Esportes
Zé de Jesus Barrêto
12/06/2014 às
10:38
NA VARANDA DA COPA: A bola já está rolando
Agora é tratar bem a bola e esquecer o que foi feito e deixou para depois em termos de infra-estrutura
Sim, já é copa!
A ‘brazuca’, soberana, a rolar pra valer nos gramados. Que seja bem tratada. Agora, o assunto é o futebol jogado em campo. O que foi feito ou deixou-se de fazer é página virada. Com ou sem, sejamos dignos de abrigar uma Copa do Mundo.
Afinal, além do jogo, a copa é um planetário congraçamento de povos, culturas, arte. Magia da bola, ela, o signo do eterno, do que não tem princípio nem fim, brinquedo do Criador, pingo, universo. Ave os deuses (ou deusas?) do futebol. O coração aos pulos, quicando.
O Brasil merece e deve uma bela Copa ao mundo.
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Repasso a mensagem do arcebispo de Salvador, o primaz Dom Murilo Kriegger:
- “ ... de repente, os países se unem em torno de uma bola de futebol. Parece se esqueceram misteriosamente de divergências raciais, de problemas econômicos, de velhas guerras que deixaram feridas e começam a torcer. Se é verdade que a Fifa, por sua atuação, tem sido alvo de críticas, e muitas fundamentadas, não podemos nos esquecer, contudo, da importância de seu papel quando se fala do congraçamento de povos e nações por meio do futebol... Nada ficará melhor, se a realização da Copa for marcada por manifestações violentas. Nada melhorará, se não formos campeões do mundo... Violência gera violência. A violência fere, deixa seqüelas ou, mesmo, mata”.
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- A presidente Dilma decidiu não falar na solenidade oficial da abertura da Copa, em São Paulo, com receio de possíveis manifestações nas arquibancadas, daí fez um pronunciamento à Nação, em rede nacional de rádio e tevê, na noite da terça, quando reafirmou que faremos ‘a maior Copa da história’. Repudiou os pessimistas, exortou os brasileiros à generosidade, disse que o Brasil está preparado ‘dentro e fora de campo’, que manifestações fazem parte da democracia e que mais que ‘gastos’, a Copa nos traz ‘receitas’.
No mais, teceu louvores aos feitos do governo e passou a mensagem de uma Copa pela paz, com diálogo, entendimento e contra o racismo. Por fim, conclamou a Nação: ‘A seleção está acima de governo e de partidos!’ Uau! Um olho na Copa e outro no palanque, nas urnas de outubro, claro. Recado bem dado. Quase um ‘pra frente Brasil!’
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Segundo o noticiário, a presidente deixará na mão a chanceler alemã Angela Merkel, com quem se encontraria na Fonte Nova para ver o jogo Alemanha x Portugal, dia 16. Dia 11, em Salvador, no entanto, ‘inaugura’ o metrô de légua e meia, aquele que virou piada nacional... já se bulindo, pois, nos trilhos, e com uma estação na boca da Fonte Nova. Tudo ainda que meio precário, mas viagens gratuitas durante a Copa, somente a quem tem ingressos para ver os jogos.
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De vera, amo mesmo é o meu Bahia, paixão. Não entendo torcer contra o Brasil, ainda mais numa copa do mundo dentro de casa, por nenhum motivo. Também não coloco nos ombros da seleção, dos atletas brasileiros o fardo das mazelas políticas, da corrupção e dos desmandos no país, que não são de hoje. Sabemos bem a máfia que comanda a Fifa, que está à frente da CBF e dos ‘poderosos’ que manipulam interesses neste grande país.
Mas, sejamos sensatos, Neymar e seus companheiros de time não são responsáveis por isso, como Pelé e os da seleção de 70 não foram responsáveis pelo regime militar nem pelo que acontecia nos porões da ditadura.
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O lúcido ‘garoto’ Neymar disse em recente entrevista:
- Sou totalmente a favor do povo se manifestar, buscar seus direitos. Eu sou do povo, não vim de ouro ou de família rica. Batalhei muito com minha família pra chegar até aqui ... Só não concordo quando povo se manifesta com violência e critica os jogadores. Nos não somos do governo e também buscamos um Brasil melhor.
Que Deus o ilumine.
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Focando na roda do jogo em campo, é claro que a pressão maior por vencer a Copa recai nas costas dos brasileiros, diante de sua torcida. Perdê-la nos atormenta.
Mas a conquista do título pesa também sobre os espanhóis, atuais campeões do mundo, surrados na Copa das Confederações, ano passado, aqui mesmo. Eles vêm com sede, motivadíssimos, querendo provar por que dizemos que na Espanha se joga o melhor futebol do mundo, hoje.
