Walmir Rosário
14/05/2020 às 11:31
A cada visita técnica realizada pelos confrades é constatada a lentidão na reforma da nova sede da Confraria d’O Berimbau, creditada à pandemia que assola a comunidade internacional, mas com reflexos nem tão negativos em Canavieiras. Para não faltar com a verdade, o prazo máximo dado pelo presidente Zé do Gás para o funcionamento seria o fatídico 31 de março, o que não aconteceu por conta de forças estranhas e ocultas.
Desde 13 de dezembro de 2014, data em que voltou a funcionar em terceira edição, os confrades já foram despejados duas vezes para novos ambientes – no mesmo imóvel – e ainda não podem encomendar os convites da reinauguração por falta de uma data garantida. Culpa das obras, dizem uns, enquanto outros reclamam da letargia do presidente Zé do Gás.
Nos tempos em que era gerido por Neném de Argemiro a Confraria d’O Berimbau gozava de prestígio e tinha um bar inteiro com seus anexos para chamar de seu. Mas como Neném resolveu partir desta pra melhor (?), a vetusta Confraria é obrigada a disputar espaço com uma padaria, que embora do mesmo nome, desfruta de grande influência junto ao proprietário do imóvel. E perdeu para a área industrial da padaria! Um sacrilégio!
Essa notoriedade concedida à atividade panificadora despertou os ciúmes no Secretário Plenipotenciário Gilbertão Mineiro, autor de uma carta aberta aos boêmios canavieirenses repudiando a predominância da padaria sobre refinada instituição etílica. No teor do documento, com toda a propriedade, Gilbertão exortou os confrades à análise da importância de um bar e uma padaria.
Antes mesmo que alguém pedisse a palavra, o portentoso chefe exaltou as propriedades de convivência entre as duas atividades, concluindo que ninguém conhece, mesmo por ouvir dizer, que alguém tivesse feito amizade no ato de comprar pão, biscoitos e bolos. E arrematou uma retórica digna de um sofista de mesa de bar: “Em nossas reuniões sabáticas temos toda uma ritualística, como saudar os confrades com o toque de sino, um ágape de fazer inveja a um monge e degustação de cachaças e cervejas para os cachaceiros que se prezam”.
Dentre as lamentações, Gilbertão alertou os confrades sobre o simples encargo dado a uma padaria, coisa de somenos importância, onde os clientes não fazem "piseiro" e apenas aparecem para comprar pão e outros assessórios. Portanto, no seu entender seria por demais despropositado figurar em local privilegiado. Mas, celeumas à parte, bar e padaria vão ter que conviver com harmonia e independência, como figura na constituição.
Sem querer botar mais lenha na fogueira – que é coisa pra padaria – apenas fiz questão de ressaltar a ostentação histórica da Confraria d’O Berimbau na sociedade etílica, por ser o criador da “Galeota de Ouro”, evento etílico e gastronômico fundado por um grupo de confrades. Até hoje é lembrada a fineza do serviço all inclusive, com variedade de cachaças, cervejas em lata bem gelada e o melhor “churrasquinho de gato” que se tem notícia.
Mas como discursos não levantam paredes, os confrades continuam sem um lugar digno para suas reuniões semanais e o que é pior: sem autorização para funcionar até que a pandemia do Covid-19 resolva deixar os confrades em paz. Enquanto isso, minha recomendação é que até lá ninguém adoeça para que possamos festejar a nova sede com todas as honras e glórias.
Mesmo sem a tão preciosa data de reinauguração, por vias das dúvidas Gilbertão Mineiro já mandou o departamento de marketing criar o convite para submetê-lo à aprovação dos confrades, mesmo sem data impressa. Pouco importa, o que vale mesmo é o fausto cardápio, com torresmos e passarinhas assadas de entrada, uma panela de feijoada e outra de mocofato.
Mesmo sem o estilo de antes, os pratos de sustança – elaborados por um confrade nutricionista – serão mais que suficientes para os confrades se molharem por dentro com os aperitivos quentes e cervejas geladas o quanto bastem para esquecer a rival padaria ao lado.