Pouca gente sabe (ou se lembra) que três jogadores sergipanos, no longínquo 1957, integraram o enxuto elenco do Brasil, representado pela Seleção Baiana, na disputa da II Taça O’Higgins, em duas partidas contra o Chile, no estádio Nacional, em Santiago.
Albertino, goleiro, Nelinho, zagueiro de área pela esquerda, e Lia, meia armador, todos pertencentes ao Vitória, foram convocados pelo técnico Pedrinho Rodrigues – na época, também dirigindo o time rubro-negro – para participar daquela jornada de tamanha importância para o futebol nordestino.
Dos três, Agnelo Corrêia dos Santos, o Nelinho, nascido em Propriá, era, na verdade, o que tinha mais prestígio, sendo titular absoluto nos dois jogos diante dos chilenos, formando dupla de zaga com Walder (Fluminense de Feira) e com Henricão (Bahia).
Aos 24 anos e já com experiência, após algumas temporadas no Botafogo (Ba), ele se destacava na equipe do Vitória, que seria, naquele ano, campeão estadual pela terceira vez na era profissional. Em 1960, com fama de melhor zagueiro do Nordeste, teve o passe negociado para o Flamengo. Lá, foi vítima de um boicote, liderado por Jadir (que acabara na reserva com a sua contratação) e o apoio de alguns companheiros.
Apesar disso, ficou na Gávea até o ano seguinte, fazendo 30 jogos –ganhou 17 vezes, empatou quatro e teve nove derrotas – e, no seu já conhecido estádio Nacional, atuando pelo Mengo, foi escolhido, pela mídia de Santiago, como o maior nome do Torneio Hexagonal do Chile.
Voltou para o Vitória e se sagrou bicampeão estadual em 1964 e 1965, transferiu-se para o Galícia, ganhando o título baiano de 1968, regressou, mais uma vez, ao Vitória e encerrou a carreira no Leônico. Craque também fora do campo, exímio alfaiate, Nelinho morreu em Salvador, aos 77 anos, em 4 de maio de 2011.
Titular do Vitória, mas reserva na Seleção Brasileira, Gilberto Trindade, o Albertino, participou apenas do período final da prorrogação do segundo jogo com o Chile, ao substituir Periperi (Fluminense), machucado seriamente por conta da entrada violenta de um desleal adversário.
Com o time recuado, procurando manter o empate de 0 x 0, que lhe garantiria o título, e abalado com a contusão do eficiente Periperi, Albertino acabou marcado por sofrer um gol polêmico – teria havido um toque de mão do ponta direita Musso, não visto pelo juiz Danor Morales, depois do cruzamento de Meléndez e antes da complementação, de cabeça, de Fernández – no finalzinho do tempo extra e que deu a taça aos chilenos.
Boêmio e, embora nascido em Aracaju – em 9 de outubro de 1931 – gabava-se de conhecer, como poucos, as noites de Salvador, notadamente as do centro antigo da cidade. Aos 24 anos, assumiu o gol do Vitória em 1956, após Nadinho, mais tarde campeão da I Taça Brasil, pelo Bahia, ter o passe vendido para o Bangu. Campeão estadual, em 1957, mudou-se, dois anos depois, para o São Paulo, numa fase pré-Morumbi.
Ali, permaneceu durante as temporadas de 1959 (seis jogos), 1960 (30 jogos) e 1961 (dois jogos), sempre à sombra do titular Poy, quando foi negociado para o América, do México, presidido pelo empresário Emílio Azcárraga, proprietário da Televisa, gigante da televisão no país.
Baixinho, mulato, com um corte de cabelo à la Pelé, com um caprichado pimpão, o meia Lia era um grande jogador, armador inteligente e homem de confiança do treinador Pedrinho Rodrigues no Vitória. Na Seleção Brasileira, entretanto, ficou na suplência de Otoney (Bahia), craque de bola e que chegou a entrar, ao lado de Mattos (Vitória), terminada a Taça O’Higgins, numa lista preliminar de convocação da então CBD, para a Copa do Mundo de 1958, na Suécia.
Com passagens pelo Contiguiba e Sergipe, o aracajuano Eliezer Lisboa Santos, descoberto pelo técnico Sotero Monteiro, em meados dos anos 50, veio para Salvador, a fim de defender o Ypiranga.
Posteriormente contratado pelo Vitória, conquistou, ao lado de Nelinho e Albertino, o título estadual de 1957, integrando um ataque matador, que tinha ainda Enaldo, Teotônio, Mattos e Salvador.
Encerrada a carreira, voltou a Aracaju e ingressou na Polícia Civil, como investigador. Diabético, morreu cego, aos 86 anos, em 10 de novembro de 2018, decorrente de uma enfermidade que enfrentou por longos 15 anos. Lia está sepultado no Cemitério São João Batista, na capital sergipana.