Nossos ‘hermanos’ argentinos também estão sob pressão; afinal, a copa é no ‘quintal do vizinho’ (como eles dizem), possuem uma bela equipe comandada pelo ‘baixinho’ Messi, ‘o melhor do mundo’, diante da grande chance de se consagrar de vez como o melhor de todos os tempos, lá deles, superando Maradona. Basta-lhe o título. E sabemos do quanto ‘la pulga’ é capaz. Além do mais, eles acreditam que têm a ajudá-los as preces do Papa Chico, um iluminado.
E o que dizer da Alemanha, equipe madura, de boa técnica, com atletas de alto nível e taticamente obstinada? Os germânicos são também fortes candidatos à conquista do troféu. Ah, e não esqueçamos a velha Itália de Pirlo, Balotelli, Rossi ... uma escola matreira e de bom futebol. E eles sabem os caminhos, conhecem bem os atalhos dos grandes triunfos.
Por último, os Uruguaios de Forlán e Luis Suarez ... até hoje condenados, penando pelo ‘Maracanazzo’ de 1950, feito uma praga jogada, sob uma pressão de 64 anos sem título. Agora é a vez de ‘esconjurar’ a murrinha, com uma copa tão perto de casa, num ambiente tão bem conhecido. Estão salivando!
Considero ‘zebras’ o Portugal de Cristiano Ronaldo (escolhido pela Fifa o melhor do mundo em 2013), também a Bélgica do goleiro Courtois e o Chile.
Não, não vai ser fácil. Pra ninguém. Sobre alguns ‘grandes’ o peso do titulo é ainda maior.
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Aos heróis de 50
Entendo que a motivação maior que essa equipe de Felipão poderia ter, para ‘dar a vida’ em campo e conquistar o título, seria oferecê-lo em memória aos heróis humilhados e renegados por toda a Nação em 1950, após o ‘fracasso’ na final contra os uruguaios de Máspoli, Gigghia, Schiaffino e Obdúlio Varela. Não, eles não mereceram o escárnio, a condenação perpétua como se fez.
Até porque foram melhores em campo naquela tarde fatídica de 16 de julho de 50 e superiores durante toda a competição. Perderam por 2 x 1, de virada, por pura ‘mala suerte’, o acaso, o imprevisível. Coisas do futebol.
Pois que o bem-aventurado Tiago Silva, o nosso capitão, comande nossa moçada em triunfos até a grande final e venha erguer bem alto o troféu Fifa no novo Maracanã, oferecendo-o aos céus em honra daqueles que ficaram marcados para sempre por uma derrota injusta. A eles: - Barbosa, Augusto e Juvenal; Bauer, Danilo e Bigode; Friaça, Zizinho, Ademir, Jair e Chico. Uma forma de resgate histórico, com o pedido de perdão pela execração estúpida.
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Historiando
Bem, este Brasil de 2014 é bem diferente daquele de 1950, quando perdemos para o Uruguai. Lá, distante, a nossa população nem chegava aos 52 milhões de habitantes; hoje temos mais de 200 milhões de almas. Em 1950, 64% da população era rural, hoje 90% dos brasileiros vivem nas cidades. Passamos da era do rádio, nem tevê tínhamos ainda, para o futurismo das redes (nets), o mundo on line em conexão global, 1,3 bilhões de humanos conectados pelo facebook, três bilhões mirando a telinha da tevê, ao vivo, em detalhes. A bola era de couro e em gomos, costurada a mão; hoje é de material sintético, não molha nem deforma.
Mas já tínhamos em 1950 problemas de energia e racionamento, a seca já nos era madrasta. Se hoje a Fifa proíbe até o uso de tablets, computadores e instrumentos sonoros nos estádios, naqueles tempos proibia a entrada de fogos de artifício, garrafas e laranjas, que os torcedores costumavam atirar em campo. O Maracanã, àquela época o ‘maior do mundo’, só foi entregue e inaugurado uma semana antes do início da competição, ainda com andaimes das obras inacabadas á vista. A Fonte Nova não ficou pronta, a Bahia ficou de fora.
Só de sarro, lembremos que, na política, 1950 era ano eleitoral e o general-presidente Eurico Dutra estava à voltas com a sucessão e com o ‘queremismo’ do povo a clamar pela volta de Getúlio, enfim eleito. Agora, a presidente-candidata Dilma, derrapando nas pesquisas e na aceitação popular, vê sua reeleição ameaçada e uma banda dos seus ‘companheiros’ acenando com o ‘volta Lula’. Meras coincidências ...
