ZédeJesusBarrêto
06/05/2020 às 10:04
Contam os mais velhos da comunidade Jeje-Mahi, que Mãe Runhó, lendária Yalorixá ou Doné do Terreiro do Bogum, costumava acordar pouco antes do alvorecer e, depois de saudar seus Voduns, saía só, no clareio, a andar, rodar pelos quatro cantos de sua roça, fluindo, transubstanciando-se na Natureza. Tanto que, lá pras tantas, sumia, ninguém a via, por mais que a procurassem.
Dizia que estava a perceber o mundo, a respirar o tempo, a saber das coisas, ter ciência do que passava no invisível e o que estava para acontecer do lado de cá desse viver humano. Conversava com as árvores, tocava nas plantas, espiava e catava folhas caídas, cantava baixinho com os pássaros, brincava com os besouros, falava com cobras, borboletas, observava as formigas, sentia os cheiros, os murmúrios que vinham do mar, de longe, lia mensagens nas nuvens passageiras, enchia-se de sabenças e energias.
De repente, sem que ninguém se desse por conta, aparecia fagueira na cozinha a cobrar o de comer, a cuidar das oferendas, dos ritos diários, das liturgias do cargo, do achego aos filhos da casa e dos que a procuravam.
Não era de conversar muito, emanava, ensinava, bastava olhar. Mãe Runhó era parte viva da Mãe Natureza, um Vodum/Orixá/Inquisse, um encantado, entidade, pura sabedoria, divino Axé.
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Mãe Runhó , batizada como Maria Valentina dos Anjos e a quem seus filhos chamavam de Nió, carinhosamente, é um Ente de uma sacrossanta e histórica Bahia. Assumiu o Terreiro do Bogum, consagrado a Sogbó/ Xangô, em 1911. Dizem que até hoje vive e aparece por lá, quando menos se espera, comandando tudo. Encantada.