vinculada ao real, numa arte com origem essencialmente na pintura, arte que começou crítica, irônica, de beleza estranha ao mostrar a banalização da vida e da morte, do prazer e da dor, com uma visão que colocava em primeiro plano as obsessões, os fetiches, as exceções, percorrendo o simbólico, e com um humor bem preciso ao tratar a tudo isto, tendo como temática o que os críticos colocam como procurando representar aspectos eróticos, religiosos, e kitsch.

Entre suas mais importantes exposições, estão individuais no Paço das Artes em São Paulo, em 2009, no Paço Imperial, em 1998, e no Centro Cultural Banco do Brasil, em 1995 (ambos no Rio de Janeiro). Participou de mostras coletivas no Museu de Arte Moderna (de São Paulo e do Rio), no Haus Der Kulturen Der Welt (Alemanha), no Nuremberg Museum (Alemanha), entre outras. 

TEXTO DE BIANCA COUTINHO DIAS PARA EXPOSIÇÃO DE HILDEBRANDO DE CASTRO

 A trajetória múltipla de Hildebrando de Castro encontra solo no desenho e na pintura realista, mas segue em decantação por retratos e cenas cotidianas, chegando na arquitetura e na geometria como um exercício de redução máxima. O fino diálogo do artista – um processo de transformação contínua entre luz e sombra – culmina na exposição Construção. O que se apresenta agora são estruturas que abordam proporção, composição e simetria, mas o sentido conferido às obras é de desmontagem de imagens prontas, em que diferentes experiências do olhar podem ser inscritas.

O olhar do artista se abriu às paisagens arquitetônicas urbanas em uma viagem feita em 1998. Assim ele descreve: “Quando olhei Brasília pela primeira vez, tudo era fascinante e grandioso. Parecia uma cidade futurística perdida no meio do Brasil. Fui hipnotizado pela luz que batia na fachada do prédio do anexo da Câmara dos Deputados, um prédio do Lúcio Costa, todo em tom de ocre que se multiplicava com a luz que batia sobre as persianas de brise-soleil que cobriam toda a fachada do prédio”.

Em Brasília, Hildebrando capturou um enigma que, por anos, atravessou seu trabalho. Agora, os encontros no espaço são revirados e decantados. Esse ponto de partida – e de assombro – é fulcral para o que se revela em Construção: não há encontro no espaço que não seja revirado pelo olhar. Não há luz ou reta que não diga também de um lugar hiperbólico ou de perplexidade. Não há luz sem sombra, e é sobre e sob esta premissa que, na série de pinturas e relevos expostos, o artista utiliza composições geométricas extraídas de recortes da arquitetura e constrói uma obra que, além da representação, cria uma espécie de vertigem entre o bidimensional e o tridimensional.

No encontro com a cidade, as persianas foram fundamentais. Utilizadas nas janelas para regular a luz e a ventilação, eram os elementos de abertura do campo do olhar para os desenhos que se formavam na fachada e refletiam sombras, tons e nuances. O simples movimento de abrir e fechar persianas despertava a dimensão do alumbramento diante de diferentes composições cromáticas. Os tons de ocre e outras variações de cor revelam o que os urbanistas indicam como usos possíveis para o espaço projetado, mas aqueles que o experimentam no dia-a-dia é que os atualizam.

Paola Berenstein, arquiteta e ensaísta que estuda espaços urbanos e corpografias, assinala: “São as apropriações e improvisações dos espaços que legitimam ou não aquilo que foi projetado, ou seja, são essas experiências do espaço pelos habitantes, passantes ou errantes que reinventam esses espaços no seu cotidiano”. Hildebrando de Castro reverbera a tese de Paola, que ensina que, no momento em que a cidade é experimentada, é que esta também se inscreve como ação perceptiva e, desta forma, sobrevive e resiste. Com suas pinturas, ele revela uma geografia afetiva e subjetiva inspirada nas cores dos prédios modernistas de Brasília: ocre, vermelho, amarelo, verde-água, cinzas-azulados e a junção de cores, atravessadas pela luz e por seus recortes e variações.

