Crônicas
Jolivaldo Freitas
04/03/2019 às  12:31

Comer, beber, beijar e mijar assim é o Carnaval

A maratona é longa e direitos dos cidadãos normais são desrespeitados


Carnaval sempre foi assim desde quando era época da Antiguidade, lá da Grécia, Roma, Mesopotâmia e dizem que até na China e desde quando se dizia em latim, carnis levale, que é a mesma coisa que tire a carne da reta, brincadeira, pois era relativo ao jejum e outros prazeres que o pessoal da Igreja Católica queria porque queria, como se fossem a ministra Damares, enquadrar a festa e tomar conta da vida dos outros sem cuidar da sua.

A Babilônia, sim, sabia fazer festa de Carnaval que eram as Saceias. Imagine que lá um prisioneiro podia tomar o lugar do Rei por uns dias, beber, comer, fornicar, beijar, mandar. Chato era que depois da festa ele era chicoteado, empalado e enforcado. Parecendo assim, como cara casado quando volta para casa na quarta-feira de cinzas. Nos dias anteriores ao equinócio de primavera na parte de cima do antigo Mapa Mundi, também o rei era surrado, para aprender a ter mais humildade. E isso virava uma festa.

Então à essa altura já deu para entender que Carnaval é feito para que a ordem seja subvertida. Sair do senso comum. Enfiar o pé na jaca. Cair de boca. Botar para lascar. Lascar em banda. Quem bem sabia disso eram os romanos com suas Saturnálias e as Lupercálias. Festas – que como dizem os repórteres de TV ao vivo – não tinha dia nem hora para acabar. 

Pura esbórnia, parecendo a grande saída, depois do esquenta, do bloco Filhos da Pauta News, que juntou jornalistas no Furdunço e foi coisa de nunca mais esquecer. Meninas lindas, meninos lindos, todos lindos, confraternização, sem juízo, com juízo “olha o tiro” e o gosto permanente de alegria na boca. Fui até padrinho e Camila Marinho madrinha. Querer mais o quê? Nem a Santa Inquisição segurava.

Já no século XI os homens se vestiam de mulher, embora você ache que é coisa de hoje. Invadia-se as casas e roubava-se beijos das moças e das casadas e nem adiantava o #nãoénão. Nem os mortos escapavam das brincadeiras. No período do Renascimento foi que em Veneza se viu surgir a festa mais ampla onde ninguém era de ninguém e o porre uma filosofia. Muita máscara, muita música, muita pegação. E você pensando que é coisa de hoje.

Até mijar em qualquer lugar tanto valia em Roma, na Grécia ou na Conchichina. Por aqui então... Lembro de carnavais no nosso centro da cidade, onde havia lugar certo para fazer xixi: Beco da Ribeira, Beco Maria Paz, no muro do Instituto Feminino no Politeama, embaixo do viaduto do Politeama, no Rosário, na Ladeira da Preguiça, na Ladeira da Misericórdia, na Ladeira da Conceição, na de Santa Teresa, na Ladeira dos Aflitos, na Rua do Tesouro, na Ladeira da Praça, embaixo do Viaduto da Sé, na rua da Bandeira e se não desse para esperar os amigos faziam uma roda e ali mesmo no meio do povo, atrás do trio, no meio do asfalto o rapaz ou a moça se aliviava. E havia um acordo tácito de ninguém olhar.

Em 2014 vereadores de Salvador decidiram tomar conta do xixi e fizeram uma lei para multar que urinasse na rua. Claro que não pegou. Mas, desta vez o mijo está liberado, disse a Secretaria Municipal de Ordem Pública. E disse que pode até fazer o número dois que está tudo liberado pois não haverá ação neste Carnaval. È que não tem número suficiente de fiscais para tomar conta das coisas dos outros.

Enquanto isso, chegou o Carnaval e os moradores da Graça e Ladeira da Barra começam a fugir dos bairros, mais que venezuelano de Nicolás Maduro, pois a Semop, a Prefeitura, não consegue com que os trios que ficam estacionados no terreno da Feira da Fraternidade respeitem a Zona de Silêncio. Mas, como eu disse antes, Carnaval foi feiro para subverter.


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