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Recapitulemos os capitães do penta e suas respectivas posturas como líderes em campo: Beline, na Suécia, em 1958 – respeito; Mauro, em 1962, no Chile – elegância; Carlos Alberto Torres, em 1970, México – carisma; Dunga, em 1994, nos EUA – firmeza; Cafu, em 2002, copa da Coréia/Japão – camaradagem.
Qual será o estilo Tiago Silva?
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Recomendamos
- A abertura da Copa na tarde desta quinta, dia 12, no Itaquerão, em São Paulo. Após a cerimônia, o primeiro jogo: Brasil x Croácia. Antevemos uma partida nervosa, de marcação pegada no meio campo. Os croatas não são bobos, carregam a tradição do bom futebol jogado na antiga Iugoslávia. De olho no meia Modric, que atua no Real Madrid, um craque de bola. Na estréia, é preciso vencer para ganhar confiança e embalar. O torcedor paulistano, que costuma vaiar até um minuto de silêncio, precisa apoiar, jogar junto.
- No dia seguinte, sexta-feira, 13 de junho, festejos para Santo Antonio, jogam na Fonte Nova, em Salvador Espanha x Holanda, clássico europeu que foi a final da Copa da África do Sul, há quatro anos, vencida pelos espanhóis. Em campo, os baianos verão astros de primeira grandeza, como Xavi, Iniesta, Piquet, Sérgio Ramos, Xabi Alonso e o brasileiro Diego Costa com a camisa ‘roja’ campeã do mundo. Do outro lado, os ‘laranjas’ holandeses Robben, Sneijder, Van Persie ... Jogão de bola, dos melhores de todo o torneio!
Nas arquibancadas, a promessa de uma invasão holandesa para contrabalançar a numerosa e vibrante colônia espanhola que vive na Bahia. Casa cheia.
- No dia 14, sábado, tem o clássico Inglaterra x Itália, no abafamento de Manaus; e no dia 16, segunda-feira à tarde, novamente em Salvador, outro grande clássico europeu : Alemanha x Portugal, todos os ingressos já vendidos, com a presença do ‘gajo’ melhor do mundo Cristiano Ronaldo e do timaço alemão de Neuer, Schweinsteiger, Ozil, Gotze, Muller, Podolski... A baianada em festa.
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Flashes:
- Incrível as imagens dos alemães, hospedados em Santa Cruz de Cabrália, interagindo com um grupo de remanescentes indígenas Pataxó da região sul da Bahia. Belo ‘choque’ de civilizações.
Muitos jogadores da delegação alemã apareceram vestidos com a camisa do Bahia e alguns até aprenderam a cantar o hino famoso do professor Adroaldo Ribeiro Costa, composto para a torcida do tricolor baiano na primeira metade dos anos 1950.
- Inacreditável a façanha do torcedor Bernardus Kamphuis, o holandês ‘Ben’, 53 anos, que veio de San Francisco, na Califórnia, onde mora, até Salvador, dirigindo a sua ‘Nellie’, uma picape Chevrolet/59 toda emperiquitada de vermelho-laranja e signos, bandeirolas, desenhos... Mais de 20 mil km percorridos, a partir dos EUA, passando por México, Guatemala, El Salvador, Hunduras, Nicarágua, Costa Rica, Panamá, Colômbia, Equador, Perú e Brasil, entrando pelo Acre – Amazonas, Rondônia, Mato Grosso, Goiás e Bahia. Está em Salvador, na Praia do Forte, para ver e torcer por sua Holanda. Pretende ir ao Rio e a São Paulo, Santos. Inusitado.
- Numa vistoria de última hora, as condições do gramado de alguns estádios-arena preocupam os homens da Fifa, como os de Manaus, Cuiabá, Porto Alegre, Cuiabá, Iataquerão, Brasília e Natal... O da Fonte Nova, em Salvador, está entre os melhores do país.
- No mais, a acolhida que o nosso povo mais simples tem dado às delegações que nos visitam, de norte a sul, é digna de admiração e reconhecimentos. Hospitalidade. Brasileiros somos... assim. Amém.
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PS: - Atenção, cuidado! De 12 até o dia 26 de junho teremos jogos todos os dias, no mínimo três por dia. Algumas partidas boas, com boas equipes, e muitas outras fracas, chatas mas ‘imperdíveis’ para os fanáticos por futebol, aqueles que querem ver todos os jogos. Afinal, é Copa do Mundo.
Cautela! Há risco de se ficar empapuçado de bola, a overdose de futebol pode afetar o cérebro.
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