Enquanto não escolhem um nome para emprestar à ponte que liga o centro de Ilhéus ao bairro do Pontal (zona sul), uma placa de sinalização vertical já ilustra o importante equipamento: Ponte sobre o Rio Cachoeira – extensão 533 metros. O maior questionamento atual é quem emprestará seu nome à ponte, mas acredito ter outro maior: quem terá a hegemonia, o Estado ou o Município?
Pode parecer que o dono da caneta não terá nenhuma importância, o que não corresponde à realidade, pois os homenageados de cada os entes federados podem, e têm interesses diferentes, não combinando com a vontade popular. Afinal, embora seja um equipamento urbano de Ilhéus, a ponte foi construída pelo Governo do Estado da Bahia, que deverá cuidar da manutenção.
E se o Governo da Bahia transferir a responsabilidade dos futuros cuidados com a ponte para o Município de Ilhéus, o nome será apreciado pela Câmara de Vereadores, com projeto enviado pelo prefeito? Pra mim ainda é uma incógnita, e creio que também para muitos ilheenses que gostariam de opinar sobre quem deveria emprestar seu nome ao homenagear um dos velhos sonhos dos ilheenses e demais usuários.
O certo mesmo é que nem todos deveriam saber que naquela área da baía do Pontal quem domina solenemente é o velho rio Cachoeira, conforme está escrito na placa de sinalização. Se já era por direito, agora também será de domínio público. Isso me faz recordar quando o velho rio Cachoeira bebe um pouco mais de água e as vomita na baía, enchendo-a de baronesas.
Os transtornos causados são reais e atrapalham a navegação, não deixando as potentes hélices se movimentarem no entra e sai da baía do Pontal. Se por acaso o velho Cachoeira ouvisse as reclamações não que atitude tomaria, pois nada faz além de cumprir sua caminhada (?) em seu curso, hoje nem tão majestoso como antes, embora nunca tenha deixado de sair de Itapé e chegar a Ilhéus, após receber as águas dos rios Salgado e Colônia com a incumbência de derramá-la no mar de Ilhéus.
Talvez o rio Cachoeira não tenha conseguido o mesmo prestígio desfrutados pelos rios Santana, Itacanoeira, Iguape, Almada, Fundão, Itaípe, mas sempre desempenhou um papel importante na navegação (priscas eras), e na pesca. Onde pescar os robalos das águas salobras de estuários, os pitus mais deliciosos e de fazer inveja às famosas lagostas? No rio Cachoeira, é claro.
Agora, com a placa sinalizadora em cima da ponte, não resta mais dúvidas de que as águas do rio Cachoeira percorre quase metade em seu leito no território ilheense, onde também produz as indesejáveis baronesas que tanto atrapalham o ir e vir dos pescadores e marinheiros. Elas resultam dos esgotos in natura despejados sem qualquer cerimônia nos municípios de Itapé, Itabuna e Ilhéus.
Não fosse a matéria orgânica em abundância e da sentida falta de água corrente de outrora, que faziam deslizar velozmente as canoas de pescadores, areeiros ou simples viajantes. Enquanto o Cachoeira, que ainda alimenta diariamente os ribeirinhos em toda sua extensão e os mais abastados com os refinados pratos de robalos o pitus não for revigorado, a baía do Pontal, qual uma aquarela retratará o verde das baronesas contrastando com o azul de suas águas.
Que a imponente ponte estaiada tenha para o ilheense a mesma relevância do velho rio Cachoeira, importante meio de comunicação para o desbravamento das terras do sem-fim plantadas com os riquíssimos cacaueiros. Urgem a Ilhéus, Itabuna, Itapé, a Bahia, efetuarem o pagamento de suas dívidas históricas com o rio Cachoeira, um dos elementos importante para o desenvolvimento regional.
Mais do que uma magnífica ponte estaiada, o rio Cachoeira merece sua revitalização.