Cultura

SEBO BRANDÃO PROMOVE LIQUIDAÇÕES LIVROS RAROS SOBRE O BRASIL E A BAHIA

Sebo vai fechar em breve e está em processo de liquidação
Tasso Franco , da redação em Salvador | 13/04/2024 às 17:58
Fui dar meu adeus ao Sebo Brandão e adquiri dois exemplares raros
Foto: BJÁ
   Os dias estão sendo contados nas pontas dos dedos para o fechamento do sebo Brandão da Rua Ruy Barbosa, 15, centro histórico de Salvador - próximo ao prédio novo da Câmara de Vereadores, rua à esquerda do Hotel Fasano - e milhares de livros estão sendo vendidos a preços de liquidação. Eurico Brandão Jr, filho do fundador do negócio na década de 1960, diz que seu pai também chamado Eurico está com 96 anos de idade, mora em Recife, e não tem mais condições de tocar o negócio.

    Admite que, em breve, o sebo fará uma liquidação da loja da Ruy Barbosa com preços praticamente simbólicos e o que sobrar será levado para São Paulo onde Brandão Jr tem sua loja e pretende continuar na capital paulista. Sem outros herdeiros - a filha Vera que trabalhava com ele faleceu - o sebo após 60 anos de existência fechará a porta. Digo porta porque só há uma porta de acesso e saída da loja, mas, a quantilidade de livros impressiona.

   Eu, que sou cliente da loja há muitos anos e tenho algumas das minhas obras à venda por lá, estive no sebo na última sexta-feira, 12, e adquiri dois livros sobre Salvador antiga, de Geraldo Leal e Arlindo Fragoso, cujo preço normal era de R$260,00 e comprei-os por R$100,00. No momento, o sebo só aceita dinheiro no efetivo ou no pix.

    Há, nesta mesma rua, o Sebo João Brandão, 86 anos, irmão de Eurico, que trabalharam juntos durante muitos anos, porém, estão numa disputa judicial. João não gosta de falar deste assunto e diz que são naturais de Serra Talhada, Pernambuco, e vieram para a Bahia na década de 1960 a convite do então governador Luiz Vaiana Filho, um literato, que já conhecia a atividade de ambos em Recife. "Foi um desafio enorme e estamos no negócio dos livros usados até hoje", comenta.

   João segue com sua loja na Rua Ruy Barbosa, 4, funcionando normalmente e diz que o comércio de usados caiu bastante, sobre diante da pandemia do Covid, mas resiste. Admite, no entanto, que a venda via internet pela Estante Virtual aumentou bastante. o que é um alento. Para quem está nmp negócio como ele há muitos anos e já se aproximando de 90 de idade, a saida é resistir.

   SEBO BRANDÃO

   O sebo mais conhecido, no entanto, foi o Brandão (do Eurico) frequentado por estudiosos da cultura baiana e brasileira há muitos anos e tem um acervo fantástico estimado em 600.000 livros (os da loja e do galpão, em Abrantes, litoral de Camaçari).

   Marco cultural da cidade, o Sebo Brandão está presente nas vidas de estudantes, leitores, pesquisadores, escritores e todos os que têm convivência com os livros em Salvador. Eurico Brandão, o fundador, inclusive reivindicava para si o primeiro uso comercial do termo "sebo" no Brasil — significando venda, compra e troca de livros usados. Bem diferenciado dos sebos portugueses mais antigos chamados de "alfarrabistas" que são a matriz dos brasileiros.