No livro “A invenção do cotidiano”, Michel de Certeau diz daqueles que experimentam a cidade e fazem resistência ao processo de espetacularização e ao empobrecimento da experiência na contemporaneidade. Os artistas seriam aglutinadores desse exercício radical e errante, necessário para a subversão do olhar, experiência que convoca um caráter corporal e sensorial como bem nos revela Hildebrando em uma fina criação que insiste na particularidade sensível da experiência, à maneira de outros grandes artistas – e aqui podemos citar Helio Oiticica, Cildo Meireles, Gordon Matta-Clark e Michael Wesely,  outros – que olharam, pensaram o espaço, trabalharam com intensidades diversas e criaram, cada um à sua maneira, relevos, texturas, espessuras, presenças e corporeidades múltiplas.
O espaço ressurge pelos olhos e pelo gesto do grande artista, como uma reinvenção da ideia de sujeito e do estatuto da imagem que se presentifica em composição e sinfonia, paisagem e subjetividade, burburinho e silêncio, que pode acontecer pelas frestas, pelo abrir e fechar de uma janela. Hildebrando depura o inefável e faz surgir daí parte da constatação poética de que é a luz quem desenha a sombra. Não há sombra sem luz e, a partir dessa ambiguidade e mistério, o artista nos oferta seu alumbramento e assombro, a cada tela e a cada aparição.

As criações, em estado de decantação máxima e abrigado na poesia das cores, trazem a fineza do registro de uma experiência vívida da cidade, uma espécie de grafia urbana inscrita no próprio corpo do artista e no de quem, através de um trabalho primoroso, também a experimenta. Sua pintura abriga desvios, linhas de fuga, uma micropolítica do olhar que nos convoca a desafiar o imediatismo do excesso de imagens, como propõe Evgen Bavcar ao lembrar que devemos superar a ditadura do visível e, com isso, oferecer a possibilidade do invisível. Segundo Bavcar – um fotógrafo que, mesmo cego, ao capturar as sutilezas da luz, da sombra, dos sons e do silêncio – “há que se dispor a vigiar a noite para que a aurora nos apresente o batismo do inédito, a possibilidade de reinvenção de uma visibilidade outra”. 

Justamente aí reside a complexidade da construção de Hildebrando: um chamado ao que dá vida, e do cotidiano quase nos escapa, mas que pode se dar como acontecimento epifânico, na medida em que nos abrirmos a encontrar o mundo pelas frestas e relevos.
 
GUILHERME ALMEIDA

Nasceu em Salvador (BA), no ano de 2000. É graduando em Artes Plásticas na Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia, e realiza uma obra que é conduzida em narrativas que evidenciam a posição do corpo negro no contexto contemporâneo. Morador do bairro do Uruguai, periferia de Salvador (BA), vive e trabalha em sua cidade natal.
A sua produção recente é influenciada pela vida urbana e pela cultura pop, em especial pelo hip-hop. Desenvolve pinturas e trabalhos tridimensionais em suportes não convencionais como jornal, eucatex e outros refugos. Seu discurso é urgente e firmado no cotidiano produz imagens nas quais o corpo está repleto de poder e autonomia, e tem sua prática nas linguagens da pintura, escultura e instalação, em que por muitas vezes elas dialogam em um só trabalho, fazendo parte de uma geração de artistas que trazem objetos do seu cotidiano para enfatizar dar protagonismo a história, as memorias e a vida do corpo negro usualmente marginalizado na vida e na história da arte. 

Para uma abordagem realista de sua pesquisa o artista se debruça sobre experiência do seu corpo e espaço, fazendo uso de álbuns fotográficos, narrativas, objetos familiares e fazendo questão de trazer personagens reais para fortalecer e divulgar a vida de pessoas afro-brasileiras. Por um lado, sua pesquisa apresenta questões complexas e irônicas com relações de poder e espaço, trazendo personalidades que tiveram e têm sua importância na história nacional e internacional atribuindo devida relevância e atenção, são intelectuais, ativistas e artistas. Por outro, volta seu olhar para os valores da liberdade e beleza de famílias afro-brasileiras, os sonhos das crianças negras e momentos comuns da vida repleta de afeto, amor, conquistas e união. 

Em sua série mais conhecida Destruição dos Mercados, o artista mescla as linguagens e usa jornais para mostrar figuras negras sorrindo, portando dentes de ouro e prata em posição de destaque sobrepondo e cobrindo grande parte das informações e as capas dos jornais, onde em sua maioria das vezes pessoas negras estão em notícias subalternas. Em 2017 passa por oficinas de pintura no Museu de Arte Moderna da Bahia onde começa os seus primeiros trabalhos com pintura e em 2018 começa o Bacharelado em Artes Plásticas na Universidade Federal da Bahia.