Esportes
Zé de Jesus Barrêto
17/04/2014 às
12:25
NA VARANDA DA COPA e a eleição para Dilma
Não é que o resultado em campo vá influenciar decisivamente na eleição desse ou daquele, mas ajuda.
Resenhando:
Estamos a menos de dois meses do começo da Copa.
- E nunca uma Copa do Mundo de futebol se acoplou tanto a uma eleição, e vice-versa, como essa de 2014 que acontece em junho/julho no Brasil. Quando se fala em Copa logo se pensa na eleição, que acontece três meses depois. Quando se discute a eleição é obrigatória a menção da copa. O evento esportivo da FIFA, que exigiu muito dinheiro e envolvimento do governo e dos políticos de plantão, acontece em plena campanha para presidente da República e governadores de estados. Clima de demandas, muita cobrança e muito tititi, jogo de poderes.
Não é que o resultado em campo vá influenciar decisivamente na eleição desse ou daquele, mas ajuda. Um Brasil campeão muda o astral, eleva a auto-estima popular e pode ser um fator positivo, se bem usado eleitoralmente por marqueteiros traquejados. Mas não esqueçamos que em 2002 o Brasil ganhou o título e o partido que governava perdeu as eleições. Já em 2006 e 20010 a seleção brasileira decepcionou em campo e o partido do poder venceu as duas eleições. Mas este ano é diferente, o jogo é em casa.
Claro, o êxito ou fracasso do time brasileiro em campo é um baita problema do Felipão e do Parreira. Os dois estão mamando uma baba de fortuna pra montar uma equipe vitoriosa e ganhar o caneco. Virem-se. A gente torce.
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O problema maior, para os políticos, é fora dos gramados, nas ruas, outra copa. Pelas redes sociais sabemos que acontecerão manifestações nas cidades onde a bola rola. Mais ou menos agressivas, vai depender do grau da repressão. As reivindicações são previsíveis: contra a corrupção, os políticos que não nos representam, os péssimos serviços públicos oferecidos, os gastos absurdos com as ‘arenas’ para a Copa, a falta de segurança, de transportes urbanos decentes, de educação de qualidade, de uma saúde padrão Fifa... Justas, sabemos.
Haverá confronto com as forças de segurança... em que nível? Como isso tudo, o imprevisível, vai respingar no governo e nas candidaturas postas?
Certo é que a inquietude das ruas pode e vai fazer estragos, direcionar campanhas e influenciar votos Brasil afora, ah, isso vai sim. E já tem muita gente queimando a mufa pensando nisso, preocupada... ah, isso tem sim. Que será, que será ?
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- A visibilidade planetária da Copa, como já se sabe, e por exemplo, será usada como fator de pressão para que 16 categorias de trabalhadores, representadas por seus respectivos sindicatos de classe, negociem reajustes salariais e outros benefícios. São cerca de 4 milhões de trabalhadores acobertados por seis centrais sindicais preparando manifestações: construção civil, indústria de bebidas e de alimentos, transportes, hotelaria ... Vixe! Slogan fechado: ‘Salários e direitos no padrão FIFA!’ Tem acordo ?
Isso... fora as surpresas, os avulsos, os arruaceiros de costume que adoram badernar, quebrar, atear fogo, tocar terror...
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- Por outro lado, o governo brasileiro está mobilizando o maior efetivo de segurança da história de todas as Copas do Mundo. São dados oficiais: estão a postos 170 mil agentes, entre policiais militares e civis, militares das forças armadas e de segurança privada. Esses efetivos representam um número 22% maior do que o disponibilizado na África do Sul. Fala-se em investimentos acima de R$ 2 bilhões, só para garantir a segurança na Copa. Tranquilidade à vista, pois não ?
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- “A Lei Geral da Copa é inconstitucional. O governo brasileiro praticamente vendeu a alma para trazer a Copa. E no momento que vende a alma, assina qualquer coisa". O pensamento é do jurista Alberto Camelier, mestre e doutor pela Universidade de São Paulo (USP). Para ele, a Lei Geral da Copa cria um Estado de Exceção e uma jurisprudência perigosa; além disso, beneficia a FIFA em detrimento de comerciantes e até mesmo da população brasileira.
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- Na área das transmissões televisivas para o mundo, o canal SporTV quer a dianteira e está escalando um timaço de comentaristas, alguns ex-jogadores famosos como os alemães Beckenbauer e Lothar Matthaus, o italiano Cannavaro e o argentino Maradona. Entram em campo para ganhar o jogo da comunicação.
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- Muito se fala sobre seleções que eram melhores, em copas passadas, mas não venceram . E cita-se o Brasil de 1950, de Bauer, Danilo, Ademir, Zizinho, Jair da Rosa Pinto... que, jogando em casa, foi derrotado na final pelo Uruguai. A notável Hungria de Puskas, Kocsis, Hidegkuti, Czibor, Bozsik... engolida pela Alemanha em 1954, na Suíça. O ‘corrossel holandes’ ou ‘laranja mecânica’ de Krol, Rep, Neeskens, Van Hanegem, Cruijff ... que encantou mas foi surpreendido pela Alemanha, na final de 1974. Ou o Brasil de Telê Santana, de Leandro, Júnior, Oscar, Zico, Cerezzo, Sòcrates... que foi detonado tolamente por três gols do italiano Paolo Rossi, em 1982, no desastre do Sarriá, em Barcelona.
- Fica a lição de que nem sempre ganha o que se acha melhor, sobretudo em torneios de tiro curto como uma copa do mundo. Até porque, pensando bem, os vencedores não eram tão inferiores como se diz e conta. Vejamos: O Uruguai de 50 tinha um goleiraço, Máspoli, e mais o mito Obdúlio Varela, Giggia, Schiaffino, Julio Perez ... era um timaço. A Alemanha de 54, além de uma disciplina tática exemplar, tinha um tal de Fritz Walter, camisa 10, e mais Schafer, Rahn , que jogavam muito. Já a Alemanha que venceu a Holanda em Munique/ 74, num jogo épico, até hoje é uma equipe escalada de cor pelos germânicos: Maier no gol, os laterais Vogts e Breitner, o fenomenal Beckenbauer, Overath, Muller, Grabowski... uma grandiosa equipe. Também a Itália que derrubou a equipe dos sonhos de 82, o Brasil de Telê, não era só o sortudo Rossi. Tinha ainda Zoff, Gentile, Scirea, Tardelli, Conti, Antognioni... e o treinador Enzo Bearzot no banco. Não era fácil.
- Nessa Copa de 2014, no Brasil, teremos uma boa equipe, sem dúvida, bem treinada, aprovada na Copa das Confederações e tal e coisa, alguns craques, mas nos confrontaremos com grandes adversários, capazes sim de nos derrubar. Cito a Espanha, Alemanha, Argentina, Itália ... que estão entre as favoritas, ao lado do Brasil.
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Historiando
- A Copa de 1938 aconteceu na França de Jules Rimet, o presidente da FIFA, a despeito da disputa entre a Argentina e a Alemanha de Hitler, que já tinha abrigado as Olimpíadas de 36 e queria tudo, inclusive subjugar toda a Europa ao nazismo.
- O Brasil foi o único país sulamericano a participar da Copa 38. Os argentinos, preteridos na decisão de abrigar o torneio, zangaram-se e lá não foram. Os Uruguaios, ressabiados com os europeus, também ausentes. Em compensação, Cuba, a pequena ilha do Caribe onde pouco se jogava futebol, marcou presença, o primeiro pais da América Central a disputar uma copa.
- Três países europeus, onde se praticava um belo futebol, também ficaram de fora: A Inglaterra, por birra, ainda, com a FIFA. A Áustria, que a três meses da competição, foi anexada pela Alemanha nazista e teve seus melhores atletas convocados, na tora, para defender a seleção alemã. Em consequência disso, um dos melhores jogadores austríacos na época, o ídolo Mathias SIndelar, desgostoso, suicidou-se. Por último, também a Espanha ficou de fora do torneio, por causa da guerra civil que começou em 1937 e que levou o ditador Franco ao poder. A direita fascista espalhava-se como um manto de horror pela Europa.
- Num quadro assim, a Itália fascista de Benito Mussolini sagrou-se bicampeã, com um bom time e muitas regalias bancadas pelo ditador. O melhor jogador italiano na época era o manhoso atacante Piola, um mito.
- O Brasil fazia sua primeira Copa do Mundo com o que tinha de melhor, sanadas as demandas entre paulistas, cariocas e CBF. Jogaram na Copa da França o lendário goleiro Batatais, o ‘divino’ zagueiro Domingos da Guia, Patesko, o ‘canhão’ Perácio, Romeu, o driblador Tim e a maravilha negra Leônidas da Silva, o craque da Copa, artilheiro do torneio com 7 gols, chamado de ‘o homem de borracha’, e de ‘diamante negro’ (tornou-se nome de um chocolate lançado pela Lacta e que existe até hoje) . Teria sido o inventor da bicicleta, um dos mais belos e acrobáticos lances do futebol. Foi o Pelé da época.
- A seleção brasileira ganhou da Polônia (6 x 5 ), da Thecoslováquia ( 1 x 1 e 2 x 1 ), mas caiu diante da Itália (1 x 2, sem Batatais e sem Leônidas da Silva, machucados. Os italianos reconheceram que os desfalques brasileiros ajudaram bastante. Leônidas era um temor. O Brasil ficou em terceiro lugar, depois de vencer a Suécia (4 x 2) , com 2 gols de Leônidas.
- O Brasil 6 x 5 Polônia, jogo emocionante e duríssimo, ríspido, foi o primeiro a ser transmitido ao vivo pelo rádio para o Brasil, na voz do locutor Gagliano Neto, de pé, à beira do gramado.
- O Brasil de 1938 vivia sob a ditadura direitista do Estado Novo, decretada por Getúlio Vargas um ano antes, um regime de exceção, as liberdades individuais tolhidas. O país tinha pouco mais de 44 milhões de habitantes e mais 70% da população viviam no meio rural. Nem existia ainda o salário mínimo, instituído no dia 1º de maio de 1940, plena guerra mundial. Carmem Miranda vivia o auge, era melhor cantora do país e os fãs choravam ainda a morte do grande compositor Noel Rosa, por tuberculose, em maio de 1937, aos 27 anos.
- A Segunda Grande Guerra Mundial (1939 a 1945) suspendeu o calendário da FIFA. A destruição da Europa e da economia mundial só permitiu que a competição voltasse em 1950, e ela foi realizada no Brasil.
• Zedejesusbarreto é jornalista e escrevinhador, baiano.
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